Eckartshausen Ciência Analogia

Eckartshausen — ANALOGIA
A CIÊNCIA UNIVERSAL E A ANALOGIA
Algumas consequências da teoria de E. sobre a analogia merecem atenção. O teósofo escreve que toda causa, toda modificação, já contém aquelas que se seguem. Não se trata de “determinismo”, mas de um sentido analógico que não não dá lugar ao materialismo mecanicista: com efeito, as partículas que formam o mundo estão ligadas não somente entre elas, mas igualmente com todas as outras partículas e modificações do Universo. Nenhuma melhoria pode ter lugar no Universo sem que o Todo participe desta melhoria. O desejo suscita a imaginação, força atrativa que ela mesma consegue dar nascimento a uma realidade. Se o homem conhece a conexão que liga seu espírito àquele do mundo (Welgeist), então o mundo lhe obedece. O que quer, demanda, exprime por signos, se produz. Assim como de fato seus espíritos animais obedecem a sua vontade, também os espíritos da natureza poderão obedecer a suas ordens, em virtude das relações que existem entre o microcosmo e o macrocosmo. Que mistérios se ocultam sob esta doutrina! A natureza é um oceano de energia emanando de uma energia única; conhecer esta força original é resolver todos os hieróglifos, é conhecer a cifra mesma do Universo.

Para que tais princípios possam se aplicar, é preciso seguir a solução de todos os problemas em Deus, o homem e natureza, e não nos complicados sistemas do falso Iluminismo (Aufklärung). Eis aí a “ciência universal. Citando Louis-Claude de Saint-Martin, E. afirma: «Cientistas! esqueçam vossas ciências; elas puseram uma faixa sobre vossos olhos”. Esta citação tirada do Homem de Desejo é uma dentre várias de E., e aponta para um de seus princípios: o que a beleza é para o olho, o que a harmonia é para o ouvido, a analogia é para a inteligência, pois ela é o verdadeiro medium permitindo passar de um plano a outro. Veremos a importância desta concepção quando se apresentar a filosofia dos números do teósofo.

No plano prático desta ciência universal, assim como o Bem está ligado à Verdadeiro, o Verdadeiro ao Belo, o conhecimento do Bem, assim também o presente está ligado ao presente, e o passado ao futuro, analogia sobre a qual está fundada a predição das coisa a vir. O espaço e o tempo não impedem as almas «assimiladas» de entrar em contato umas com as outras. A filosofia de Kant apresenta portanto uma grande lacuna, pois rompe a grande cadeia do seres. As transições de um plano a um outro, frequentemente imperceptíveis, escapam a maior parte do tempo à observação de nossos sentidos. Se preencherá pela lei analógica da progressão da unidade o abismo que separa em Kant o númeno do fenômeno. O erro do idealismo consistiu até o momento em considerar cada coisa como um elemento isolado, sem se dar conta da Cadeia do Ser. A terra se liga à água pelo frio, a água se liga ao ar pela umidade, etc. Tudo, no espaço e no tempo é progressivo. Nada está em baixo na forma, que não esteja em cima na força (Kraft).

A doutrina das correspondências, as leis da analogia, estudadas por Eckartshausen nos planos material e espiritual, representam uma intuição fundamental do teósofo. Todas as suas outras teorias delas derivam, ou delas são inseparáveis; elas constituem a melhor introdução a sua filosofia.