Aqueles que se declaram contra um Ser eterno, infinitamente justo, fonte de toda felicidade e luz, apenas mudam o nome desse Ser e colocam outro em seu lugar. Longe de destruir sua existência indestrutível, eles demonstram sua realidade e todas as faculdades que lhe pertencem. Pois se o ateu e o materialista se recusam a acreditar no Deus que se pintou em suas almas, eles não fazem, ao substituí-lo pela matéria, senão transportar para ela os atributos do Princípio verdadeiro, dos quais sua essência os torna para sempre inseparáveis? Assim, esse ídolo é sempre um Deus, que eles nos anunciam. Quadro natural…: IV

Além disso, ao elevar assim a matéria, é menos, na verdade, o reino dessa matéria que o seu próprio que eles pretendem estabelecer. Pois os raciocínios com que tentam apoiar os seus sistemas, o entusiasmo que os anima, todas as suas declamações, não têm por objetivo persuadir-nos de que são possuidores da verdade? Ora, segundo as relações íntimas que sentimos existir entre Deus e a verdade, ser possuidor da verdade seria outra coisa que ser Deus? O ateu confessa, portanto, apesar de si mesmo, a existência desse Ser supremo; pois ele não pode empreender provar que Deus não existe, a não ser apresentando-se como sendo ele mesmo um Deus. Quadro natural…: IV

É com as armas dessa unidade que ele quer combatê-la: é com as forças dessa unidade que ele quer provar sua fraqueza: enfim, é com os próprios sinais de sua existência que ele quer estabelecer que ela não é senão um nada e um fantasma. Se o ateu quer atacar, de qualquer maneira, o primeiro Princípio de tudo o que existe, que se proíba, então, de qualquer ato, de qualquer palavra e até mesmo que todo o seu Ser desça ao nada: pois, assim que se mostra, assim que escreve, assim que fala, assim que mente, ele mesmo prova aquele que quer aniquilar. Quadro natural…: IV

Esta palavra, emanado, pode contribuir para lançar uma nova luz sobre nossa natureza e nossa origem, pois, se a ideia de emanação tem tanta dificuldade em penetrar na inteligência dos homens, é apenas porque eles deixaram materializar todo o seu Ser. Eles não veem na emanação senão uma separação de substâncias, tal como nas evaporações dos corpos odoríferos e nas divisões de uma fonte em vários riachos: todos exemplos tirados da matéria, nos quais a massa total é realmente diminuída quando algumas partes constituintes são retiradas. Quadro natural…: IV

Mas, uma vez que já descobrimos no homem as provas do Princípio que o constituiu como ele é, é no próprio homem, é no espírito do homem que devemos encontrar as leis que dirigiram sua origem. Finalmente, sendo o homem um Ser real, nunca se deve julgá-lo por comparação, como se pode fazer com os Seres corporais, cujas qualidades são relativas. Quadro natural…: IV

Pois, quando produzo externamente algum ato intelectual, quando comunico a um dos meus semelhantes o mais profundo dos meus pensamentos, esse móvel que trago em seu Ser, que o fará agir, pode dar-lhe uma virtude: esse móvel, digo, embora saído de mim, embora seja, por assim dizer, um extrato de mim mesmo e minha própria imagem, não me priva da faculdade de produzir outros semelhantes. Tenho sempre em mim o mesmo germe de pensamentos, a mesma vontade, a mesma ação; e, no entanto, de certa forma, dei uma nova vida a esse homem, comunicando-lhe uma ideia, um poder que não era nada para ele antes de eu ter feito a seu favor o tipo de emanação de que sou capaz. Lembrando-nos, porém, que existe um único Autor e criador de todas as coisas, veremos por que só comunico lampejos passageiros, enquanto esse Autor universal comunica a própria existência e a vida imperecível. Quadro natural…: IV

Afastemos, pois, de nós as ideias criminosas e insensatas desse nada, ao qual homens cegos ensinam que devemos nossa origem. Não rebaixemos nosso Ser: ele foi feito para um destino sublime, mas este não pode ser mais sublime do que seu Princípio; pois, segundo as simples leis físicas, os Seres só podem elevar-se até o grau de onde desceram. E, no entanto, essas leis deixariam de ser verdadeiras e universais se o Princípio do homem fosse o nada. Mas tudo nos anuncia suficientemente nossas relações com o próprio centro, produtor da universalidade imaterial e da universalidade corpórea, já que todos os nossos esforços tendem continuamente a apropriar-nos de uma e da outra e a ligar a elas todas as virtudes ao nosso redor. Quadro natural…: IV

Observemos ainda que esta doutrina, sobre a emanação do Ser intelectual do homem, concorda com aquela que nos ensina que todas as nossas descobertas são, de certa forma, apenas reminiscências. Pode-se até dizer que essas duas doutrinas se sustentam mutuamente, pois, se emanamos de uma fonte universal de verdade, nenhuma verdade deve nos parecer nova e, reciprocamente, se nenhuma verdade nos parece nova, mas apenas percebemos nela a lembrança ou a representação do que estava oculto em nós, devemos ter nascido na fonte universal da verdade. Quadro natural…: IV

Vemos, nas leis simples e físicas dos corpos, uma imagem sensível desse princípio, de que o homem é apenas um Ser de reminiscência. Quadro natural…: IV

Voltemos aqui ao nosso assunto e anunciemos novamente que o homem nasceu para ser o número universal, o sinal vivo e o quadro real de um Ser infinito. Ele nasceu, digo eu, para provar a todos os Seres que existe um Deus necessário, luminoso, bom, justo, santo, poderoso, eterno, forte, sempre pronto a reviver aqueles que o amam, sempre terrível para aqueles que querem combatê-lo ou desconhecê-lo. Feliz o homem, se nunca tivesse anunciado Deus senão manifestando os seus poderes e não usurpando-os! Quadro natural…: IV

E não nos surpreendamos ao ver o homem carregar tal marca. As faculdades do Ser necessário são infinitas como ele: e, uma vez que Ele colocou sobre nós a expressão do seu número, é necessário que tenhamos em nós as marcas da sua universalidade. Quadro natural…: IV