Saint-Martin – Reino de Deus
Que todos os seres, no tempo passado, no tempo presente e no tempo futuro, bendigam seu nome. É pela busca de seu nome e pelo louvor de seu nome que conseguirei enganar o tempo. Nações da terra, gerações futuras, aproveitem meus segredos. O tempo será precipitado abaixo de vós, obtereis a alegria e o repouso de vossas almas. Eis a recompensa e as bênçãos que descerão sobre meus cânticos. Os homens quereriam levar-vos a Deus por labirintos, alguns até vos fariam um crime de buscá-lo. Mistérios do Reino de Deus, sois menos inexplicáveis que os mistérios do reino dos homens. L'Homme de désir: 16
Assim, quando nos dizem no evangelho: buscai primeiro o Reino de Deus e a justiça, o resto vos será dado por acréscimo, pode-se bem crer que de fato os socorros temporais de que necessitamos não nos faltarão, se soubermos estabelecer nossa morada nos tesouros espirituais; mas isso vai ainda mais longe, pois significa também que devemos buscar primeiro o reino divino, e que o reino espiritual nos será dado por acréscimo, isto é, que se soubermos estabelecer nossa morada em Deus, não haverá nada nas luzes e nos poderosos dons do espírito que nos seja negado. Le Ministère…: De l'Homme.
Seria bom ensinar-lhe e levá-lo a convencer-se, por sua própria experiência, que a oração deve ser uma aliança espiritual contínua, pois só devemos orar com Deus, e nossa oração só merece esse nome na medida em que Deus ora em nós, já que só assim se ora no Reino de Deus. Le Ministère…: De l'Homme.
A instituição da ceia tinha portanto por objetivo retraçar em nós essa morte e essa ressurreição antes mesmo da dissolução de nossas essências corpóreas, isto é, ensinar-nos ao mesmo tempo a morrer com o reparador e a ressuscitar com ele. Assim essa cerimônia religiosa, considerada em sua sublimidade, pode tornar-se em nós, em realidade, uma produção, uma emanação, uma criação, uma regeneração ou uma ressurreição universal e perpétua; e pode, digo, transformar-nos em Reino de Deus, e fazer que não sejamos mais que um com Deus. Le Ministère…: De l'Homme.
Todavia seria essencial que o operante repetisse sem cessar aos fiéis estas palavras do instituidor: a carne e o sangue não servem para nada, minhas palavras são espírito e vida; pois quantos espíritos a letra das outras palavras já matou! É preciso que no operante, como em nós, a ideia e a palavra de carne e sangue sejam abolidas, isto é, que remontemos, como o reparador, à região do elemento puro que foi nosso corpo primitivo, e que contém em si a eterna SOPHIA, as duas tinturas, o espírito e a palavra. Só a esse preço as coisas que ocorrem no Reino de Deus podem também ocorrer em nós. Le Ministère…: De l'Homme.
Não esqueçamos porém outra relação tão verdadeira e incomparavelmente mais consoladora: é sentir que se a prevaricação nos privou de tudo e nos colocou em um despojamento absoluto, é necessário que, para nos curar, tudo nos seja dado por sua vez pelo amor incommensurável e universal; sem o que, nossa cura jamais poderia ser absoluta. Ora, esse presente universal que o amor quis novamente fazer ao mundo está compreendido inteiramente nas maravilhas da palavra, pois era a perda desses tesouros que nos mantinha na indigência. Mas hoje só podemos aprender essa palavra do Espírito lentamente, como as crianças aprendem a palavra humana. Deveríamos aprendê-la de maneira natural e insensível, pois essa é a marcha que seguem. Daí a palavra do Evangelho: não possuireis o Reino de Deus se não o receberdes como crianças. Le Ministère…: De la Parole.
As poderosas virtudes dos homens de Deus de todas as épocas nos são oferecidas para nos auxiliar e fortalecer, a fim de que nossa virtude espiritual tome coragem e confiança no combate; assim como para nos instruir das maravilhas e magnificências que enchem o Reino de Deus, e às quais começaram a ser admitidos, mesmo quando ainda habitavam sua forma terrestre. Le Ministère…: De la Parole.
Assim, unidade no amor, unidade na obra da penitência, unidade na humildade, unidade na coragem, unidade na caridade, unidade no despojamento do espírito da terra, unidade na resignação, unidade na paciência, unidade na submissão à vontade suprema, unidade no cuidado de revestir-nos do espírito da verdade, unidade na esperança de recuperar os bens que perdemos, unidade na fé de que nossa vontade purificada e unida à de Deus deve ter seu cumprimento desde este mundo, unidade na determinação de dissipar as trevas da ignorância que nosso exílio nos envolve, unidade na vigilância, unidade na constância na oração, unidade na contínua leitura das escrituras sagradas, enfim unidade em tudo o que sentimos ser próprio para nos purificar, aliviar deste mundo baixo e avançar em nosso reino que é o reino do espírito e o Reino de Deus; eis a lei que devemos nos impor. Le Nouvel Homme: 21.
“Foi-vos dito para não vos preocupardes com o amanhã, e que a cada dia basta seu mal. Isso vos foi dito então sobre o alimento e a vestimenta, e todas essas coisas com que os pagãos se preocupam, como se Deus não soubesse que delas necessitam, e não as desse por acréscimo àqueles que buscam primeiro o Reino de Deus e a justiça; mas podeis igualmente aplicar essas palavras ao alimento e à vestimenta de vossas almas, que vos serão dados em abundância, se buscais realmente o Reino de Deus e sua justiça; pois se é verdade que a cada dia basta seu mal, a cada dia também basta sua consolação, já que está dito que vosso Pai que está nos céus faz nascer seu sol sobre bons e maus, e faz chover sobre o campo dos justos e dos injustos. Assim não há dia em que o Sol divino não nasça para vós sobre a terra de vossas almas, de vossos espíritos e de vossos corações.” Le Nouvel Homme: 38.
Por isso meu coração foi ferido por uma chaga que nada mais pode curar na terra, porque essa chaga é semelhante à que feriu o reino da verdade. Também não buscarei na terra o remédio para a chaga de meu coração. Buscá-lo-ei no reino da verdade, pois só ela pôde resistir ao inimigo e pode curar todas as chagas. O próprio reino dos céus chora e está cheio de tristeza desde que o mal derramou seu veneno e o príncipe das trevas se assentou no tribunal: como o coração do homem não estaria de luto e em lágrimas, se o reino dos céus e o coração do homem estão unidos por uma aliança que os torna como inseparáveis? É nessa aliança que os torna como inseparáveis que se encontra também a única consolação feita para o homem; pois as lágrimas do Reino de Deus, penetrando meu ser, lhe restituirão a inteligência, como as lágrimas da videira restituem a clareza a nossos olhos corpóreos. Le Nouvel Homme: 47.
É por esse progresso sempre crescente que o Reparador desenvolveu o curso de suas manifestações na terra. A lei e os profetas duraram até João; desde então o Reino de Deus é anunciado, e sofre que se o tome pela violência. O cordeiro sagrado fora figurado pelos sacrifícios da antiga lei; o eclesiástico e as profecias nos o haviam designado como aquele que traria a paz à terra. João é o primeiro que (como dissemos, nº41) fez conhecer visivelmente o Reparador sob o caráter do cordeiro que vinha tirar os pecados do mundo. É por sua boca que passaram o anúncio e o sinal das nações. Le Nouvel Homme: 52.
“Feliz aquele que comer do pão no Reino de Deus!”, disse um dos que se encontravam à mesa com o Reparador (Lucas 14:15). Mas o que lhe disse o Reparador para mostrar-lhe quão poucos homens sabem não só buscar o espírito em sua plenitude, mas até deixá-lo entrar neles quando se apresenta, e vender o que têm para lhe dar lugar? Conta-lhe a parábola do banquete e da grande ceia para a qual um homem convidara muitos; conta-lhe como todos se escusaram sob diversos pretextos, um por uma casa que acabara de comprar, outro por uma mulher que acabara de desposar, etc. Conta-lhe como disse a seu servo para fazer entrar então os pobres, os coxos, os cegos, e mesmo todos os que encontrasse pelos caminhos e cercas, porque queria sua casa cheia. Le Nouvel Homme: 56.
Ele espera a hora favorável para vir operar na alma esse salutar sacrifício, pois seu amor por nós o levou a se sujeitar até à lei das horas; mas quando essa hora chega, senta-se à mesa conosco e nos diz: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer; pois vos declaro que não a comerei mais até que se cumpra no Reino de Deus.” Porque após a consumação do grande sacrifício do Reparador, ainda era necessário um tempo para a ratificação, e para que os frutos desse sacrifício chegassem a seu termo. Le Nouvel Homme: 60.
Nessa confusão, a chave da ciência não deixou de estar ao alcance dos Ministros dos Altares, como em um centro de unidade que jamais deve abandonar: mas a maioria deles não a usava para penetrar no santuário: impediam mesmo o homem de desejo de aproximar-se, temendo que percebesse sua ignorância; e proibiam buscar conhecer os mistérios do Reino de Deus, embora segundo as próprias Tradições cristãs, o Reino de Deus está no coração do homem, e em todos os tempos a Sabedoria o instou a estudar seu coração. Tableau naturel…: XX
