Doroteo Aprendizado Espiritual

Doroteo de Gaza — Direções sobre a Disciplina Espiritual (Praktike)

1. Em sua amorosa bondade Deus nos deu mandamentos purificadores, de modo que, se quisermos, podemos por sua observação sermos purificados não apenas dos pecados mas também das paixões elas mesmas. Pois as paixões são uma coisa e os pecados outra. Paixões são: cólera, vaidade, amor dos prazeres, ódio, luxúria e outras similares. Pecados são as efetivas operações das paixões, quando um homem as põe em prática, ou seja, desempenha com o corpo as ações para as quais suas paixões o instigaram. Pois é possível ter paixões e ainda assim não agir a partir delas.

2. A (antiga) lei tinha como seu propósito ensinar-nos a não fazer o que não queríamos que fosse feito conosco; conseqüentemente proibia apenas o efetivo ato de malícia. Agora, entretanto, (no Novo Testamento) somos exigidos a banir a paixão ela mesma, que nos instiga a fazer o mal — cólera ela mesma, amor dos prazeres, amor da fama e outras paixões.

3. Ouçam o que o Senhor diz: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” (Mt 11:29) Ele demonstra aqui a raiz e a causa de todos as doenças e sua cura, a causa de todo bem, ou seja, que a auto-exaltação levou-nos e que o perdão não pode ser obtido exceto através de seu oposto, a humildade. O que trouxe todas as nossa aflições sobre nós? O que não é orgulho? O homem foi criado para todo espécie de prazer e estava no Jardim do Éden. Mas uma coisa lhe foi proibida fazer, e no entanto ele a fez. Vês o orgulho? Vês a desobediência (a filha do orgulho)? Então Deus disse: o homem não sabe como deleitar-se no prazer apenas. Se ele não experimentar aflições ele ainda vai mais longe e morrerá completamente. Se ele não aprender o que é tristeza e trabalho não saberá o que é prazer e paz; e assim Deus o baniu do Jardim do Éden. Agora ele estava submetido a seu amor próprio e sua própria vontade, que poderiam quebrantá-lo e assim ensiná-lo a seguir não a si mesmo, mas aos mandamentos de Deus, e que os sofrimentos da desobediência deveriam lhe ensinar as bênçãos da obediência, como o Profeta diz: “Quando eu já há muito quebrava o teu jugo, e rompia as tuas ataduras, dizias tu: Nunca mais transgredirei; contudo em todo o outeiro alto e debaixo de toda a árvore verde te andas encurvando e prostituindo-te.” (Jer 2:19) Assim agora a misericórdia divina chama: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11:28) Ele diz: tu trabalhastes e sofrestes o suficiente e experimentastes o mal resultante da desobediência, venha agora e seja convertido: restaurem a si mesmos para a vida pela humildade, em lugar da arrogância pela qual puseram a si mesmos à morte. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” (Mt 11:29)