Saint-Martin (SMMHE, I) – Homem-Espírito
Isso também nos mostra o quanto o Homem-Espírito deve se encontrar desalinhado ao ser aprisionado pelos elementos materiais, e o quanto esses elementos materiais ou este mundo é insuficiente para sinalizar a Divindade: também, rigorosamente falando, nunca saímos do outro mundo ou do mundo do Espírito, embora tão poucas pessoas acreditem em sua existência. Não podemos duvidar dessa verdade, pois, mesmo para fazer valer as provas que tiramos da matéria ou deste mundo, somos obrigados a lhe emprestar as qualidades do espírito ou do outro mundo. A razão disso é que tudo se liga ao espírito, e que tudo corresponde ao espírito, como veremos a seguir. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Mas o Homem-Espírito tem ao mesmo tempo o efeito, o uso e a livre direção ou manipulação de todas essas coisas. Só quero dar de tudo isso um exemplo de matéria, e mesmo muito comum, mas por meio do qual o pensamento poderá subir mais alto naquele que for suscetível. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Este exemplo será, 1.) um campo de trigo que tem em si mesmo o efeito de todas essas leis da natureza. 2.) Um animal pastando, que tem o uso desse trigo, e que pode se alimentar dele. 3.) Um padeiro que tem em si a direção e a manipulação desse trigo, e que pode fazer pão com ele; o que indica muito materialmente que todas as potências da natureza são apenas parciais para os seres que a constituem, mas que o Homem-Espírito abrange por si só a universalidade dessas potências. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Quanto a todos esses direitos materiais que o Homem possui e que terminamos na manipulação do padeiro, se nos transportarmos em pensamento para a região real do homem, pressentiremos, sem dúvida, que todos esses direitos podem ser justificados de uma maneira ainda mais vasta e mais virtual, sondando e descobrindo as maravilhosas propriedades que constituem o Homem-Esprit, e quais são as altas manipulações que podem provir disso. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Sob o aspecto espiritual, o perigo para o homem é ainda maior, e sua despreocupação é ainda mais extrema; não só o Homem-Espírito caminha incessantemente ao lado de sua cova, pois está sempre perto de ser engolido ou devorado pela imortal fonte da mentira; mas até há muitos na espécie humana que não caminham continuamente em sua cova? e o homem cego nem sequer se ocupa dos meios de sair dela, e não se informa se algum dia sairá! PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Também me expliquei sobre as tradições, dizendo que cada coisa devia fazer sua própria revelação; que assim, em vez de provar a coisa religiosa apenas por tradições escritas ou não escritas, o que é o único recurso dos instrutores comuns, teríamos o direito de ir buscar diretamente nas profundezas que carregamos conosco, já que os fatos mais maravilhosos são apenas posteriores ao pensamento; que assim teria sido necessário ocupar-se do Homem-Espírito e do pensamento, antes de se ocupar dos fatos, e sobretudo dos fatos simplesmente tradicionais; que por isso teríamos podido fazer germinar ou sair de sua própria revelação, e o bálsamo restaurador de que todos nós temos uma necessidade indispensável, e a coisa religiosa em si que não deve ser senão o modo e a preparação desse bálsamo soberano; mas que nunca deve se colocar em seu lugar, como ela o fez tão frequentemente passando pela mão dos homens. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Mas o homem se enganaria se pretendesse avançar na obra do Homem-Espírito, sem ter reavivado em si essa seiva santa que se engrossou e congelou pela universal alteração das coisas. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Apoiar-me-ei finalmente nos privilégios religiosos dos quais o Homem-Espírito pode desenvolver em si os poderosos testemunhos, sem emprestar o auxílio de nenhuma espécie de tradição, e que, sendo desconhecidos do Homem-Matéria, provam ao menos por isso que a causa que o materialista defende não é suficientemente instruída para pretender, de sua parte, a um julgamento decisivo em seu favor. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Se o Homem-Espírito quisesse, portanto, abrir os olhos, ele logo reconheceria em si os inumeráveis socorros que a benevolência da suprema autoridade divina faz chegar até ele no lugar de sua detenção. Ele veria que se, devido à pequenez da Terra, ele estivesse errado em tomá-la como o centro dos movimentos celestes, esse equívoco era perdoável, na medida em que ele mesmo deveria ser o centro dos movimentos divinos na natureza, e que todos esses erros têm sua origem nesse sentimento secreto de sua própria grandeza, que o fez aplicar impropriamente à sua prisão os privilégios que ele só deveria aplicar à sua pessoa, e que, mesmo assim, não deixavam mais do que tristes lembranças em sua memória, em vez das gloriosas marcas que deveriam ter-lhe oferecido. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Acredito, portanto, que se o Homem-Espírito seguisse atenta e constantemente o fio socorredor que lhe é estendido em seu labirinto, ele conseguiria resolver de maneira positiva todos os problemas que ainda existem sobre a prisão em que está encerrado. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza De fato, embora as maravilhas das ciências naturais, e sobretudo as maravilhas da astronomia nos proporcionem prazeres que nos elevam, por assim dizer, acima deste mundo estreito e tenebroso, e que nos fazem saborear a superioridade de nosso pensamento sobre nosso ser puramente sensível; entretanto, essas próprias maravilhas, é preciso convir, não satisfazem a todas as necessidades do Homem-Espírito; e parece que se temos o poder de conhecer sensivelmente a natureza por todos os nossos sentidos, se temos o poder de medi-la por nossas ciências, precisaríamos de um terceiro poder que seria o de colocá-la em jogo. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Assim, nossos mais famosos cientistas da natureza, nossos mais famosos astrônomos deveriam por esta única observação estar persuadidos de que não desfrutam do complemento dos direitos do Homem-Espírito. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Terminarei aqui o que tinha a dizer sobre os corpos astronômicos, e passarei ao objetivo principal desta obra, que é tratar do repouso da natureza, do repouso da alma humana e do repouso da palavra; repouso ao qual deve concorrer o ministério do Homem-Espírito. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Mas é a palavra sabatizar que seria essencial que nos déssemos conta, a fim de melhor sentir o que devemos compreender pelo ministério do Homem-Espírito. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Quando, portanto, foi dito a Caim, após seu crime, que quando ele trabalhasse a terra, ela não lhe renderia seus frutos, tudo nos leva a pensar que se tratava, nesse trabalho, de outra cultura que não a cultura comum e ordinária; ora, essa outra cultura, que ideia poderíamos formar dela que não se enquadrasse no verdadeiro ministério do Homem-Espírito, ou nesse eminente privilégio que lhe é dado de poder fazer a terra sabatizar? privilégio, todavia, que é incompatível com o crime, e que deve cessar e ser suspenso naqueles que não caminham segundo a justiça. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Hoje, embora o modo de existência do homem tenha mudado prodigiosamente pelo efeito da grande alteração, o objeto da criação não mudou por isso, e o Homem-Espírito ainda é chamado à mesma obra, que é a de fazer a terra sabatizar. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Não temerei dizer que este glorioso sábado que o Homem-Espírito é encarregado de restituir à terra, é de ajudá-la a celebrar os louvores do princípio eterno, e isso de uma maneira mais expressiva do que ela pode fazer por todas as produções que ela deixa sair de seu seio. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza É igualmente verdade que, quando a mão suprema se une assim às potências elementares, ela então tem mais particularmente o homem como objeto nessas importantes conjunturas, seja para instruí-lo e despertá-lo se ele for culpado, seja para empregá-lo como mediador se ele for um obreiro do Senhor; pois o ministério do Homem-Espírito revivificado se estende sobre todos os fenômenos que podem se manifestar na natureza. PRIMEIRA PARTE - Da Natureza Como o Ministério do Homem-Espírito revivificado não se estenderia sobre todas as espécies de fenômenos que podem se manifestar na natureza, já que nossa verdadeira regeneração consiste em sermos reintegrados em nossos direitos primitivos, e que os direitos primitivos do homem o chamavam a ser o intermédio e o representante da Divindade no universo? PRIMEIRA PARTE - Da Natureza
