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Faivre (FETC) – Eckartshausen, Unidade primordial

ECKARTSHAUSEN E A TEOSOFIA CRISTÃ (FETC) — DEUS

Eckartshausen, como se vê, mal sofreu a influência de Jacob Böhme no que diz respeito à Unidade primordial. Já sabemos que em sua correspondência com Kirchberger, ele evita responder às perguntas que seu amigo lhe faz sobre o teósofo de Görlitz. A palavra Ungrund aparece nas obras de Eckartshausen, mas por essa palavra ele entende menos uma unidade indiferenciada e criadora de liberdade do que uma essência pouco acessível, em sua pureza original, aos nossos sentidos limitados. Isso porque, a propósito da divindade considerada em si mesma, Eckartshausen prefere escrever em termos de teologia negativa, reservando suas especulações teosóficas aos problemas da criação e das quedas originais. O nome de Deus é inexprimível. Como compreender o infinito? Deus é um espírito que não se pode comparar a nenhum espírito criado, não podemos fazer uma ideia de todas as suas perfeições. Há uma tendência a venerar o que nos ultrapassa; o que dizer então da majestade de Deus!. Experimenta-se a impossibilidade de representar Deus, lançando-se para fora das coisas, em direção ao divino. Essa teologia negativa de Eckartshausen se assemelha muito ao mysterium fascinans de que fala Rudolf Otto. Deus nos revela apenas o que quer, mas a penumbra não é preferível às trevas?. Todavia, uma vez que não podemos apreender diretamente o que está em Deus, uma vez que há entre Deus e nós, não uma diferença de grau, mas de essência, podemos recorrer à analogia, que de forma indireta nos permitirá aceder a um estágio superior de conhecimento. Deus nos faz assim descobrir coisas que não são inteiramente compreensíveis; mas isso faz recuar os limites do nosso conhecimento. Certamente há uma analogia entre as qualidades que atribuímos a Deus e as que Ele realmente tem. E então, se não se pode compreender, ao menos temos a possibilidade de sentir, pois Deus é amor. Se ele se torna compreensível para nós, é pela natureza que é seu órgão, o intérprete de Sua essência, o arauto de Sua existência. Existe uma certa maneira sensível de contemplar (Gefühle der Anschaulichkeit), ignorada por muitos. Deus, esse Ensoph inacessível — como dizem os Cabalistas —, pode, portanto, ser pensado em Suas expressões espirituais, Suas energias manifestadas, assim como se compreende a unidade pela progressão dos números; graças a isso, é possível tocar a ponta de Sua vestimenta. Além disso, a expressão das energias divinas era chamada pelos sacerdotes do santuário de “vestes de Deus”. Compreendemos Ele, portanto, através de Sua magnificência; é preciso distinguir Deus como luz inacessível, e Deus nos reflexos que Ele nos apresenta. Esses reflexos, ou vestimenta Dei, como lemos em Ezequiel, são a forma corporal indestrutível que Ele dá a Si mesmo; é a substância que os Antigos chamavam Charmai, ou luz sagrada. Considerados em relação à criatura, esses reflexos são os sete Espíritos de Deus; em relação a Deus, eles são o Verbo no princípio. São os Nomes sagrados ou as qualidades divinas pelas quais Ele se manifesta aos Seus Eleitos. Têm algo de verdadeiramente corpóreo (leibhaftig), uma espécie de sensorium no qual o homem pode conhecer com seus sentidos. Foi assim que Abraão viu o Nome sagrado El Shaddai e suas emanações (Ausflüsse) e reconheceu o Messias prometido. Moisés viu nele o Nome de Jeová por um sensorium ainda mais elevado, e descobriu ali o modelo das cerimônias sagradas até Cristo.

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