Eckhart Vida (Eckhart)

Mestre Eckhart — Termos e Noções
Vida
Excertos de Giuseppe Faggin — Meister Eckhart e a mística medieval alemã

Deus é vida e Espírito, e o que o sei recebe dele, nele é vida. A tese esse est Deus que em Tomás inclinava-se a imobilizar Deus fora do “ser formal das criaturas”: o ser é Deus, concebido como existente em si “fora de Deus” por efeito da criação, adquire em Eckhart outro significado, pois o esse é despojado de seu caráter estático e identificado com o Espírito criador, com a atividade absoluta e com a Vida. O ser deve, por conseguinte, entender-se como auto-manifestação e processo, como Unidade fecunda que se desenvolve perenemente. O eterno processo do Absoluto encontra seu símbolo e ao mesmo tempo sua exemplificação no ato do pensamento: o intelecto, uno em si mesmo e inesgotável, não é tal senão quando se desdobra nos múltiplos atos do pensamento, nas intelecções e nas intuições determinadas, para expressar-se, finalmente, na palavra sonora. O intelecto não deixa de ser o manancial dos pensamentos ainda que não se resuma nas palavras; mas não é intelecto se não se articula em seu logos interior e neste não se reconhece a si mesmo. Por outro lado, as expressões sensíveis são sons vazios se se consideram em si mesmas, fora do ato intelectivo e não têm significado senão como revelação do espírito. A palavra então não adquire seu ser verdadeiro senão no intelecto eo intelecto constitui o ser e a vida das palavras, mas não se pode dizer que a atividade do espírito pensante se esgote em cada palavra e se identifique com esta, ainda que intelecto, pensamento e palavras formem um só mundo noético que tem seu centro no intelecto, como em sua fonte criadora. Também para Eckhart, como para Boaventura, o universo pode ser comparado a um “belíssimo canto”. Toda a concepção eckhartiana pode compreender-se realmente em função da comparação anterior, só com a condição de que seus conceitos se entendam no sentido lógico e não ontológico. Daqui deriva um idealismo teológico cristão que se propõe encontrar no dogma sua base ortodoxa e que facilmente pode parecer a antecipação do idealismo moderno.

A vida de Deus é a Vida de um Eu infinito, eterno, onicompreensivo, que se pensa a si mesmo através do seu próprio verbo e que em seu próprio pensamento compreende toda a realidade; sua íntima dialética é um expressar-se e revelar-se que sai de si para retornar a si mesmo, é um Verbo inexpressável no seu interior, porque é inesgotável nas manifestações expressas em que constantemente se revela. O dogma da Trindade se converte para Eckhart na mais apropriada imagem deste ritmo interior rumo ao Absoluto: a ele recorre como ao mais sagrado fundamento de sua fé cristã. Está convencido de que encontrará nele a justificação plena de sua especulação e a confirmação da própria Revelação. Mas seu contínuo apelar à tradição evangélica, e sobretudo ao Evangelho de João, não impede que Eckhart, mais que ser submisso ao dogma da trina deitas e pregar a própria dialética à impenetrabilidade do mistério, trate o dogma segundo as exigências de sua metafísica e nesta assinale, sem reservas teológicas, a revelação da Natureza divina. Para uma mente superficial sua reconstrução do dogma trinitário poderá parecer autêntica e ortodoxa e renovar os esforços teológicos de um Agostinho ou de um Anselmo. E, com efeito, Eckhart não participa nunca de nenhuma das clássicas heresias trinitárias que a Igreja pôde localizar e condenar com facilidade. Sua atitude especulativa frente ao dogma, que o apressava com rigorosa coerência a conclusões decidida e exclusivamente filosóficas, era bem mais não ortodoxa.


Traduções em francês
Gwendoline Jarczyk e Pierre-Jean Labarrière
VIDA — LEBEN

  • SERMÃO VI
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  • SERMÃO XXV
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