Presença de Jesus (OCC)
//Orígenes — Contra Celso (OCC)//
65. Mas, por que dizer a todos? Aos próprios apóstolos e discípulos ele não estava continuamente presente e visível porque eram incapazes de suportar sua contemplação constante. Sua divindade era mais resplandecente depois de ter levado ao seu término a obra da Economia. Cefas, que é Pedro, enquanto “primícias” dos apóstolos, pôde vê-la, e depois dele, os Doze, após a eleição de Matias para ocupar o lugar de Judas. Depois deles, apareceu a “quinhentos irmãos de uma vez, depois a Tiago, em seguida a todos os apóstolos” fora os Doze, talvez aos setenta; e, “em último lugar”, a Paulo, como um aborto, que sabia em que sentido dizia: “A mim, o menor dos apóstolos, foi dada esta graça” (1Cor 15,5-8), e certamente “o menor” e “o aborto” são sinônimos. Afinal, não se pode fazer crítica razoável a Jesus por não ter levado consigo ao alto da montanha todos os apóstolos, mas apenas os três citados acima, quando haveria de se transfigurar e mostrar o esplendor de suas vestes e a glória de Moisés e Elias conversando com ele; tampouco seria possível fazer críticas bem fundadas às palavras dos apóstolos por apresentarem Jesus depois de sua ressurreição que apareceu não a todos, mas àqueles cujos olhos ele julgava ser capazes de ver a sua ressurreição.
Creio, porém, ser útil à justificação deste ponto de vista o que Paulo diz a respeito de Jesus: “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,9). O Apóstolo entende exatamente como mortos dos quais Cristo é o Senhor aqueles que assim são designados na primeira carta aos Coríntios: “Sim, a trombeta tocará, e os mortos ressurgirão incorruptíveis” (1Cor15,52); e como vivos entende a eles e os que serão transformados, e os que ressuscitarem serão diferentes dos mortos. E aí vai a passagem referente: “E nós seremos transformados”, que segue depois desta: “Os mortos ressuscitarão primeiro”. Além disso, na primeira aos Tessalonicenses, ele exprime com palavras diferentes a mesma distinção, declarando que uma coisa são os que dormem e outra os que vivem: “Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los na sua companhia. Pois isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: que os vivos, os que ainda estivermos aqui para a Vinda do Senhor, não passaremos à frente dos que morreram” (1Ts 4,13-15). Mas, a interpretação que encontrei destas passagens, já a expus em meu comentário à primeira aos Tessalonicenses.
