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Gerhard Wehr (CHJB) – A Essência das Assinaturas e a Vontade de Conhecer

CHJB

Desejando ser bem compreendido, Böhme enfatiza que as assinaturas não são elas mesmas o verbo ou o espírito divino, mas apenas “o receptáculo ou o invólucro do espírito que ali se encontra; pois a assinatura está na essência, e é como um alaúde que permanece mudo e incompreendido enquanto não é tocado; mas assim que o faz ressoar, compreende-se sua conformação (Gestaltnis), ou seja, em que forma e estado ele se encontra, e segundo que voz é afinado. Da mesma forma, a designação da natureza é, em sua conformação, uma essência (Wesen) muda. É como um alaúde preparado que a vontade-espírito (Willen-Geist) fará ressoar. As cordas que forem tocadas ressoarão segundo sua qualidade”.

É a vontade de conhecimento do homem que lhe permitirá decifrar a escrita. Esta vontade é, por assim dizer, concebida para decifrar ou decodificar a linguagem das assinaturas: “No espírito (Gemüt) humano encontra-se a assinatura, preparada artisticamente segundo a essência de todas as essências (Wesen aller Wesen)”. Para Böhme, não existe limite fundamental do saber; ele não conhece uma “coisa em si” inacessível. Como elemento do mundo criado — ou ainda, como ele diz, do “verbo divino exalado” —, o homem é capaz, por sua própria natureza, de penetrar os mistérios do universo. Existe, certamente, para Böhme, uma condição prévia: só aquele que é iluminado pode ver dentro do “centro da natureza”; o dom natural, no homem, precisa ser despertado.

Entretanto, como se manifesta este “centro da natureza” que Goethe chamou “interior da natureza” e Rilke “espaço interior do mundo”, e que poetas e sábios de todos os tempos vislumbraram? No contexto de sua teoria das assinaturas, que está presente em filigrana em toda sua obra, Böhme se explica sobre o que ele chama “linguagem natural” (Natursprache); trata-se aí, segundo Ferdinand Weinhandl, de uma “peça mestra, mas desconhecida e mal compreendida em grande parte até agora, de sua doutrina”. Não é por acaso que Böhme compara as assinaturas a um alaúde. Desde o primeiro capítulo da obra “De signatura rerum”, encontra-se a ideia fundamental segundo a qual “pelo som, ou a linguagem, a forma (Gestalt) se desenha segundo uma conformação (Gestaltnis) diferente… pelo som, o espírito desenha sua própria conformação… O interior se manifesta pelo som da palavra”. Dado que não existe na natureza nenhum elemento que não revele “sua forma interior também pelo exterior”, e que assim o interior tende perpetuamente a se exteriorizar, o homem tem a possibilidade de invocar a realidade pelo verbo falado que é o eco do verbo original. Nem mais nem menos que no caso do “verbo todo-poderoso” do poeta, não se trata de uma simples descrição de um objeto exterior: há ali algo de qualitativamente diferente. As sílabas e as combinações de sons da linguagem contêm elas mesmas um elemento qualitativo, mais rico em significado do que a interpretação textual e convencional, “já que a natureza deu a cada coisa sua linguagem segundo sua essência e sua conformação; pois é na essência que encontra sua fonte a linguagem ou o som. E o Fiat desta essência forma a qualidade da essência no som ou na força que dela emana… Cada coisa possui sua boca para se revelar. E esta é a linguagem natural em que cada coisa se exprime a partir de sua qualidade e se revela sempre a si mesma”. É com base nos “três princípios” que Böhme desenvolve sua “fisionomia dos sons”. Esta, de fato, não envolve simplesmente as vinte e quatro letras do alfabeto, mas — considerando os três princípios envolvidos — três vezes vinte e quatro letras.

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