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Saint-Martin (SMTN, XII) – Ser

Sabe-se de antemão o que se deve pensar do famoso Hércules, cujos Intérpretes de todos os gêneros fizeram um tipo de seus sistemas; seus numerosos trabalhos, operados todos em vantagem da espécie humana, anunciam bastante de que modelo ele é a figura emblemática: e sem detalhar todos os seus trabalhos, deve-se sentir o que eles nos ensinam, ao matar o abutre de que o infeliz Prometeu acreditava dever ser eternamente devorado; ao sufocar o Gigante Anteo, que havia feito voto de construir a Netuno um templo com crânios de homens; e ao se encarregar do peso da terra para aliviar Atlas, que em seu verdadeiro sentido etimológico significa um Ser que carrega, um Ser obrigado: ora, a quem esse sentido se adapta melhor do que ao homem oprimido pelo peso de sua região terrestre e tenebrosa? Finalmente, é preciso lembrar que para recompensar Hércules de seus gloriosos trabalhos, os Deuses, após sua morte corporal, fizeram-no desposar Hebe ou a Eterna Juventude. Quadro natural…: XII

Finalmente, o famoso Caduceu, separando duas serpentes que se batem, é uma imagem expressiva e natural do objeto da existência do Universo: o que se repete nas menores produções da Natureza, onde Mercúrio mantém o equilíbrio entre a água e o fogo para o sustento dos corpos, e a fim de que as leis dos Seres, estando descobertas aos olhos dos homens, eles possam lê-las em todos os objetos que os rodeiam. O emblema do Caduceu que a Mitologia nos transmitiu, é um campo inesgotável de conhecimentos e instrução; porque as verdades mais físicas pintam ao homem as leis do seu Ser intelectual e o termo ao qual ele deve tender para recuperar seu equilíbrio. Quadro natural…: XII

Isso nos leva aos símbolos e aos hieróglifos que, por suas relações, pertencem, como todos os outros emblemas, aos signos das diversas pensamentos das quais reconhecemos que o homem é suscetível; e que, nos fatos sensíveis, devem mostrar ao homem o verdadeiro quadro do estado de seu Ser intelectual. Quadro natural…: XII

Se todas as Nações da Terra empregaram o triângulo em seus monumentos hieroglíficos, poucas conheceram ou revelaram as verdadeiras relações e o verdadeiro sentido. Aquelas que o deram como símbolo do Ternário sagrado, deveriam ter mostrado um símbolo intermediário entre esse Tipo supremo e o ternário corruptível; porque, sem isso, do Ser invisível e invariável,1 a uma figura morta, tal como um triângulo, a distância é demasiado grande, para que se possa elevar de uma à outra: ora, o símbolo intermediário é o homem, como se verá na sequência. Quadro natural…: XII

A figura crucial, sendo o emblema do fogo do centro, do Princípio, convém ao Ser intelectual do homem, pois ele está diretamente ligado ao centro do Princípio superior e universal de todas as Potências. Quadro natural…: XII

Ao reunir esses dois sinais na mesma ordem em que os Químicos os empregam, isto é, colocando o triângulo acima da figura crucial (figura 1), tem-se de maneira evidente e sensível, o quadro das duas substâncias opostas que nos compõem, e ao mesmo tempo o da imperfeição de nosso estado atual onde o Ser pensante se encontra sobrepujado e como sepultado sob o peso da forma corporal; enquanto, sendo destinado por sua natureza a reinar e a dominar sobre ela, essa forma deveria ser-lhe absolutamente subordinada: e é assim que todas as leis dos Seres poderiam voltar-se para nossa instrução. Pode-se até encontrar aí uma nova prova da necessidade das manifestações superiores, para ajudar o homem a restabelecer-se em sua ordem natural, e a fim de que nossa essência intelectual, sendo reposta em seu posto primitivo e superior à matéria, o edifício que havia sido derrubado segundo essa figura se encontrasse erguido assim, (ver figura 2). Quadro natural…: XII

Os Mitólogos nos pintam o Amor armado de flechas, e Minerva saindo do cérebro de Júpiter. Isso é nos lembrar de um lado que todas as afeições sensíveis que nos vêm pelos objetos exteriores, são destrutivas, e do outro, que a sabedoria, a prudência e todas as virtudes, tendo seu assento no germe interior do homem, podem nascer dele, à imitação do Ser de que ele é a imagem e que produz tudo: isto é, que se o homem intelectual cumprisse sua destinação primitiva, e que não deixasse alterar nenhuma porção de sua substância imaterial, ele viveria menos do que faria entrar em si mesmo, do que do que deixaria emanar pelos esforços de seu desejo e de sua vontade. Princípio justo, verdadeiro, fecundo, instrutivo, no qual estão encerrados todos os segredos da ciência e da felicidade. Mas o que torna hoje tão difícil para o homem, o uso desse princípio, é que a aplicação que ele deve fazer, tornou-se dupla e dividida, no que ela deve se referir não somente aos objetos de inteligência e de raciocínio, cujas todas as operações se passam na cabeça, mas ainda a todas as afeições virtuosas de desejo e de amor pela verdade, que têm seu assento no coração do homem. Assim, estando ligado a dois centros distantes um do outro, sua ação é infinitamente mais penosa e mais incerta do que quando estavam reunidos; tanto mais que, dada a distância imensa que os separa, sua comunicação pode muitas vezes ser interceptada: e, no entanto, se não agem em concerto, só produzem obras imperfeitas. Quadro natural…: XII

Os Mitólogos nos retratam uma Esfinge à porta dos Templos dos Egípcios, a fim de nos lembrar o quanto a luz está hoje envolvida para nós em enigmas e obscuridades. Mas eles nos ensinam que essa luz não é inacessível, transmitindo-nos o emblema que a Esfinge representou, quando foi enviada a Tebas pela ciúme de Juno: pois sabe-se que Édipo, ao explicar o enigma que a Deusa fazia propor por seu Enviado, reduziu-a à necessidade de se dar a morte. Convenhamos, todavia, que é bastante inadequadamente que no emblema a Esfinge chega a essa extremidade, já que Édipo dava então apenas a explicação do homem animal e sensível, e que há em nós um Ser infinitamente superior, que é a única palavra pela qual se pode verdadeiramente explicar todos os enigmas. Quadro natural…: XII

Mas as observações que acabamos de ver, não se limitam apenas às Tradições mitológicas Gregas e Egípcias: a Teogonia, a Cosmogonia e as Doutrinas religiosas dos2 antigos Povos, tendo tido um Princípio e um objetivo comum a toda a espécie humana, devem nos apresentar os mesmos quadros e as mesmas verdades. De fato, abramos o Shastah dos Gentios, o Zend-à-Vesta dos Parsis, o Edda dos Islandeses, o Chon-King e o Y-King dos Chineses; em suma, consultemos as Tradições sagradas de todos os Povos da Terra, não tememos assegurar que nelas se reconhecerá facilmente o homem antigo, presente e futuro, assim como a expressão natural de suas necessidades e de suas ideias; porque o homem, sendo um Ser de todos os tempos e de todos os lugares, só pode ter em toda parte as mesmas necessidades e as mesmas ideias. Quadro natural…: XII

Se perguntassem por que razão dou a Língua hebraica como o tipo das outras Línguas, eu responderia que é porque a língua primitiva da qual ela deriva, não é mais falada geralmente neste baixo Mundo: que não se pode considerar como primitiva uma Língua sensível, fundada na forma, nas leis, nos sons e nas ações de todos os objetos naturais, visto que a linguagem do pensamento lhes é estranha. Eu responderia que é porque, em qualquer dialeto que se considere a língua hebraica, seja o Siríaco, seja o Árabe, seja o Samaritano, seja o Caldeu, ela oferece vestígios de todos os princípios que expusemos; porque suas raízes são quase geralmente compostas de três letras, para nos lembrar as3 três raízes universais de todas as coisas; porque todas as suas raízes são verbos, e só parecem ser nomes para aqueles que não observaram a ordem e a progressão da linguagem sob seu dia mais luminoso; porque ela expressa todas as suas raízes pela terceira pessoa, para nos dar a conhecer primeiro aquela das três faculdades supremas que está mais perto de nós; porque ela emprega apenas os tempos passados e futuros, como não sendo afetada senão às coisas temporais e aparentes ou nulas, e não às coisas presentes e reais: porque, enfim, a linguagem só começou a ser convencional e a se corromper, quando empregou esse tempo presente, que não pode convir às coisas incertas e passageiras, e que não pertence senão ao Ser verdadeiro e fixo, cuja ação é sempre presente, sempre o que foi, sempre o que será. Quadro natural…: XII

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