theosophos:saint-martin-smnh-oracao

Saint-Martin (SMNH) – Oração

Desperta-te, pois, ó homem, cada dia antes da aurora para acelerar tua obra. É uma vergonha para ti que teu incenso diário só fume após o nascer do sol. Não era o alvorecer da luz que deveria outrora avisar tua oração para vir render homenagem ao Deus dos seres e solicitar Suas misericórdias, é tua oração que deveria ela mesma chamar a aurora da luz e fazê-la brilhar sobre tua obra, para que depois possas do alto desse oriente celeste derramá-la sobre as nações adormecidas em sua inação, e arrancá-las de suas trevas. Só por essa vigilância teu edifício tomará seu crescimento, e tua alma poderá tornar-se semelhante a uma dessas doze pérolas que devem um dia servir de portas à cidade santa. O Novo Homem: 8

Eis o que o homem pode esperar quando persevera com constância em sua oração, e não se detém ante os ilusórios obstáculos que o inimigo lhe apresenta sem cessar como sendo insuperáveis. Uma firme confiança no fogo sagrado que nos anima; uma confiança ainda mais firme na fonte donde esse fogo deriva, e que não pode cessar de dirigir seus olhares, seu calor e sua luz sobre ele, fazem logo desaparecer esses fracos ataques de nosso inimigo, que só têm força em nossa pusilanimidade e falta de resolução. O Novo Homem: 14

Lança-te depois corajosamente no caminho da oração e da súplica, sem pensar sequer nos obstáculos que te teriam detido por falta dessa precaução, sem sequer descer a percebê-los; dirige-te com ardor aos diferentes lugares de teus sacrifícios. Implora o Pai, invoca o Pai, conjura o Pai, une-te ao Pai quando quiseres oferecer o sacrifício sobre o altar eterno donde mana a fonte da vida e da existência em todos os seres; serve-te com confiança de Seu nome; Ele mesmo será teu parceiro, pois terás o desígnio de estender Seu próprio reino, e o inimigo não poderá opor-se a tua obra, estará demasiado distante; será para essa obra e teu sacrifício como um ser nulo e absolutamente estranho. O Novo Homem: 14

São esses tempos silenciosos e governados pela prudência e pelo retiro que preparam o homem para cumprir um dia sua missão com sucesso, para glória de seu mestre, vantagem de seus próprios irmãos e avanço do reino do Senhor, enchendo-se assim cada dia das forças necessárias para ir atacar os inimigos da verdade e mergulhá-los em seus tenebrosos precipícios. Assim nos ensina São Lucas que o Reparador, esperando a hora da consumação, passava seus dias na oração e nos desertos; também Moisés, que se deve considerar como um dos precursores desse Divino Reparador, passava seus dias nos desertos de Midiã, até o momento em que recebeu ordem do Senhor para ir libertar seus irmãos e comandar ao Faraó que deixasse partir o povo de Deus em liberdade, para que pudesse oferecer seus sacrifícios ao Eterno. O Novo Homem: 19

As influências da região inferior estão longe de ter semelhante propriedade; só a influência corrompida se eleva assim da região inferior; ela se eleva por nossa falta de vigilância, ainda mais que por uma ordem do alto, que às vezes no entanto a envia como prova; só se oferece a nós sob formas irregulares e cores hediondas; as próprias formas que toma não se sustentam e só se deformam continuamente, porque não tem o princípio das formas regulares; mostra-se como de improviso e como tendo aproveitado alguma saída que deixamos aberta; mostra-se mais na oração que em outras circunstâncias, porque ali abrimos mais portas que o habitual e no entanto não temos frequentemente ali mais atenção e força que o habitual para pôr sentinelas em todas as portas que abrimos. O Novo Homem: 20

Pois se o homem tem a felicidade de ver nascer nele o filho do espírito ou o novo homem, percebe logo a diferença desse novo estado para ele em relação a seu estado anterior; e essa diferença consiste em que, nesse novo estado, tem certeza, por seus esforços e perseverança em sua oração, de obter os frutos de seus desejos puros, sejam luzes e desenvolvimentos, sejam consolações, sejam dons do espírito para manifestação da glória de seu mestre, todas coisas que podemos agora considerar como outras tantas revelações. Mas em seu estado anterior não tinha a mesma certeza, e apesar de todas as empresas mais corajosas, não podia lisonjear-se do mesmo sucesso, e as espécies de revelações de que era suscetível então lhe chegavam de maneira mais velada, mais figurada, e que o deixavam frequentemente como na expectativa dos bens que só lhe mostravam. O Novo Homem: 20

Assim, unidade no amor, unidade na obra da penitência, unidade na humildade, unidade na coragem, unidade na caridade, unidade no despojamento do espírito da terra, unidade na resignação, unidade na paciência, unidade na submissão à vontade suprema, unidade no cuidado de nos revestir do espírito da verdade, unidade na esperança de recobrar os bens que perdemos, unidade na fé que nossa vontade purificada e unida à de Deus deve ter seu cumprimento já neste mundo, unidade na determinação de dissipar as trevas da ignorância que nosso domicílio nos envolve, unidade na vigilância, unidade na constância à oração, unidade na contínua cultura das escrituras sagradas, enfim unidade em tudo que sentimos ser próprio para nos purificar, nos aliviar desse baixo mundo e nos avançar em nosso reino que é o reino do espírito e o reino de Deus; eis a lei que devemos nos impor. O Novo Homem: 21

É dizendo à oração: esteja sempre ao meu lado, esteja sempre comigo e em mim; seja tu mesma a operária que cava o leito do rio, e não permitas que passe um só momento sem que eu tenha removido algumas pedras, arrancado algumas raízes ou tirado algumas imundícies, para que, de dia em dia, o curso desse rio se torne mais livre e que enfim todo meu ser seja dele saciado. O Novo Homem: 24

Homem, quem quer que sejas, se por tua perseverança e por tua oração podes obter que a mão benfazeja que vela sobre nós te faça um dia sentir assim tua dupla existência, encerra preciosamente essas alegrias em teu coração e prostra-te. Talvez depois dessas doces graças, serás entregue de novo a languores e suspensões. Mas essas tempestades passarão como acima de tua cabeça; o grão será semeado, será encerrado na terra; ali continuará em sua pacífica obscuridade seu feliz crescimento, apesar dos ventos, neves, gelos e geadas de que a superfície da terra possa estar coberta; e não deixará de mostrar seus frutos e sua fértil abundância quando chegarem os tempos da produção e da colheita. O Novo Homem: 27

Assim, seu desejo e zelo crescem com essas doces experiências; sua oração transforma-se, por assim dizer, em santa fúria, e quer tomar o céu pela violência. “Deus de minha vida, vem pois viver em minha vida, para que eu possa aproximar-me da morte sem morrer, mas ao contrário para que eu possa por minha vez fazer reviver a morte, como Tu me fizeste reviver a mim mesmo quando eu estava morto.” O Novo Homem: 30

Por esse meio, os homens, depois de terem servido reciprocamente de testemunhos de seu desvio e sinais de seu estado de expiação, poderiam depois servir-se uns aos outros como sinais de emenda, resignação, encorajamento à oração para aplacar a cólera divina, e sem dúvida chegariam logo a servir-se mutuamente como sinais de graças celestes, perdões, consolações e gozos que teriam mudado para eles o reino da morte e os teriam posto, de algum modo, no reino da vida, antes mesmo que tivessem deixado essa região terrestre e mista, à qual a unidade parece ser tão estranha. Não duvidemos, tais eram os desígnios da sabedoria sobre a posteridade do homem, pois essa sabedoria só busca encher toda a terra. O Novo Homem: 30

“Esse Reparador vos ensinou a pedir a vosso Pai vosso pão cotidiano e a ser preservados do mal; se vossa idade o permitisse, vos teria descoberto maravilhas ainda maiores nas misericórdias de vosso Deus, vos teria descoberto que esse Deus não cessa de vos oferecer esse pão cotidiano, não cessando de vos comunicar Sua santa e exclusiva ação que deveria nos animar a todos; assim toda nossa sabedoria deveria levar-nos a não recusar os socorros que nos oferece diariamente, e nossa única oração poderia reduzir-se a pedir-Lhe a graça de não repelir, como fazemos, os dons e favores com que nos cumula. Pois o novo homem só difere dos imprudentes em que aceita esse pão cotidiano e dele se nutre, enquanto os outros o rejeitam, desdenham e depois negam sua existência.” O Novo Homem: 37

Assim orará sem cessar ao espírito para que venha habitar em sua penitência, humildade, coragem, resignação, oração, fé, amor, luzes, esperança, caridade, em todas as afeições puras de sua alma e em todos os movimentos de sua essência espiritual e divina, para que não possa mais ser vencido nos combates que terá de sustentar. O Novo Homem: 45

O melhor meio de chegar a esse feliz termo e poder dizer com confiança ao espírito: “Em qualquer dia que Vos invocar, atendei-me”, é aproveitar cuidadosamente as substâncias salutares que Ele quer nos confiar para alívio de nossas enfermidades. Quanto mais utilidade delas retirarmos, mais outras nos distribuirá com abundância, de modo que nossa oração poderia enfim transformar-se em invocação ativa e perpétua, e em vez de dizer essa oração, poderíamos realizá-la e operá-la a todo momento, por uma contínua preservação e cura de nós mesmos. O Novo Homem: 45

Consideremos pois esse novo homem cercado de todas as substâncias do espírito e aplicando-as por sua fé efetiva, ou por sua oração em atos, a todas as necessidades que pode experimentar em sua obra; vejamo-lo a cada passo que dá em sua carreira, procurar novas graças, novos apoios, novos benefícios, e por essa fidelidade e vivo devotamento, identificar-se de tal modo com o espírito que essas mesmas graças, esses mesmos apoios, esses mesmos benefícios desçam sobre ele como gratuitamente, mas de modo que lhe seja como natural, que os receba a todo instante sem buscá-los e sem que no entanto se surpreenda de vê-los assim prevenir mesmo todas suas necessidades. O Novo Homem: 45

O homem de Deus é obrigado a diminuir-se sem cessar e a se proporcionalizar, como Elias, à pequenez do filho da viúva de Sarepta para ressuscitá-lo. É isso que torna seu ministério tão laborioso; é preciso que esse homem de Deus esteja sempre em contradição, para apropriar as virtudes divinas a nossa morada impura e manchada. Pois o homem de Deus está estabelecido para ser perpetuamente o órgão dessas virtudes, seja na oração, seja na instrução, seja nas obras. O Novo Homem: 48

Não é pela repetição de palavras em sua oração que o novo homem chegou a essa união com o espírito, é pelo fogo interior de seu ser que se inflamou e espalhou ao redor dele uma luz semelhante àquela donde tomou sua origem. A lei da afinidade operou o resto; e mesmo esse fogo de seu ser interior só se acendeu pelo sopro suave da sabedoria, que só busca restituir a cada coisa suas propriedades. O Novo Homem: 49

É pois o sopro suave dessa sabedoria que desenvolverá no novo homem sua verdadeira oração que é a ação natural de seu ser; pois essa oração não deve ter outro fim que manter no homem a ordem, a segurança, a medida; deve fazer que o inimigo seja sempre mantido fora do lugar, que o coração do homem seja sempre saciado das fontes das águas vivas e que seu pensamento seja como um foco onde as luzes divinas se reúnem para se refletir depois com mais esplendor. Como essas são as faculdades primitivas do homem, se conseguem atingir o fim de sua destinação, o homem está realmente em sua oração, ou melhor dizendo, o homem é então realmente a oração e o sacrifício de odor mais agradável que o Senhor possa receber. Mas onde está aquele que se converteu realmente em uma oração e em um sacrifício de odor mais agradável para o Senhor? O Novo Homem: 49

Deus dissera: “O homem será um centro onde refletirão todos os raios de Minha glória. Recebeu de Mim, em seu corpo, a base de todas as impressões e qualidades dos seres sensíveis, como recebeu de Mim, em seu espírito, a base de todas as impressões e propriedades superiores. É para Mim que dispus e coloquei o homem nesse alto posto. Tive por fim Minha própria alegria, Minha própria glória e o avanço de Meus desígnios. E no entanto o homem desdenhou Meus presentes. Desdenhou trabalhar para Minha glória e o avanço de Meus desígnios. Como tratarei esse servo infiel? Tratá-lo-ei como as nações que tomaram os ídolos por seus deuses. Mil universos amontoados uns sobre os outros não esconderiam de Meus olhos esses culpados; seu crime ousou ferir Meu trono, e o abalo que ele sofreu, Minha justiça ainda se lembra. Homens negligentes, homens insensíveis a Minha glória e ao avanço de Meus desígnios, enchei-vos do zelo de Minha casa até que os muros de Jerusalém sejam reerguidos, até que estejais realmente convertidos em uma oração ativa e em um sacrifício de odor agradável para Aquele que vos criou.” O Novo Homem: 49

Quanto ao novo homem, converteu-se realmente em uma oração ativa, e eis como suas faculdades recobraram os direitos de sua destinação originária. Ele disse: “Invoco a Deus em nome do Reparador, invoco o Reparador em nome do cumprimento da lei, invoco o cumprimento da lei em nome da fé, invoco a fé em nome de minhas obras e da constância de minhas santas resoluções.” Eis os quatro rios que esse novo homem encontrou em si; encontrou também em si o jardim do Éden; desde então encheu-se de confiança e zelo, e as colheitas tornaram-se abundantes. Outrora esses quatro rios só faziam um, quando esse jardim do Éden estava ainda em sua fertilidade primitiva. Mas as catástrofes da natureza, multiplicando montanhas e vales, dividiram as fontes dos rios e multiplicaram suas correntes. O Novo Homem: 49

Não poderíamos afirmar demais: não é pela repetição de palavras em sua oração que o novo homem chegou a poder encher-se dessas doces esperanças e fazer sair de si essas pacíficas inteligências que espalham ao redor o calma e o repouso; é reunindo com cuidado todo o fogo de seu ser interior que vê enfim elevar-se dele uma chama pura, viva e leve que purifica o ar e o agita suavemente, fazendo exalar um vento refrescante; eis como chegou a descobrir em si os quatro rios do jardim do Éden, subdivididos nessas sete fontes sacramentais que são as potências de sua alma, e que nunca teriam podido recobrar sua atividade natural, se a alma desse novo homem não tivesse sido ela mesma regenerada e ordenada de novo pelo sacramento da palavra. O Novo Homem: 49

O novo homem é semelhante a uma árvore sobre a qual a pomba vem repousar com alegria, depois de ter voado até esgotar suas forças para buscar alimento a seus filhotes. O novo homem é ainda semelhante à trombeta que se faz soar nas praças e sobre as torres elevadas para chamar o povo à oração; porque o novo homem é o lugar de repouso da verdade e está encarregado de chamar diariamente seu próprio povo ao sacrifício; está encarregado da manutenção de todos os canais da cidade e de velar para que as águas vivas possam circular livremente; e está encarregado de advertir seus concidadãos que a cidade que habitam é uma cidade santa e na qual não se sofre nenhum mendigo sem aval, nenhum covarde, nenhum preguiçoso, porque não há ninguém que não possa aí prover legitimamente e abundantemente a seu sustento; pois se um desses habitantes não se julga com forças necessárias para bastar sozinho a cumprir sua tarefa e prover a suas necessidades, pode dirigir-se a um de seus irmãos, pode unir-se com ele, e essa união não lhe deixará nada a desejar, pois está escrito: “Digo-vos ainda que se dois dentre vós se unirem na terra, qualquer coisa que peçam, ser-lhes-á concedida por Meu Pai que está nos céus.” O Novo Homem: 54

Onde estão aqueles que, do próprio seio de sua prisão, obtiveram poder purificar a atmosfera e restituir a saúde a seus irmãos? Onde estão os que têm os olhos abertos sobre o abismo e que a oração mergulha nele para arrancar dele os infelizes? O Novo Homem: 55

À imitação do Reparador, o novo homem vai entrar em seu próprio templo, expulsar a golpes de chicote os cambistas e vendedores de pombas, repreendendo-os por terem feito da casa de seu Pai, que era uma casa de oração, uma caverna de ladrões. Se os príncipes dos sacerdotes, doutores da lei e senadores lhe perguntarem com que autoridade faz essas coisas, não lhes responderá, porque não podem dizer se o batismo de João era dos homens ou se era do céu; porque não conhecem a união da alma humana com o espírito do Senhor, que fazia que o batismo de João pertencia ao mesmo tempo a esses dois mundos e por isso era a imagem da autoridade do Reparador que provinha também da reunião das potências desses dois mundos. O Novo Homem: 57

Com efeito, a profecia deve limitar-se a predizer e anunciar acontecimentos? Não pode preveni-los pela oração da dor, se são funestos, e adiantá-los se são salutares, e não seria esse um de seus caracteres mais importantes? “Lágrimas do profeta, desobstruí os caminhos da cidade santa, operai vós mesmas as manifestações dessa nova Jerusalém que as predições só anunciam.” O Novo Homem: 60

“É por eles que oro; não oro pelo mundo, mas por aqueles que Me destes, porque são Vossos. Tudo o que é Meu é Vosso, e tudo o que é Vosso é Meu, e Eu sou glorificado neles.” Como oraria o novo homem pelo mundo, pois o mundo de que se trata aqui não é composto de homens, mas do tempo e da aparência que não podem nem engendrar a oração, nem participar das doçuras de seus frutos? O Novo Homem: 64

/home/mccastro/public_html/cristologia/data/pages/theosophos/saint-martin-smnh-oracao.txt · Last modified: by 127.0.0.1