Saint-Martin – grande obra
A madeira desceu nas águas amargas para as adoçar e as tornar férteis; subiu para sua terra natural. Enviou rebentos que encontraram as águas preparadas. Enraizaram e produziram frutos. Rebentos poderosos, abraçarão as plantas fracas, servirão de apoio como a uma jovem videira. Torrente da vida, abram um curso até a raiz do coração do homem. Arrastem tudo o que a circuncisão do ferro cortante tiver cortado de heterogêneo, e preencham os campos áridos com suas águas tão límpidas quanto o diamante. Serei eu quem pode ir ao encontro de vocês? Ligado à terra como a erva dos campos, não estou condenado como ela a toda a aridez do inverno? Não me é preciso esperar que o suave calor da primavera venha derreter as águas salutares suspensas em duros blocos de gelo nas montanhas, e as faça correr abundantemente para dessedentar a humilde planície? Vocês causaram um grande luto no dia em que caí; vocês me cobriram do abismo. Vocês detiveram os rios que me regavam, vocês retiveram as grandes águas. Mas as árvores do Éden desceram comigo até os lugares mais profundos da terra. Elas me trarão de volta à região do ar livre e puro. Não serei eu quem afugentará os inimigos, quem curará os males de meus irmãos, e quem comandará meus súditos. Não serei eu quem tomará as chaves da morte e da vida, para abrir os arquivos onde estão depositados os segredos e as vontades do senhor. A fava das árvores do Éden operará para mim todas essas maravilhas. É a luz, é a vida. Ela colocará diante dos meus olhos todos os quadros da história natural do homem; e ela me ensinará quais são as funções que terei de cumprir para concorrer à grande obra de nosso Deus. O Homem de desejo: 25. Sim, estamos todos armados, e todos devemos vencer se quisermos chegar; mas não devemos vencer todos da mesma maneira. Uns têm que vencer em suas paixões, outros em falsos exemplos, nas convenções imperiosas do mundo, nos males corporais, nas tribulações do pensamento, nas desproporções de medida; enquanto um ainda está nas figuras, e o outro está nas realidades. Há quem tenha que suportar as dores da caridade universal, que se despertam em nós quando Deus nos envia alguns raios de seu ardente amor pela humanidade. Senhor, faz aproximar o céu inteiro do coração do homem; e que esse foco ardente o faça experimentar esses tormentos tão salutares! Espírito do homem, todos os obstáculos são compensados por dons e por virtudes análogas. O homem apaixonado não tem a força? O homem infeliz não tem a indústria ou a coragem? O homem fraco não tem a doçura e a prudência? O homem afligido pelas dores da alma, não recebe a luz, a confiança e a resignação? Os males que nos são enviados, jamais nos venceriam, se não repelíssemos os socorros análogos que os acompanham propositadamente. Espírito do homem, aplica esta consoladora observação à grande obra da divindade; vê quão vasta, sábia e doce é a distribuição de seus dons sobre os diversos eleitos. São encarregados de equilibrar e apagar todas as desordens ocultas ao homem de matéria. Sofrem sem dúvida dores inexprimíveis: mas quem poderia também expressar suas consolações? O Homem de desejo: 116. Comece cada dia, como o profeta, exterminando todos os pecadores da terra, e destruindo, na cidade do senhor, todos os que praticam a iniquidade. O primeiro grau da sabedoria é o temor a Deus; o segundo, a sede de todas as virtudes; o terceiro, o amor ao homem universal e particular; o quarto, o amor ao ser soberano e ao seu espírito. É por aqui que conseguiremos fazer brilhar o fogo de sua palavra. Dependeria do cuidado e do ornamento de nossas palavras o cumprimento de uma obra tão grandiosa? O Homem de desejo: 142. Elas se sucedem para ele como as ondas do mar, que só se retiram da margem para voltar a inundá-la no momento seguinte. A dor murmura incessantemente em seus ouvidos; ele a ouve como os longos mugidos dos ventos do sul. E o homem permanece tranquilo em meio a todas essas desordens! E mesmo que não se assustasse com elas, o tédio não o dominaria em meio a quadros tão uniformes? Será preciso chamar os aquilões e as tempestades para despertá-lo de seu torpor? Não tome este estado de morte por um estado de repouso; o repouso só se encontra na vida, e a vida só se encontra na ação. Os projetos de sabedoria e as resoluções que forma, para que servem, se não os realiza, e se não completa seus sacrifícios? Cada momento de nossa vida pode ser, em pequeno, uma repetição da grande obra. Meditarei cada dia estas palavras: nas comunicações, o espírito está fora de nós. Em nossos favores de inteligência, ele está acima de nós. No exercício de nossas potências, ele está abaixo de nós. No sonambulismo, ele está longe de nós. É somente pela ação, pela oração e pela caridade que ele está em nós, perto de nós e ao redor de nós. O Homem de desejo: 171. Mas como esta substância só pode operar nestes três atos para nos dar em toda parte uma vida nova, ela só pode fazer esta grande obra por uma tripla transmutação, e nos dando uma nova alma, um novo espírito e um novo corpo. O Ministério: Da Natureza. Ora, como esta aliança de restauração se encontra semeada em todos os homens por suas gerações sucessivas, eles estão sempre prontos a ver despertar em si este germe, e a considerar os ídolos humanos que lhes são apresentados, como a expressão e o cumprimento desta aliança cuja necessidade os impele, embora este sentimento secreto que ela lhes ocasiona seja tão confuso. Além disso, estão sempre prontos a formar para si mesmos, tanto interior quanto exteriormente, modelos sensíveis, pelos quais teriam tanto desejo que esta grande obra se operasse e se cumprisse para eles. O Ministério: Do Homem. Às vezes, este homem de desejo se deleita em suas doces perspectivas que seu pensamento lhe mostra, e que visam nada menos que persuadi-lo de que esta grande obra deve ser possível, de acordo com a promessa. Às vezes, até se sente movido por santos impulsos que o levam a crer que poderia, por sua fé, realizar algumas partes desses sublimes planos; e não há alegrias então que não o dominem. Mas quando se consulta escrupulosamente sobre este ponto, eis a resposta que recebe: Todas as vias divinas são dirigidas pelo amor: os poderes de Deus são ilimitados, na verdade, e podem tudo, exceto o que contraria o amor. Ora, é por amor que Deus temporiza; é porque ama tudo que quer dar a todos os meios e os tempos necessários para se encherem dele, e para que nada retorne a ele vazio dele. Ao apressar as operações e os tempos, ele poderia seguramente fazer desaparecer todas as aparências falsas e tenebrosas que retêm o espírito como cativo; mas poderia também, por isso, fazer desaparecer o próprio espírito que seria arrastado com a aparência, se ainda não estivesse saturado da tintura divina; ora, esta tintura só pode infiltrar-se por graus. Se penetrasse subitamente e de uma só vez, o levaria a medidas tão violentas que excederiam suas forças, e às quais não poderia resistir. O Ministério: Da Palavra. Que pense, então, que a ocupação contínua de Deus é separar o puro do impuro, e que o tempo inteiro é consagrado a essa grande obra. É assim que Ele a opera em nós desde o momento do nosso nascimento, e mesmo desde a nossa incorporação, pois desde então Ele só procura libertar gradualmente a nossa alma de sua prisão; e, no entanto, Ele só opera essa libertação no fim de nossa vida: e ainda isso depende da maneira como vivemos. O Ministério: Da Palavra. O primeiro homem deixou devastar esses sete domínios pelo crime, e nos expôs a todos à necessidade de trabalhar, como ele, para reabilitá-los em nós, antes de trabalhar para reabilitá-los ao nosso redor. O agente supremo prestou seu auxílio ao primeiro homem, desde o instante do crime, para ajudá-lo a empreender com sucesso a grande obra de sua reabilitação. Esse mesmo agente supremo não cessa de prestar seu auxílio ao novo homem, para ajudá-lo a se regenerar em suas leis, e em suas medidas particulares; é por isso que viu renascer em si os sete canais que deveriam primitivamente torná-lo o instrumento ativo da Divindade, é por isso que se retirou no deserto, a fim de se separar totalmente do que não tinha relação com seus elementos primitivos. Enfim, é por isso que, cheio de confiança naquele que não o perdeu de vista, e em todos os germes1 de regularidade, de força, de justeza, de luzes, de sabedoria, de potências e de verdades que essa mão suprema semeou em si, ele vai abandonar seu deserto, e espalhar para fora os frutos que, graças à onipotência, soube fazê-los produzir por sua cultura cuidadosa e vigilante. O Novo Homem: 34. É, portanto, ao holocausto e à morte de seu espírito que todos os seus esforços devem ser consagrados, e é ao cumprimento dessa grande obra que todas as suas inteligências e todas as suas potências devem ser incessantemente empregadas; pois se morre de morte em seu espírito antes da morte de seu corpo, deve temer que, após a morte de seu corpo, seu espírito só possa viver de morte em vez de viver de vida. É preciso, portanto, que depois de ter sido o brinquedo do povo ignorante que está em si, depois de ter sido levado ao suplício em meio aos ladrões e à iniquidade da qual se aproximou outrora, finalmente depois de ter sido aplicado na cruz, e depois de ter tomado o vinagre que lhe é apresentado, diga como o Reparador: tudo está consumado, e que, tendo baixado a cabeça, entregue o espírito como ele. O Novo Homem: 67. Enfim, sendo a vontade de alguma forma o sangue do homem intelectual e de todo Ser livre; sendo o agente pelo qual somente podem apagar em si e ao seu redor os traços do erro e do crime, a revivificação da vontade é a principal tarefa de todos os Seres criminosos: e realmente, é uma obra tão grande, que todas as potências nela trabalham desde a origem das coisas, sem ainda terem conseguido operá-la geralmente. Quadro natural…: VII. Mas como o emprego dos seres sensíveis na grande obra da sabedoria Divina se prende a leis e a conhecimentos superiores, este assunto está muito acima do alcance da maioria, para esperar que, levando mais longe nossas reflexões, elas fossem geralmente entendidas. Quadro natural…: VII. Todos os corpos da Natureza tendem a despojar-se de suas cascas grosseiras, para restituir ao Princípio que os anima o brilho que ele traz em si mesmo. O fogo particular a cada um desses corpos coopera incessantemente para essa grande obra, purificando continuamente as substâncias das quais se nutrem. Quadro natural…: VIII. É lá a grande obra, ou essa mudança de vontade para a qual dissemos que todas as Potências da Natureza estavam empregadas desde a origem das coisas sem ainda terem podido operá-la. Quadro natural…: VIII. Mas há uma verdade mais vasta e mais convincente: é que, de acordo com os princípios expostos sobre a degradação do homem e sobre os laços pelos quais ele sempre se mantém ao Princípio do qual descendeu, é necessário que esse Princípio tenha comunicado aos homens especialmente encarregados de concorrer para a grande obra todos os pensamentos relativos ao seu estado antigo, atual e até mesmo futuro, a fim de lhes mostrar ao mesmo tempo o que haviam perdido, o que sofriam e o que deviam esperar. Quadro natural…: X. Em vez do Espírito de Deus, as traduções deveriam ter dito, a ação fecundante desses Agentes, Elohim, prepostos à produção dessa grande obra; pois no hebraico os nomes próprios são reais e essencialmente constitutivos. Ora, a palavra Rouach, que foi traduzida por Espírito, não é dessa classe; ela significa apenas o sopro, a expiração; quando, portanto, se aplica às emanações e ações superiores, só pode ser por analogia ao sopro dos ventos, à expiração dos animais, a qual em sua classe é uma espécie de emanação; mas nem em um nem em outro exemplo, essa espécie de emanação deve levar o nome do próprio Ser que é seu Princípio; e não se deve confundir a ação com o agente, se se quer caminhar com justeza. Quadro natural…: XII. Ao restabelecer o culto, Esdras restabeleceu as ofertas de trigo, vinho e azeite, que haviam sido usadas nos bons dias do Povo Hebreu: não esconderei que estas três substâncias combinadas são os fundamentos materiais sobre os quais repousa o edifício intelectual da Grande obra do restabelecimento das coisas; porque uma é o recipiente, a outra o agente ativo e gerador, e a terceira é o vínculo intermediário. Quadro natural…: XVI. Poderíamos ouvir atentamente esses Mestres, se depois de nos terem instruído por esses princípios, nos instigassem a examinar se não há um complemento para essa grande obra: e aqui veremos nascer uma nova ordem de coisas. Quadro natural…: XVII. Foi, portanto, necessário que o Agente universal, encarregado da grande obra da regeneração de todas as Potências, penetrasse as substâncias mais íntimas de todo ser impuro, que comunicasse seus poderes ao centro mesmo de todas as coisas temporais; que para esse efeito, aparecesse em meio ao tempo, como em meio a todas as ações dos seres emanados, a fim de agir mais eficazmente e de uma só vez, sobre o centro e sobre a vida de todas as circunferências. Quadro natural…: XVII. “De fato, o quaternário que dirige necessariamente a grande obra, deve dirigir as suas consequências, como dirigiu as suas diferentes preparações; pois este número que se liga tanto à expiação quanto à regeneração, se estende ou se restringe em razão do objeto que os seres têm a cumprir. O primeiro homem caminhou por quarenta para obter a remissão de sua falta, e a reconciliação de sua posteridade temporal: Jacó caminhou por quarenta para obter a reconciliação de sua posteridade espiritual: o Libertador dos Hebreus caminhou por quarenta para obter a libertação de seu Povo: o grande Regenerador preparou a reconciliação universal por um quádruplo cubo, porque sendo o pivô, o centro e o primeiro de todos os tipos, a ele só cabia a obra do meio dos tempos, pela qual abraçava os dois extremos, como sendo depositário do complemento de todos os números. Quadro natural…: XVII. Do alto de seu trono, a Sabedoria Divina não cessa de temperar o mal que cometemos, e de absorver nossas iniquidades na imensidão de seu amor aqui-baixo o Regenerador universal deveu perdoar aos culpados, e quando os acusaram diante dele, deveu mostrar que era fazer uma obra maior enviá-los absolvidos do que condená-los. Quadro natural…: XIX. É assim que a ordem visível e a ordem invisível, sendo movidas por uma correspondência íntima, apresentam aos homens a unidade indivisível do móvel sagrado que faz tudo agir; não há mais para a Inteligência, nem inferior, nem superior entre os poderes supremos; ela não vê mais em todas as partes da grande obra senão um único fato, um único conjunto e, consequentemente, uma única mão. Quadro natural…: XIX. Ora, eis qual é a progressão da manifestação de suas potências. O Universo material é a expressão de sua palavra física, as Leis e os tesouros da primeira Aliança do Ser princípio com a posteridade do homem são a expressão de sua palavra espiritual: a grande2 obra operada pela segunda Aliança é a expressão de sua palavra divina. Quadro natural…: XX. Pareceria ao mesmo tempo necessário que essa grande obra fosse coroada na terra pela multiplicação das línguas. Quadro natural…: XX. Hoje mesmo, não tendo ainda nascido todos os homens, a posteridade humana não vê o conjunto dos fatos da unidade; ela não vê em ato, em toda a sua espécie, a obra universal da Sabedoria: essa grande obra, cujo objetivo é que todos os Seres tenham ao mesmo tempo diante dos olhos os sinais reais do infinito, e que, desaparecidas as fronteiras do tempo, todos tenham, como antes do crime, a prova intuitiva de que é o mesmo Deus quem conduz tudo. Quadro natural…: XXI. Pois não se deve esquecer que, se os homens fossem atentos e cuidadosos em se prestar aos desígnios da sabedoria, veriam, cada um em particular, operar-se neles, e em relação a eles, a mesma ordem de fatos, a mesma sequência de manifestações que vimos anteriormente ter-se operado em geral, em toda a nossa espécie para o cumprimento da grande obra. Quadro natural…: XXI. Se por essas vias mediadoras e secundárias, pode-se de alguma forma receber sempre o auxílio do supremo Agente, que em todas as épocas foi o artífice e o sustento dessa grande obra, e saborear incessantemente consolações particulares, é fácil julgar quais seriam as suas alegrias e seus sucessos, se pela sua confiança nesses auxílios e nessas consolações, se elevasse o suficiente para ser imediatamente sustentado por sua própria potência. Quadro natural…: XXI.
