Filho de Deus [RSME:52-53]
Um homem liberado está sempre igualmente próximo de Deus e de si mesmo: nomeadamente no cumprimento da vontade divina. Pela sua obediência se torna um com aquele cuja vontade benevolente o inunda. A compreensão da união aqui implementada baseia-se numa identidade operacional: disposto a obedecer, num agora sempre atual, à vontade do Pai, o homem desapegado está tão próximo de Deus quanto o Filho eterno, torna-se Filho e penetra o coração paterno de Deus. — Podemos adivinhar que esta identidade entre a luz e o objeto iluminado, o Pai e o Filho gerado, terá consequências para a compreensão do ser em Mestre Eckhart. A partir de agora vemos: o contexto das fórmulas de união, em Mestre Eckhart, difere consideravelmente de um misticismo de visão onde se “contempla” a soberania divina e “esquecendo-se de todas as coisas, ignora-se completamente e penetra-se até em seu Deus” 1). Pelo contrário, na realização do desapego, o fruto que o homem produz é o próprio homem: é devolvido a si mesmo, trazido de volta da dispersão e constituído, no ser da sua alma, Filho de Deus.
