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Máximo o Confessor – Centúrias sobre a Caridade 3

Máximo o Confessor – Centúrias sobre a Caridade Terceira Centúria Tradução em grande parte feita a partir da versão inglesa da Philokalia, mas eventualmente utilizada a versão francesa. A tradução de cada centúria foi organizada em 4 páginas de no máximo 25 itens cada uma, para facilitar a leitura na Internet.

  • Um uso inteligente das imagens conceituais e seus objetos físicos correspondentes produz autodomínio, amor e conhecimento espiritual; um uso não inteligente produz libertinagem, ódio e ignorância.
  • “Preparas uma mesa perante mim…” (Sl. 23:5). Nesta passagem, “mesa” representa a prática das virtudes, pois foi preparada para nós por Cristo para usar “contra os que nos afligem”. O “óleo” que unge o intelecto é a contemplação das coisas criadas. O “cálice” de Deus é o conhecimento de Deus. Sua “misericórdia” é Seu Logos divino. Pois, através de Sua encarnação, o Logos nos persegue “todos os dias” até alcançar todos os que devem ser salvos, como fez no caso de Paulo (cf. Fil. 3:12). A “casa” é o reino onde todos os santos habitarão. “Longos dias” significam a vida eterna.
  • Quando usamos mal os poderes da alma, seus aspectos malignos nos dominam. Por exemplo, o mau uso da inteligência resulta em ignorância e estupidez; o mau uso da força irascível e do desejo produz ódio e libertinagem. O uso correto desses poderes gera conhecimento espiritual, discernimento moral, amor e autodomínio. Sendo assim, nada criado e trazido à existência por Deus é mau.
  • Não é a comida que é má, mas a gula; não a procriação, mas a impureza; não as coisas materiais, mas a avareza; não a estima, mas o amor-próprio. Portanto, apenas o mau uso das coisas é mau, e esse mau uso ocorre quando o intelecto falha em cultivar seus poderes naturais.
  • Entre os demônios, diz o bem-aventurado Dionísio, o mal se manifesta como ira irracional, desejo descontrolado pelo intelecto e imaginação impetuosa. Mas a irracionalidade, a falta de controle intelectual e a impetuosidade em seres inteligentes são privações de inteligência, intelecto e circunspecção. Porém, uma privação é posterior à posse de algo. Houve um tempo, então, em que os demônios possuíam inteligência, intelecto e circunspecção piedosa. Portanto, nem mesmo os demônios são maus por natureza, mas tornaram-se maus pelo mau uso de seus poderes naturais.
  • Algumas paixões produzem libertinagem, outras ódio, enquanto algumas geram tanto dissipação quanto ódio.
  • Comer em excesso e a gula causam libertinagem. Avareza e amor-próprio levam a odiar o próximo. O amor-próprio, mãe dos vícios, é a causa de todas essas coisas.
  • O amor-próprio é um amor apaixonado e irracional pelo próprio corpo. Seu oposto é o amor e o autodomínio. Um homem dominado pelo amor-próprio é dominado por todas as paixões.
  • “Ninguém jamais odiou a sua própria carne”, diz o Apóstolo (Ef. 5:29), mas a disciplina e a faz sua serva (cf. 1 Cor. 9:27), permitindo-lhe apenas comida e vestuário (cf. 1 Tim. 6:8), e mesmo assim só o necessário para a vida. Dessa forma, o homem ama sua carne com desapego, nutrindo-a e cuidando dela como serva das coisas divinas, suprindo-a apenas com o essencial.
  • Se alguém ama outra pessoa, naturalmente se esforça para servi-la. Se, então, um homem ama Deus, ele naturalmente se esforça para conformar-se à Sua vontade. Mas se ama a carne, ele a satisfaz.
  • Amor, autodomínio, contemplação e oração estão de acordo com a vontade de Deus, enquanto gula, libertinagem e coisas que as aumentam satisfazem a carne. Por isso “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rom. 8:8). Mas “os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” (Gl. 5:24).
  • Se o intelecto se inclina para Deus, trata o corpo como servo e lhe dá apenas o necessário para sustentar a vida. Mas se se inclina para a carne, torna-se servo das paixões e fica sempre pensando em como satisfazer seus desejos.
  • Se queres dominar teus pensamentos, concentra-te nas paixões e facilmente expulsarás da mente os pensamentos que delas surgem. Quanto à impureza, por exemplo, jejua, vigia, trabalha e evita encontros desnecessários. Quanto à ira e ressentimento, sê indiferente à fama, desonra e bens materiais. Quanto ao rancor, ora por quem te ofendeu e serás liberto.
  • Não te compares com os mais fracos, mas aplica-te a cumprir o mandamento do amor. Pois, comparando-te com os fracos, cairás no poço da presunção, mas aplicando-te ao mandamento do amor, alcançarás a altura da humildade.
  • Se cumprires totalmente o mandamento de amar teu próximo, não sentirás amargura ou ressentimento contra ele, não importa o que faça. Se não for assim, a razão pela qual lutas contra teu irmão é claramente porque buscas coisas transitórias e as preferes ao mandamento do amor.
  • O ouro não se tornou objeto de desejo entre os homens tanto por necessidade, mas pelo poder que dá à maioria de se entregar ao prazer sensual.
  • Três coisas produzem amor pelas riquezas materiais: autoindulgência, amor-próprio e falta de fé. A falta de fé é mais perigosa que as outras duas.
  • O autoindulgente ama a riqueza porque ela lhe permite viver confortavelmente; o cheio de amor-próprio a ama porque através dela pode ganhar a estima alheia; o que falta fé a ama porque, temendo fome, velhice, doença ou exílio, pode guardá-la e acumulá-la. Ele confia mais na riqueza do que em Deus, o Criador que provê a toda a criação, até o menor dos seres vivos.
  • Há quatro tipos de homens que acumulam riquezas: os três já mencionados e o tesoureiro ou administrador. Evidentemente, só este último a conserva para um bom propósito — ou seja, para sempre ter meios de suprir as necessidades básicas de cada um.
  • Todos os pensamentos passionais ou estimulam o desejo da alma, ou perturbam sua força irascível, ou obscurecem sua inteligência. É assim que a capacidade do intelecto para a contemplação espiritual e o êxtase da oração se embota. Por isso, um monge, especialmente o hesicasta, deve prestar muita atenção a tais pensamentos, investigando e eliminando suas causas. Por exemplo, o desejo da alma é estimulado por pensamentos impuros sobre mulheres. Tais pensamentos são causados por intemperança no comer e beber e por conversas frequentes e insensatas com mulheres; e são cortados pela fome, sede, vigílias e afastamento da sociedade. Da mesma forma, a força irascível é perturbada por pensamentos passionais sobre quem nos ofendeu. Isso é causado por autoindulgência, amor-próprio e apego a coisas materiais. Pois é por causa desses vícios que o homem dominado pela paixão sente ressentimento, frustrado por não alcançar o que deseja. Esses pensamentos são eliminados quando os vícios que os provocam são rejeitados e anulados pelo amor de Deus.
  • Deus conhece a Si mesmo e conhece as coisas que criou. Os poderes angélicos também conhecem a Deus e as coisas que Ele criou. Mas não O conhecem, nem às Suas criaturas, da mesma forma que Deus conhece a Si mesmo e Sua criação.
  • Deus conhece a Si mesmo através de Sua essência bendita. E conhece as coisas criadas por Ele através de Sua sabedoria, pela qual e na qual fez todas as coisas. Mas os poderes angélicos conhecem a Deus por participação, embora Deus transcenda tal participação; e conhecem as coisas criadas por Ele ao apreenderem o que nelas pode ser contemplado espiritualmente.
  • Embora o intelecto apreenda sua visão das coisas criadas dentro de si, elas estão, na verdade, fora dele. Isso não ocorre com o conhecimento que Deus tem de Sua criação, pois Ele é eterno, infinito e ilimitado, e concedeu a tudo que existe seu ser, seu bem-estar e seu ser eterno.
  • As naturezas dotadas de inteligência e intelecto participam de Deus através de seu próprio ser, de sua capacidade para o bem-estar — ou seja, para a bondade e a sabedoria — e da graça que lhes dá o ser eterno. É assim que conhecem a Deus. Conhecem a criação de Deus, como dissemos, ao apreenderem a sabedoria harmoniosa que nela pode ser contemplada. Essa sabedoria é apreendida pelo intelecto de forma imaterial e não tem existência independente.
  • Quando Deus trouxe à existência as naturezas dotadas de inteligência e intelecto, comunicou-lhes, em Sua bondade suprema, quatro atributos divinos pelos quais sustenta, protege e preserva as coisas criadas. Esses atributos são: ser, ser eterno, bondade e sabedoria. Dos quatro, concedeu os dois primeiros — ser e ser eterno — à sua essência, e os dois últimos — bondade e sabedoria — à sua faculdade volitiva, para que o que Ele é por essência, a criatura se torne por participação. É por isso que se diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn. 1:26). Ele é feito à imagem de Deus, pois seu ser reflete o ser de Deus, e seu ser eterno reflete o ser eterno de Deus (no sentido de que, embora não seja sem origem, é, no entanto, sem fim). Ele também é feito à semelhança de Deus, pois é bom à semelhança da bondade de Deus, e sábio à semelhança da sabedoria de Deus — sendo Deus bom e sábio por natureza, e o homem por graça. Toda natureza inteligente é à imagem de Deus, mas só os bons e sábios alcançam Sua semelhança.
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