Mestre Eckhart — Termos e Noções
Traduções em francês
Jeanne Ancelet-Hustache
Só nos resta um único texto do Opus propositionum: “Esse este Deus”. O ser é Deus. Nenhum nome não convém a Deus: “Eu sou quem eu sou”. Com mais razão nenhum predicado não poderia ser aditado ao melhor termo do qual possamos defini-lo: “esse”. “Deus não é nem bom nem melhor nem o melhor. Aquele que diria que Deus é bom falaria também mal dele como se dissesse que o sol é negro” SERMÃO IX. A atitude preferível vis-a-vis de Deus seria guardar o silêncio, o que não impediria Mestre Eckhart de nos falar incansavelmente dele.
Eckhart denomina Deus (got) enquanto Deus trinitário e Deus criador. “Alem” da difusão das três Pessoas e da difusão das criaturas, emprega para designá-lo um termo que encontramos frequentemente e que só se encontra nos textos alemães: gotheit, Deidade. É a essência divina, o princípio de todas as coisas, o fundo original (grunt), o deserto, o Uno sem nome e sem modo. Neste “fundo” se situam as “ideias” no sentido platônico, os arquétipos, ou, para empregar a linguagem de Eckhart, as “imagens” de todas as criaturas. Segundo o ensinamento escolástico, as “ideias” não são em Deus diferentes de Deus. “Quando dizemos que todas as coisas estão em Deus, entendemos que, assim como está em sua natureza sem alguma distinção, e no entanto absolutamente distinto de todas as coisas, assim também nele todas as coisas estão na maior distinção e no entanto não distintas, e a princípio porque o homem é Deus em Deus” (Sermão latino IV, 1). Donde este texto de de uma singular audácia para exprimir a unidade de todos os seres em Deus antes de sua criação no tempo: “Neste ser de Deus onde Deus está acima de todo ser e de todas distinções, estava eu mesmo, me queria eu mesmo, me conhecia eu mesmo, querendo criar o homem que sou. E eis porque sou a causa de mim mesmo segundo meu ser que é eterno, mas não segundo meu devir que é temporal”.
Gwendoline Jarczyk e Pierre-Jean Labarrière