Eckhart Carne

Mestre Eckhart — Termos e Noções
CARNE (vleisch; gr. sarx)
No Sermão XIV Eckhart diz:

“Queres estar no alto e ser elevado, te é necessário estar então em baixo, longe do fluxo do sangue e da carne, pois uma raiz de todos os pecados e de todas as sujeiras é a soberba oculta, dissimulada, de onde só provém sofrimento e dor. É assim que a humildade é uma raiz de todo bem, e assim por diante.”

Nesta primeira afirmação da “carne” nos Sermões, situa-se a carne em um lugar mediano entre o alto e o baixo. É preciso se postar abaixo da carne, de seu potencial de pecado, para nesta condição de humildade poder se elevar ao alto.

Logo em seguida no mesmo Sermão, lembrando São João Eckhart diz:

“Aqueles que o receberam, àqueles deu poder de se tornarem filhos de Deus. Aqueles que são filhos de Deus, estes não são nascidos da carne e do sangue; são nascidos de Deus”, não fora dele mas nele.

Novamente se afirma além do lugar da carne, sua operação geradora de algo incapaz de se elevar pois não é “nascido do Alto”.

No Sermão XIX Eckhart cita um pensador pagão:

Onde está espírito e unidade e eternidade, é aí que Deus quer operar. Onde carne é contra espírito, aí onde dispersão é contra unidade, aí onde tempo é contra eternidade, aí Deus não opera; nada pode fazer.

Novo posicionamento da carne, desta feita, pela sua contraposição refletida nos pares de opostos: carne-espírito, dispersão-unidade, tempo-unidade. Por sua afinidade com a dispersão, a multiplicidade, a manifestação temporal, a carne se confirma como este mediador, capaz de arvorar-se a algo, interpondo-se ou sobrepesando na união da alma com Deus.