Saint-Martin (SMTN) – Oração
É precisamente a falta dessas reflexões que conduziu em todos os tempos os homens das diversas religiões à indiferença sobre esses objetos; e os fez não apenas negligenciar as substâncias, os tempos e as formas que devem entrar em seu culto, mas até a própria oração, sob o pretexto de que o Primeiro Ser não precisa dela e que basta aos homens não fazerem o que chamam de mal, quando a oração é para seu Ser intelectual o que a respiração é para seu corpo. Quadro Natural…: VIII
Finalmente, o homem não é o juiz da oração; é apenas seu gerador e órgão: e assim como as emanações dos corpos terrestres, ao se elevarem nos ares, desaparecem para nossos olhos materiais e nos deixam na incerteza, tanto sobre seu curso quanto sobre o lugar que lhes espera na imensidade dos reservatórios da natureza, da mesma forma as orações dos homens, não permanecendo na terra, tornam-se inacessíveis à nossa vista, a nossos julgamentos, e não podemos pronunciar-nos nem sobre seu valor, nem sobre o curso que seguem para se aproximar da luz, nem sobre o posto que o primeiro dos Princípios lhes destina ao redor de Seu Trono. Quadro Natural…: VIII
O hábito que têm de empregar a oração para o sucesso de sua obra, e sua persuasão de nunca poder obtê-lo sem esse meio, não deve impressionar. Pois é aqui que seu erro se manifesta com mais evidência; já que seu trabalho, limitando-se a substâncias materiais, não se eleva acima das causas segundas. Quadro Natural…: X
Oferecia os mesmos atributos que o Tabernáculo cujo modelo foi dado ao Povo Judeu por ocasião da promulgação da Lei. Pois havia nesse Templo um lugar para os sacrifícios, como se operavam no Tabernáculo. Havia em um e em outro, um lugar destinado à oração, que era como o órgão das luzes e dos dons, que a mão benfazeja do Eterno derramava sobre esse Povo eleito e sobre seus chefes. Quadro Natural…: XIV
Via ali mesmo os sinais sensíveis tanto de suas antigas fruições quanto dos frutos que serviam de recompensa a sua oração: pois as Tradições hebraicas deixam entender como esses sacrifícios eram coroados, ao nos ensinar que o templo se enchia da glória do Eterno, ou desses indícios positivos de pensamentos puros de que vimos que o homem estava cercado. Quadro Natural…: XIV
É pois ali que o homem, descobrindo a ciência de sua própria grandeza, aprende que, apoiando-se numa base universal, seu Ser intelectual se torna o verdadeiro Templo; que os archotes que devem iluminá-lo são as luzes do pensamento que o cercam e o seguem por toda parte; que o Sacrificador é sua confiança na existência necessária do Princípio da ordem e da vida; é essa persuasão ardente e fecunda diante da qual a morte e as trevas desaparecem; que os perfumes e as oferendas são a oração, são seu desejo e seu zelo pelo reino da exclusiva unidade; que o altar é essa convenção eterna, fundada sobre sua própria emanação, e à qual Deus e o homem vêm se render, como que de comum acordo, para renovar a aliança de seu amor, e para aí encontrar, um sua glória, e outro sua felicidade; numa palavra, que o fogo destinado à consumação dos holocaustos, esse fogo sagrado que jamais deveria se extinguir, é o dessa centelha divina que anima o homem e que, se tivesse sido fiel a sua lei primitiva, o teria tornado para sempre como uma lâmpada brilhante e socorredora, colocada no caminho do Trono do Eterno, para iluminar os passos daqueles que dele se afastaram; porque enfim o homem não deve mais duvidar que não recebeu a existência senão para ser o testemunho vivo da luz e o sinal da Divindade. Quadro Natural…: XVII
Esse culto será mesmo superior ao culto temporal, a essa Lei da graça estabelecida pelo Regenerador universal, onde ainda deve haver tempos, intervalos, objetos mistos e passageiros; pois então não haverá mais estações diferentes, nem nascente nem poente para os Astros que nos iluminarão; mais passagens da luz às trevas; mais momentos marcados para a oração do homem, nem momentos em que suas necessidades ou suas imundícies o obriguem a suspendê-la. Quadro Natural…: XXI
