Mestre Eckhart — Termos e Noções
Cristo
Excertos em francês
JEANNE ANCELET-HUSTACHE
Logo é por esta centelha, denominada às vezes “intelecto” (vernünfticheit) com um certo equívoco, por esta “algo”, que o homem se unirá a Deus: “O Pai engendra seu Filho na eternidade, igual a ele mesmo. Digo mais ainda: ele o engendrou na minha alma. Não somente ele está perto dele, e assim como está perto dela, lhe sendo semelhante, mas ele está nela e o Pai engendra seu Filho na alma da mesma maneira que engendra na eternidade e não de outro modo… O Pai engendra sem cessar seu Filho e digo mais ainda: ele me engendra enquanto seu Filho e o mesmo Filho. Digo ainda mais: ele me engendra não somente enquanto seu Filho, ele me engendra enquanto ele e ele enquanto eu, e eu enquanto seu ser e sua natureza. Na fonte mais interior, surjo no Espírito Santo; eis aí uma vida, um ser, uma operação. Tudo aquilo que Deus opera é um; eis porque ele me engendra enquanto seu Filho, sem nenhuma diferença. (SERMÃO VI)
O tema da identidade do homem com o Filho de Deus não tão “escandaloso” quanto tais textos o fariam crer a priori, mesmo se a expressão pareça dura, até paradoxal. Lemos com efeito no Novo Testamento: “Vede de que grande amor o Pai nos fez dom, que sejamos denominados filhos de Deus; e nós o somos!” (1Jo 3,1-2).
Assim levando estas palavras de fé a suas extremas consequências, Eckhart identifica a alma naquilo que tem de mais puro com o Cristo ele mesmo. Encontramos numerosas asserções semelhantes nos tratados, sermões e mesmo nas obras latinas, sobretudo nos comentários de São João: Desta unidade dos cristãos com o Cristo, de seu corpo, quer dizer sua Igreja, que o Cristo considera com fazendo um com ele, Agostinho diz: O Cristo faz de nós uma única pessoa, cabeça e corpo. Oramos por ele, nós o oramos, nós o falamos, e ele nos fala; quando nós falamos neles, ele fala em nós. Que ninguém diga: Não é o Cristo que diz isso, ou: Não sou eu que digo isso; se sabe que pertence ao corpo do Cristo, que diga um e outro: “O Cristo o diz” assim como: “Eu o digo”. Nada diga sem ele e nada dirá sem ti”. (In Johannem III, 13)