Saint-Martin – Nossa alma
O objetivo final de um mistério em geral não pode ser o de permanecer inteiramente inacessível, seja à inteligência, seja a esse doce sentimento de admiração para o qual nossa alma foi feita, e que já reconhecemos como sendo, para o nosso ser imaterial, um alimento de primeira necessidade. Le Ministère…: De la Nature É por esses diferentes atos que a vida consegue substituir a essência corrompida de nossa alma, de nosso espírito e de nosso corpo, por uma essência pura. Le Ministère…: De la Nature Assim, realmente se sente, no meio desses grandes objetos, que a natureza se aborrece por não poder falar, e uma languidez que supera a melancolia sucede em nós à admiração, quando abrimos a alma a esse pensamento penoso. Le Ministère…: De la Nature De fato, a efusão do sangue da vítima deve operar em razão da posição e das propriedades dessa vítima; e se o sangue dos animais só podia desatar as cadeias corporais do pecado no homem, já que não têm nada acima do elementar; se o sangue dos profetas desatava as cadeias de seu espírito, deixando-lhe vislumbrar os raios da estrela de Jacó, a efusão do sangue do reparador devia desatar as cadeias de nossa alma divina, visto que esse reparador era ele mesmo o princípio da alma humana, e lhe desvendar os olhos o suficiente para que ela percebesse a própria fonte de onde extraíra o nascimento, e sentisse que era somente pela imolação interior e voluntária de tudo o que em nós nada no sangue e se apega ao sangue, que poderíamos satisfazer o desejo e a necessidade essencial que temos de nos reunir à nossa fonte divina. Le Ministère…: De l’Homme. Apenas a renovação de nosso ser aqui embaixo nos proporciona realmente o que os homens esperam em vão de suas superstições e de seus ídolos; e ainda essa renovação é apenas a preparação para nossa regeneração perfeita que, como se viu, só ocorre na separação de nossos princípios corporais, ou pela efusão de nosso sangue. Assim, após nossa morte, estamos como suspensos ao grande trinário, ou ao triângulo universal que se estende desde o primeiro ser até a natureza, e cada uma de suas três ações atrai a si cada um de nossos princípios constitutivos divinos, espirituais e elementares, para os reintegrar se somos puros, e para devolver à nossa alma a liberdade de remontar à sua fonte. E é isso que o Cristo permitiu que operasse fisicamente sobre si por seu suplício e em seu túmulo. Le Ministère…: De l’Homme. Ora, só podemos facilitar essa reintegração dos princípios à medida que fizermos renascer em nossa alma uma virgem eterna, em quem possa se incorporar o filho do homem com suas virtudes e potências, assim como só podemos fazer renascer em nós essa virgem eterna reanimando em nós nosso corpo primitivo ou o elemento puro. E é aqui que vamos observar e ver escritas no homem todas as leis dos sacrifícios figurativos de que nos ocupamos até agora, e dos quais o homem é o objeto, mesmo quando parece ser apenas o órgão e o instrumento. Le Ministère…: De l’Homme. É muito verdadeiro que se a palavra não sustentasse o universo em sua existência e não o dirigisse em todos os seus movimentos, ele pararia no instante em sua marcha, e reiteraria na não-aparência; É muito verdadeiro que se a palavra não sustentasse os animais e as plantas, eles retornariam imediatamente ao seu próprio germe, e seu germe ao espírito temporal do universo; É muito verdadeiro que se a palavra não sustentasse a ação e o jogo de todos os fenômenos do universo, nenhum mais se manifestaria aos nossos olhos; É igualmente verdadeiro para o espiritual, que se a palavra não sustentasse o pensamento e a alma do homem, como ela sustenta todos os seres do universo, nosso pensamento cairia no instante nas trevas, e nossa alma no abismo sobre o qual não flutuamos diariamente, apesar de nossos crimes, senão pela inesgotável e misericordiosa potência da palavra; assim, a menos que nos dediquemos voluntariamente à demência, e sejamos conscientemente nossos primeiros inimigos, não deveríamos cessar um instante de nos dirigirmos ao princípio das coisas, e de nos apoiar sem interrupção na palavra, sem o que é renegar nossa existência e renunciar a ser úteis às diversas regiões que esperam os benefícios do ministério do Homem-Espírito. Le Ministère…: De la Parole. Que pense, pois, que a ocupação contínua de Deus é separar o puro do impuro, e que o tempo inteiro é consagrado a essa grande obra. É assim que a opera em nós desde o momento de nosso nascimento, e mesmo desde nossa incorporação, pois desde então ele não busca senão libertar gradualmente nossa alma de sua prisão; e, no entanto, só opera essa libertação no fim de nossa vida: ainda isso depende da maneira como vivemos. Le Ministère…: De la Parole. Sim, se não somos seres extraviados e presos por nosso inimigo, podemos abrir os poros de nosso espírito, de nosso coração e de nossa alma, de tal forma que a vida divina os penetre a todos, que nos impregne do elemento puro, que, apesar do definhamento a que a idade expõe nossos órgãos materiais, exalemos todos os perfumes da região vindoura, e que sejamos assim órgãos ambulantes da luz e da glória de nossa soberana fonte: e tal era nossa primitiva destinação, visto que devíamos ser unidos e animados do espírito e da palavra que produz por si mesma todas essas coisas. Le Ministère…: De la Parole. Mas este medicamento é tão necessário ao nosso restabelecimento, que aqueles que não o receberam não podem comer utilmente para si o pão da vida, e não se tornam ouro puro. Enfim, deve pressionar e trabalhar a alma sem descanso, sem interrupção, como o tempo trabalha constantemente todos os corpos da natureza, para os reconduzir à pureza, à simplicidade e à viva atividade de seus princípios constitutivos. É por aí que se abre em nós uma fonte viva, que é nutrida e mantida pela própria vida; e é por esse meio que conseguimos apoderar-nos de uma natureza de alegrias que não passam, e que estabelecem de antemão em nós, permanentemente, o reino eterno do que é. Le Nouvel Homme: 1. É fácil sentir que este medicamento não deve ser confundido com as tribulações terrenas, com os males do corpo, com as injustiças que podemos receber de nossos semelhantes, e que mantêm nossa alma em angústia. Todas essas coisas são ou para a punição da alma, ou para sua prova, mas só lhe dão uma sabedoria temporal; ora, não podemos receber a vida divina senão por preparações de sua mesma ordem; e o medicamento de que falamos é essa preparação exclusiva. Feliz aquele que perseverar até o fim a desejá-lo, e a aproveitá-lo todas as vezes que tiver a felicidade de senti-lo! Experimentará por isso que o homem pode ter coisas tão grandes a dizer, que não é mais preciso que seja ele a dizê-las, e que deve esperar que lho façam dizer ou escrever. Le Nouvel Homme: 1. Não é, portanto, um simples efeito místico, nem uma simples operação metafísica que ocorre em nós quando o Verbo Divino nos regenera e nos chama pelo nome para nos tirar de nosso túmulo; é uma obra viva, e da qual todo o nosso ser espiritual e corporal experimenta fisicamente a sensação, visto que essa palavra é vida e atividade; e quando Lázaro saiu de seu sepulcro à voz do Senhor, seus membros não experimentaram tanta sensação real quanto nós experimentamos em nossa regeneração espiritual, porque, depois de ter descido ao túmulo, sua alma passiva, não podendo receber a sensação da morte e do frio sepulcral, não podia tampouco compará-la com a sensação da vida que então se introduzia nele, e parecia criá-lo pela primeira vez: ao passo que nossa alma imortal não desce ao lago da morte espiritual sem sentir todo o seu horror; e, consequentemente, quando ela recupera a sensação da vida, deve ser com uma sensibilidade inexprimível. Le Nouvel Homme: 4. Assim, não devemos ser outra coisa senão o efeito real desses três atos; e a diferença entre Deus e nós é que ele é um Deus pensante, um Deus falante,1 um Deus operante, e nós somos um Deus pensado, um Deus falado, um Deus operado; e tais são as maravilhosas potências, luzes, virtudes, destinadas a nutrir o nosso ser. Enfim, tais são os tesouros prometidos à nossa alma, já que anunciamos acima que a divindade devia nos atravessar por completo para poder estender-se até o amigo fiel que espera de nós essa divina nutrição, e para que, interiormente e exteriormente, possamos cumprir os planos originais de nosso princípio. Le Nouvel Homme: 5. Mas se antes que a divindade nos penetre e nos atravesse em seu esplendor e em sua glória, é preciso que nos atravesse em sua ignomínia e em sua dor, é necessário também que faça em nós uma primeira operação, e essa operação é nos fazer anunciar pelo anjo que o espírito santo deve sobrevir em nós, que a virtude do altíssimo nos cobrirá com sua sombra, e que é por isso que o santo que nascer de nós será chamado o filho de Deus; ora, para que essa anunciação possa nos ser feita, é preciso que sejamos renovados na verdadeira inocência, e que três virgens mais antigas que Maria nos tenham purificado em nosso corpo, nossa alma e nosso espírito; isto é, que nos tenham tornado virgens como elas. Quando por nossa constância e nossos2 esforços tivermos recuperado essa tríplice virgindade, a anunciação se faz em nós, e não tardamos a perceber que a concepção santa também se fez, o que nos coloca na situação de cantar o cântico de Maria, quando nossos parentes nos saúdam e nos abençoam pelo fruto de nossas entranhas, como Maria foi saudada e abençoada por Isabel. Le Nouvel Homme: 6. É de fato por essas doces consolações que o círculo das coisas se encerrará para aqueles que souberam deixar entrar em si o Deus sofredor: pois o círculo das coisas é composto apenas de seres em contração e em sofrimento, o que faz com que o universo nos mostre o Deus sofredor, tão bem quanto o pode fazer nossa alma. É o que também faz com que devamos considerar com respeito e reconhecimento todos os objetos que essa natureza encerra, visto que o menor deles é fruto da caridade divina que não cessa de modificar seu amor segundo todas as vias possíveis, a fim de fazer chegar sua força, sua vida e sua luz até nossas regiões mais materiais e mais tenebrosas. Feliz aquele que tiver considerado o universo sob esse aspecto, e que tiver recolhido por esse meio um número suficientemente grande dessas centelhas divinas, para lhe prometer um facho no último dia! Le Nouvel Homme: 6. Mas notemos por qual razão essa operação do espírito constitui a verdadeira igreja; é que é a palavra eterna que então se grava sobre a pedra fundamental que escolhe, como o reparador gravava sua própria palavra na alma de São Pedro, a quem falava face a face. Sem a impressão dessa palavra Divina em nossa alma, a igreja não se eleva; como vemos que na ordem temporal os edifícios que os reis se propõem a construir só começam a se elevar quando, segundo o uso recebido, o nome do fundador é inscrito na primeira pedra que ele é considerado, por isso, ter posto ele mesmo. Le Nouvel Homme: 8. Porque a alma do homem foi produzida para servir ao mesmo tempo de receptáculo e de intermédio à luz; e assim como vasos transparentes e cheios de água límpida, nos transmitem a doce e viva emanação desses numerosos raios que se reuniram e se prepararam em seu seio, da mesma forma nossa alma deve abraçar os raios do infinito que saem do centro da cidade santa, e uni-los às nossas próprias faculdades que são finitas, a fim de que por essa divina aliança,3 sendo nós mesmos vivificados, e tornados resplandecentes pela clareza desses raios, possamos fazê-la sair de nós, mais reunida, mais temperada, e mais apropriada às necessidades dos povos do que quando age em sua livre dispersão e em sua vasta imensidão; e tal será o emprego e o destino das portas da Jerusalém futura.4 Le Nouvel Homme: 8. Digamos incessantemente uns aos outros: o medicamento espiritual quer nos devolver a saúde e a vida; o Deus universal quer passar inteiramente por nosso ser a fim de chegar ao amigo que nos acompanha; ele quer passar sofrendo, antes de passar em sua glória, ele quer romper os laços que nos acorrentam na caverna dos leões e das feras ferozes e venenosas, ele quer regenerar nossa palavra pela impressão de sua própria palavra, ele quer fundar sobre nossa alma sua igreja, para que as portas do inferno nunca prevaleçam contra ela, ele quer unir-se a nós para operar conosco uma geração espiritual cujos frutos sejam tão numerosos quanto as estrelas do firmamento, e possam como elas fazer brilhar universalmente sua luz; e todos esses bens que ele quer nos proporcionar, ele quer realizá-los em nós pela anunciação de seu anjo, e pela santa concepção de seu espírito, pois é aí o termo final de todos os seus desígnios e de todas as suas manifestações: louvemo-lo na magnificência de suas maravilhas, e na abundância de seus tesouros; mas que seja no caminho e fazendo nossa jornada que assim ocupemos nosso pensamento; para que essas santas meditações nos sirvam para suavizar as fadigas da viagem, e não para nos deter. Le Nouvel Homme: 8. Não procuremos outro chefe. Não foi ele quem chamou a alma do homem e lhe disse: sobre esta pedra edificarei a minha igreja? Mas a nossa alma abraça e penetra todo o nosso ser, como o espírito do Senhor abraça e penetra todo o universo; assim, cada porção de nós, cada uma de nossas faculdades, cada um de nossos pensamentos, cada um de nossos movimentos podem, portanto, transformar-se em tantas igrejas onde o nome do Senhor seja perpetuamente honrado; é por isso que o nome do Senhor será louvado do oriente ao ocidente, do norte ao sul, e em toda a extensão da terra. É essa a função desse recém-nascido a quem o espírito acaba de dar à luz; pois, seu ministério circulará no quaternário; assim, o homem terá de se ocupar das funções Divinas no ângulo do oriente, das funções espirituais no ângulo do norte, das funções da ordem mista no ângulo do oeste e das funções da justiça, do combate e do julgamento no ângulo do sul. Dali retornará sobre seus passos, para purificar e santificar novamente as regiões e lhes dar parte de seus triunfos e vir em seguida prestar homenagem ao triunfador universal, sem o qual não haveria nenhum conquistador. Le Nouvel Homme: 12. Mas repitamos, é nas mais profundas profundezas da alma humana que o arquiteto deve vir pôr o fundamento da igreja; e é preciso que as cimente com a carne, o sangue e a vida de nosso verbo, e de todo o nosso ser. Eis o trabalho mais penoso da regeneração; é aquele que incide sobre essa íntima substância de nós mesmos. Em meio aos suplícios que nosso corpo pode sofrer, podemos em nossa alma sofrer um ainda maior. Le Nouvel Homme: 12. Se o conselho celestial deve deliberar até mesmo em nosso próprio seio, disso resulta para nós uma lei poderosa, e que traz consigo a marca de um terror salutar; é que não deveríamos nos permitir um ato, nem um movimento que não fosse a sequência de uma deliberação desse conselho celestial que o próprio Deus não teme em manter em nossa alma; assim, todas as nossas obras não deveriam ser senão o cumprimento vivo e efetivo de um decreto Divino pronunciado em nós, como nossa existência espiritual é o cumprimento contínuo do nome sagrado que nos produziu, e que nos produz continuamente. Le Nouvel Homme: 13. Em breve também o Deus da vida vem visitar nossa alma, e podemos dizer então com júbilo: Deus vive em mim, Deus viverá em minha penitência; viverá em minha humildade, viverá em minha coragem, viverá em minha caridade, viverá em minha inteligência, viverá em meu amor, viverá em todas as minhas virtudes; porque prometeu que seria um conosco, todas as vezes5 que nos reclamarmos a ele em nome daquele que nos enviou para nos servir de sinal e de testemunho entre ele e nós. Esse sinal ou esse testemunho é eterno como aquele que no-lo enviou, assemelhemo-nos a esse sinal e a esse testemunho, e participaremos de sua divina e santa segurança, e seremos como ele tão cheios de vida, que a segunda e a primeira morte permanecerão longe de nós, e nos serão completamente estranhas. Le Nouvel Homme: 14. Sim, o coração do homem é um foco onde todas as palavras divinas se aglomeram e se acumulam, e onde estão em contínua fermentação. É essa fermentação das palavras divinas no homem que, por sua mútua reação, produz o movimento espiritual de nossa alma, e a preserva do estado de morte e estagnação; quem não sentiu fisicamente essa fermentação interior, ainda não pode ter a menor ideia da origem do homem, nem, consequentemente, de seu renascimento, ou do novo homem. Pois essa fermentação é o princípio exclusivo e necessário para nos fazer retomar a forma que perdemos, e se não temos o sentimento vivo e físico desse princípio, como teremos o sentimento dos efeitos que devem resultar dele, e das obras que teremos que produzir, ou seja, como poderemos cumprir nosso destino? Le Nouvel Homme: 19. Abramos, pois, a alma a essa acumulação das palavras divinas em nós, não oponhamos nenhum obstáculo à sua fermentação mútua, impedindo-as de se aproximarem e de reagirem fisicamente em nós, se queremos que nossas palavras, por sua vez, adquiram algumas propriedades físicas. Colhamos preciosamente os menores resultados dessa fermentação das palavras divinas em nós, pois foi assim que formaram o mundo, assim que o mantêm, e operam continuamente a existência da obra que produziram, e assim que formaram nossa alma, e querem novamente formá-la hoje, pois os caminhos da sabedoria são de uma constância e de uma uniformidade tão sublimes, para que o homem tenha mais facilidade em encontrá-los quando se desviou, e para que, do seio de suas próprias trevas, possa recuperar visões certas e positivas sobre leis que nunca deveria ter esquecido. Le Nouvel Homme: 19. Podemos dar uma razão muito simples: as unidades parciais que devemos incessantemente estabelecer em nós são os intermédios indispensáveis para que a ação divina se tempere antes de penetrar até o nosso centro; e assim como a divindade só se comunica por suas manifestações e por suas potências; assim também só podemos nos assemelhar a ela pelas manifestações de nossas faculdades e de nossas virtudes, que são os órgãos e6 as potências de nossa alma. Le Nouvel Homme: 21. Se não dissipamos, pois, as trevas materiais para encontrar o homem, e as trevas espirituais para encontrar Deus, como podemos sentir de fato essa verdade se cumprir em nós, como podemos de novo sentir Deus engendrar a alma, como podemos conhecer esse sábado que só se encontra em Deus, como poderemos ver aparecer em nós o novo homem, como podemos ver elevar-se em nós esse edifício, e esse templo imperecível onde o fogo sagrado deve queimar eternamente, e onde as vítimas não devem cessar de ser imoladas para a manifestação da glória7 e da potência do Deus que só pode ser conhecido e honrado pelo órgão daqueles que são santos? Le Nouvel Homme: 28. Sol divino, tu em quem todos os espíritos e todas as almas tiraram sua existência, tu que dominas sobre o centro de nosso mundo espiritual, como o Sol elementar domina sobre o centro de nosso globo, a ti só pertence o poder de iluminar ao mesmo tempo, como ele, todos os pontos de nossa atmosfera, e de equilibrar o peso das trevas pela abundância e vivacidade do dia que derramas sobre todas as partes da região divina que habitamos; a ti só pertence o poder de nos comunicar mesmo essa porção de luz que encarregas nossa alma de derramar depois sobre os diversos climas espirituais onde nos ligas. Le Nouvel Homme: 28. Enfim, esta mão divina desata a própria língua deste novo homem, para que ele possa provar àqueles que lhe falam que tem a felicidade de os entender, e que não deixou cair suas palavras. Desde então, a vida inteira deste novo homem será um crescimento contínuo e um desenvolvimento de todos os seus sentidos e de todas as suas faculdades espirituais, pelos quais ele testemunhará que o espírito veio a ele, e que o tornou seu órgão; ele procurará persuadir seus semelhantes de que esta mão do espírito é exclusivamente a única que pode fazer todas essas diversas operações em sua alma, como vemos que a natureza é a única que as opera nos sentidos físicos de nosso corpo, e que só podemos prejudicar nossa conformação e nossa regularidade se atrapalhamos, na menor coisa, essa operação da mão divina; ele lhes ensinará também que o dom da palavra é o último de nossos sentidos espirituais que a mão divina desata em nossa alma, como vemos que a palavra material é o último desenvolvimento que as crianças recebem. Le Nouvel Homme: 30. Lembremo-nos de que não há um único ponto do ser do homem sobre o qual essas sublimes palavras não devam ser pronunciadas, e que Deus não pede outra coisa, senão que o novo homem esteja em condições de as ouvir continuamente. Já fomos longe demais para nos surpreendermos com essa maravilhosa misericórdia. A grandeza do homem é um testemunho evidente da grandeza da obra de Deus para com a infeliz família humana; e, reciprocamente, a grandeza da obra de Deus é uma demonstração da grandeza do homem. Essa obra é tal que8 bastaria contemplá-la e percebê-la para renascer, e para nos restabelecermos nas regiões santas do amor e da sabedoria, de modo que não apenas o mundo das trevas e das ilusões desaparecesse para nós, mas que até todos os mundos de luz parecessem encontrar-se em nossa alma, como se encontram no pensamento de Deus. Le Nouvel Homme: 34. Tal é também a diferença das vias pelas quais os movimentos e as ordens nos chegam. Quando recebemos do alto ordens ou conselhos, o quaternário procede pela inteligência, a adesão, o zelo e a obra; quando é a alma que se move, procede pela afeição, o julgamento, a vontade e a expressão, porque, como estamos nas trevas, é necessário que submetamos os movimentos ao grande juiz que se assenta na região superior, e que deve sancioná-los. Mas enquanto não pusemos tudo em ordem em nosso ser, pode ser que intrusos se assentem no tribunal; que sancionem, seja por ignorância, seja por depravação, os planos mais perversos, e que nos coloquem, pelas obras que resultam, na situação de não poder mais receber do alto nem ordens, nem conselhos. Pois se um cego conduz outro cego, que podem tornar-se um e outro, e não é de temer que ambos caiam na vala? Le Nouvel Homme: 47. É por isso que o novo homem, mergulhando incessantemente em sua profunda humildade, dirá com Davi (Salmo 43:16): “Tenho diante dos olhos minha confusão todo o dia, e a vergonha que aparece em meu rosto me cobre inteiramente… Nossa alma está humilhada até o pó, e nosso ventre está como colado à terra. Levanta-te, Senhor, socorre-nos, e redime-nos para a glória de teu nome.” Le Nouvel Homme: 55.
