Eckhart Sermão 6 (comentário)

Ancelt-Hustache

Já estamos suficientemente familiarizados com o pensamento de Eckhart para que os parágrafos iniciais do sermão não nos surpreendam mais. Justos são aqueles que dão a cada um o que lhe é devido. Aqueles que estão totalmente desapegados de si mesmos e de todas as coisas, que não buscam nem a santidade, nem a recompensa, nem o reino celestial, dão honra a Deus. Esse desenvolvimento foi mantido pelas duas acusações e condenado na Bula, artigo 8.

Mestre Eckhart exulta de admiração porque podemos dar alegria aos anjos e aos santos, ao próprio Deus, como se essa fosse sua bem-aventurança. “Se quiséssemos servir a Deus por nenhuma outra razão que não fosse a grande alegria que vem àqueles que estão na vida eterna, e ao próprio Deus, poderíamos fazê-lo de bom grado e com todo o nosso zelo.”

Depois de falar sobre o que o homem justo dá, Eckhart agora trata da maneira pela qual o homem justo recebe. Para ele, não há jogo de segundas causas: tudo o que acontece ao homem é enviado a ele por Deus, seja qual for o intermediário. Tudo deve, portanto, ser recebido como vindo de Deus, alienando absolutamente a vontade do indivíduo.

Em seguida, vem uma suposição absurda, um falso problema: se Deus não fosse justo, Eckhart tomaria o partido da justiça contra Deus, mas ele sabe muito bem que Deus e a justiça são inseparáveis. Ele nos disse no Livro da Divina Consolação que a justiça é dada do alto ao homem justo: ele é justo como um filho da Justiça.

Nada é mais doloroso para o homem justo do que “não ser o mesmo em todas as coisas”, sendo essa mudança de atitude, de acordo com os acontecimentos, uma violação do dever de justiça para com Deus. Eckhart dá tanta importância a esse ponto da doutrina que acrescenta: “Quem entende o ensinamento sobre a Justiça e o justo entende tudo o que eu digo”. Trata-se, de fato, do relacionamento íntimo do homem com Deus em absoluta e alegre submissão à sua vontade.

A primeira acusação já havia citado alguns textos desse sermão, mas é sobretudo a segunda lista que multiplica as queixas e as torna mais precisas. Os artigos 36 a 40 foram extraídos dela. Lemos na tradução latina: “O Pai gera seu Filho na alma da mesma forma que o gera na eternidade, e não de outra forma. O Pai realiza uma única obra, por isso me realiza como seu Filho, sem nenhuma diferença”. A Bula sancionará esse ponto de doutrina como uma proposição suspeita, artigo 22. Da mesma forma, a comparação do homem transformado em Deus com o pão transformado no corpo do Senhor será condenada pela Bula, artigo 10.

“Eu estava me perguntando recentemente se eu queria receber ou desejar algo de Deus. Vou pensar nisso com cuidado, porque se eu recebesse algo de Deus, eu estaria abaixo de Deus como um servo e ele, ao dar, como um mestre. Não devemos ser assim na vida eterna”. (Segunda acusação, 40. Bula, artigo g.)

O final do sermão retoma a questão tão frequentemente discutida sobre a prioridade do intelecto ou da vontade.

Para concluir, o pregador retorna à sua imagem favorita do fogo, que transforma em si mesmo o que é trazido a ele. Deus faz o mesmo: ele assimila a alma ao seu próprio ser.