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Imagem de Deus (OTP)

//Orígenes — DOS PRINCÍPIOS (OTP)//

7. Como, porém, citamos a palavra de Paulo falando de Cristo: “ele é o brilho da glória de Deus e a marca expressa da sua substância” (Hb 1,3), vejamos como devemos entendê-la. Segundo João (1Jo 1,5), “Deus é luz”. O Filho único é, portanto, o esplendor dessa luz, procedendo dele sem separação, como brilho dessa luz, iluminando a totalidade das criaturas (Jo 1,9). De acordo com o que explicamos acima acerca do modo como ele é o caminho que conduz ao Pai, da maneira como ele é Palavra para interpretar os segredos da Sabedoria e os mistérios do conhecimento e mostrá-los às criaturas racionais, do modo como ele é também verdade, ou vida e ressurreição, nós devemos, por conseguinte, compreender do mesmo modo a função do brilho; é pelo brilho que se reconhece e se percebe o que é a luz em si mesma. Esse brilho se oferece aos olhos frágeis e fracos dos mortais com mais brandura e suavidade, e como que lhes ensina pouco a pouco, e os acostuma a suportar a claridade e a luz quando afasta deles tudo o que se intromete e impede a visão, segundo a palavra do Senhor: “tira a trave do teu olho” (Mt 7,5); portanto, torna-os capazes de receber a glória da luz, e desse modo também ele age como “mediador”, entre os homens e a luz (1Tm 2,5).

8. O Apóstolo, porém, não diz só “esplendor da glória”, mas “figura e expressão da sua substância” e da sua existência (Hb 1,3); por isso não me parece inútil examinar como além da substância e da existência de Deus – quer se lhe chame substância, quer subsistência – se define outra coisa, que é a “figura da substância”. Ora, não seria precisamente porque o Filho de Deus, chamado sua Palavra e sua Sabedoria, que só ele conhece o Pai e o “revela a quem ele quer” (Mt 11,27), isto é, aqueles que se tornam capazes de receber a sua Palavra e a sua Sabedoria, faz compreender e reconhecer Deus, não será por essa razão que dele se diz que é a figura e a expressão da sua substância ou subsistência? Como a Sabedoria delineia em primeiro lugar em si mesma os traços que ela quer revelar aos outros e que fazem com que eles reconheçam e compreendam Deus, ela é chamada “marca e expressão da substância de Deus”.

Para fazer compreender ainda melhor como o Salvador é representação da substância ou da subsistência de Deus, tomemos um exemplo que, sem significar completamente nem exatamente aquilo de que falamos, no entanto vamos apresentar para explicar que “o Filho, que tinha a forma de Deus, se aniquilava” (Fl 2,6-7), e quer nos mostrar, pelo seu próprio ato de se aniquilar, “a plenitude da divindade” (Cl 2,9). Vamos supor que tenha sido feita uma estátua tão grande que pudesse conter toda a terra e que devido à sua imensidão ninguém a pudesse enxergar, e que outra estátua fosse feita, em tudo parecida com a primeira, pela forma dos seus membros, os traços do rosto, o aspecto e a matéria, com exceção da imensidão do tamanho, com a finalidade de permitir àqueles que não pudessem ver a estátua enorme de ficarem convencidos, ao verem esta, que tinham visto a primeira; ela conservaria, de fato, e sem nenhuma diferença, todos os traços dos membros e do rosto, o aspecto e a matéria; de modo análogo, o Filho, se aniquilando ao abandonar a igualdade com o Pai, e nos mostrando o caminho para conhecê-lo, tornou-se “marca impressa da figura da sua substância”; desse modo, nós, que éramos incapazes de olhar a glória da luz pura que se encontra na grandeza da divindade, alcançamos um meio de perceber a luz divina, graças à vista do brilho, porque ele se faz brilho para nós. A comparação das estátuas, no nível das coisas materiais, só a devemos admitir para mostrar que o Filho de Deus, tendo se introduzido na pequenez de um corpo humano, indicava, pela analogia dos seus atos e do seu poder, a grandeza imensa e invisível de Deus Pai, que estava nele; é o que ele dizia aos seus discípulos: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9), e: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). É preciso entender, do mesmo modo, a expressão seguinte: “O Pai está em mim, e eu no Pai” (Jo 10,38).

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