Eckhart Sermão 3 (comentário)

Ancelet-Hustache

No Sermão 3, há uma discussão mais aprofundada sobre o conhecimento e a vontade que unem a alma a Deus.

Como Josef Quint aponta, Eckhart geralmente usa um dos termos verstantnisse (bekantnisse), vernünfticheit (vernunft), que têm um significado semelhante, quando quer contrastá-los com a vontade. No início do Sermão 3, por outro lado, ele atribui um papel diferente a bekantnisse (conhecimento) e vernünfticheit (intelecto). O conhecimento faz o avanço, corre para frente, leva o intelecto ao ser puro, ou seja, ao Deus sem véu, a Deidade. O conhecimento (bekantnisse) é uma princesa”, diz o pregador um pouco mais adiante, parecendo identificá-lo com o intelecto, uma vez que aqui atribui somente ao conhecimento (bekantnisse) os papéis que havia compartilhado anteriormente entre o conhecimento (fazendo o avanço) e o intelecto (encontrando Deus sem véu). E como se lamentasse ter dado à vontade um lugar muito pequeno, Eckhart acrescenta: “… ele (o conhecimento) então diz a seu companheiro, a vontade, aquilo de que tomou posse, embora já tivesse a vontade de antemão, pois o que eu quero, eu procuro…”.

Apesar de algumas oscilações nos termos, o pensamento de Eckhart permanece legível: é o conhecimento que toma posse da unidade de Deus, não a vontade.

Os mestres ensinam que o anjo está mais próximo de Deus (anjo significa aquele que leva uma mensagem), e é por isso que é enviado à alma para trazê-la de volta à “primeira imagem”, a imagem original, Deus, onde todas as coisas são uma.

Algumas linhas adiante, Eckhart insiste nessa união: a alma é estabelecida na primeira pureza, na impressão da essência pura, onde ela saboreia Deus antes que ele assuma a verdade ou a cognoscibilidade…, ou seja, sem seus atributos: Sabedoria, Justiça, Bondade e outros, mas onde ele é “diû gotheit”, a Divindade.

Um parágrafo do sermão estabelece uma espécie de controvérsia entre “os mestres”, que pensam que o conhecimento adquirido aqui embaixo permanecerá na eternidade, e São Paulo, que o nega; mas, pensa Eckhart, mesmo que esse conhecimento permaneça, será como um tolo (torinne), comparado à pura verdade que será entregue lá, porque tudo o que vemos aqui sujeito a mudanças será lá imutável e próximo, presente e fora do tempo.

Uma frase em Nunc scio vere… atraiu a ira dos censores de Colônia (Segunda acusação). Eles traduziram uma frase que ocorre duas vezes em nosso sermão da seguinte forma: Omne quod est, hoc est deus (tudo o que é é Deus), o que faz com que soe nitidamente panteísta, enquanto o original — swaz in gote ist, daz ist got — (tudo o que está em Deus é Deus) não oferece nada mais do que um lugar-comum do escolasticismo. E, diz Josef Quint, a tradição do manuscrito é unânime em ambas as citações. Essa é mais uma prova de como os ataques a Mestre Eckhart foram realizados.