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Rolle – Fogo do Amor, vida eremítica (13)

Richard Rolle — Fogo do Amor (XIII) A vida solitária ou eremítica é superior à vida em comum ou à vida mista Quantos não há que colocam a vida em comum absolutamente acima da vida solitária? Afirmam que, se queremos alcançar o cume da perfeição, devemos apressar-nos a unir-nos a uma comunidade. Com esses, não vale a pena discutir muito, pois, se não louvam a vida solitária, é porque a ignoram. De fato, é uma vida que nenhum homem pode conhecer neste mundo, exceto aquele a quem Deus concedeu vivê-la, e ninguém pode discuti-la com sabedoria se não souber exatamente em que consiste e como se pratica. Certamente, se os detratores a conhecessem melhor, tributariam-lhe mais louvor do que a qualquer outra. Mas há outros adversários, cujo erro é mais grave, que não cessam de censurá-la, dizendo: “Ai daquele que está só”, e aplicam essas palavras não a quem está sem Deus, mas a quem está sem companhia. No entanto, só está verdadeiramente só aquele com quem Deus não está. Muito diferente é o caso daquele que abraça a vida solitária por amor a Deus e a vive como convém. A lembrança do nome de Jesus nunca deixará de enchê-lo de alegria, e, porque não recuou diante de uma vida despojada das consolações humanas, receberá com maior abundância as que Deus lhe conceder. Frequentemente desfrutará de visitas espirituais totalmente desconhecidas daqueles que vivem em comunidade. É o que diz a Escritura sobre a Esposa: “Levá-la-ei ao deserto e falarei ao seu coração” (Os 2,14). Com razão, portanto, os eremitas escolhem essa vida solitária. Vivem na caridade de Deus e do próximo, desprezam os louvores do mundo, fogem, quanto podem, dos olhares dos homens e se julgam inferiores a todos. Odeiam a ociosidade, resistem virilmente às paixões da carne, só encontram sabor nas coisas do céu e as perseguem com ardor. Longe de desejar os bens da terra, abandonam-nos e colocam toda a sua alegria na oração. Por isso, muitos dentre eles são admitidos a saborear a doçura do banquete eterno. Como são puros de coração e de corpo, os olhos de sua alma são suficientemente límpidos para contemplar os cidadãos do céu e o próprio Deus; e porque não recuaram diante do cálice amargo da penitência e dos trabalhos mais árduos, são abrasados pelo amor que nasce da mais alta contemplação. A vida eremítica é verdadeiramente grande, se for vivida com grandeza. Aquele que leva essa vida deixa de lado todas as ocupações exteriores para se dedicar apenas à mais elevada contemplação. Por isso, sente ressoar dentro de si uma música celeste, cuja suave melodia o alegra — melodia que o barulho da multidão interromperia, impedindo, com demasiada frequência, qualquer oração. É ao solitário que o Salmista, em seu cântico de amor, atribui estas palavras: “Avancarei até o lugar do tabernáculo admirável, até a casa de Deus”, e descreve assim o modo de lá entrar: “Entre cantos de alegria e louvor, como num festejo” (Sl 41,5). Mas em outra passagem indica claramente que é preciso permanecer na solidão, longe do barulho e dos cantos exteriores, se se quiser receber essa música do céu e conservá-la na jubilação: “Afastei-me fugindo e permaneci na solidão” (Sl 54,8). O objetivo de todos os esforços nesta vida é ser abrasado pelo fogo do Espírito Santo e, uma vez tomado e renovado pela alegria do amor, deixar fluir livremente a exultação.

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