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theosophos:gerhard-wehr-chjb-cosmosofia

Gerhard Wehr (CHJB) – Cosmosofia

CHJB:70-71

“Este universo inteiro é um grande milagre, e jamais teria sido reconhecido pelos anjos na sabedoria de Deus. Por isso a natureza do Pai se pôs em movimento para a criação da essência (Wesen), a fim de que os grandes milagres se tornassem manifestos. E então serão reconhecidos para a eternidade pelos anjos e homens, que verão tudo o que ele teve em sua capacidade.”

Como quase todas as afirmações “filosóficas” de Böhme, esta passagem de seu livro “Da Vida Tríplice do Homem” (1621) também está cheia de correlações e correspondências. Quem, como o sapateiro de Görlitz, pôde, à vista do “brilho jovial de um vaso de estanho”, lançar um olhar sobre o “caos” que precedeu o mundo, e ali viu a unidade última, englobando tudo, dos contrários, não pode mais, a partir de então, satisfazer-se com uma contemplação exclusiva dos detalhes. Nada lhe é mais estranho do que a busca de quaisquer que sejam os “especialistas”. O universalismo da visão é para Jakob Böhme o elemento fundamental da vida e do conhecimento. Para ele, o menor objeto, o mais aparentemente distante, encontra-se em relação com o Um. Em última instância, portanto, existe para ele apenas um único Mysterium magnum; é o que ele expressa na passagem citada: “Este universo inteiro é um grande milagre.” Esta é uma profissão de fé, uma afirmação fundada na experiência interior; é impossível, e aliás supérfluo, verificá-la. Esta unidade que ele constatou, Böhme não quer renunciar a ela por preço nenhum, nem em seu conhecimento de Deus nem no que ele tem do universo; é verdade, certamente, que esta mesma unidade se manifesta em uma trindade (mas não em três pessoas), e que ela contém uma estruturação altamente multiforme e toda uma sucessão de etapas dinâmicas da geração. Entretanto, a passagem que acabamos de citar, extraída da “Vida Tríplice”, também é característica da visão de Böhme no sentido de que só pode haver uma cosmosofia na medida em que ela envolva tanto o ser divino quanto o ser humano, o conhecimento de Deus e o do homem: “Por isso a natureza do Pai se pôs em movimento para a criação da essência, a fim de que os grandes milagres se tornassem manifestos.” Este é um primeiro aspecto a considerar: a criação, realizada pela mão do Deus-Pai, e que tende a se manifestar. O Deus oculto torna-se Deus revelado na medida em que é ativo como criador, e, além disso, na medida em que se volta para o homem e se torna homem a si mesmo. O outro aspecto da passagem citada não deve de forma alguma ser esquecido: “E então eles (os milagres) serão reconhecidos para a eternidade pelos anjos e pelos homens, que verão tudo o que ele teve em sua capacidade.” Isso significa que o homem, assim como os anjos — essas criaturas puramente espirituais e incorpóreas —, representa, por assim dizer, um órgão de conhecimento da divindade, órgão que serve para reconhecer a criação e, através dela, o criador. Deste processo, Cristo — que Böhme frequentemente chama “o coração de Deus” — não deve ser excluído, e nem a “virgem eterna Sophia”. Böhme continua assim: “E a imagem do número três como virgem eterna, que se encontrava na Santíssima Trindade, na sabedoria, na essência (Wesenheit) como figura, não teria sido reconhecida pelos anjos, por toda a eternidade, se o coração de Deus não tivesse se tornado homem. Então os anjos viram o brilho da majestade em uma imagem viva onde toda a Santíssima Trindade estava contida.”

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