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Tesouro (OCM)

* O reino dos céus é ainda semelhante a um tesouro escondido num campo: o homem que o encontrou esconde-o de novo…

As primeiras parábolas, a multidão as ouviu; esta, ao contrário, e as duas seguintes — porque acontece que não são parábolas, mas similitudes sobre o reino dos céus —, é normal que as tenha contado aos discípulos, depois de ter entrado em casa: a respeito desta “parábola”, assim como das duas seguintes, o leitor atento deve se perguntar: “Será que não se trata mais de parábolas?” Com efeito, as primeiras, a Escritura as intitulou “parábolas” sem hesitar, mas para as seguintes ela não agiu da mesma forma, e fez bem em proceder assim. Pois, se falou à multidão “em parábolas” e “se disse tudo isso em parábolas, e nada lhes dizia sem parábolas”, se uma vez entrado em casa, não é à multidão que fala, mas aos discípulos que o seguiram até lá, é evidente que o que diz em casa não são parábolas. Com efeito “àqueles de fora” fala em parábolas, assim como àqueles “a quem não foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus”. Mas, dirão, se não se trata de parábolas, o que é? Talvez então seguiremos a letra da Escritura e diremos que se trata de similitudes. Ora a similitude difere da parábola: de fato está escrito em Marcos: “A que diremos que o reino dos céus é semelhante, ou em qual parábola o classificaremos?” Resulta bem disso que há uma diferença entre a similitude e a parábola. Ora parece que a similitude é genérica e a parábola específica. Talvez também que a similitude, sendo o gênero ao qual pertence a parábola, contenha como espécies, tanto a parábola como a similitude que leva o mesmo nome que o seu termo genérico. É o que aconteceu também em outros casos, como observaram os especialistas, a propósito da formação de numerosos termos: dizem que o “hormê” é o gênero que abarca várias espécies, como “aphormê” e “hormê”, declarando que “hormê” é usado no seu sentido específico, sob uma forma homônima do termo genérico, para se opor a “aphormê”.

O campo são as Escrituras, é também o Logos

É o momento de examinar, por um lado, o campo e, por outro, o tesouro escondido no campo, e se perguntar como é que, depois de “ter encontrado este tesouro escondido, o homem, na sua alegria, vai e vende tudo o que possui, para comprar este campo”. É preciso também se perguntar o que representam os bens que ele vende. A meu ver, no contexto, o campo é a Escritura plantada no que há de aparente entre os textos dos livros históricos, da lei, dos profetas e de todos os outros pensamentos divinos — pois é uma plantação abundante e variada a dos textos da Escritura inteira —, e o tesouro escondido no campo, são os pensamentos secretos e enterrados sob o que é aparente, vindos da sabedoria “permanecida velada no mistério” e no Cristo “em quem se encontram escondidos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”. Poderia se dizer também que o “campo” verdadeiramente “cheio, que o Senhor abençoou”, é o “Cristo de Deus”, e que o tesouro escondido nele, é o que, segundo Paulo, foi escondido no Cristo, pois ele disse a respeito do Cristo que “nele estão escondidos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”. Portanto as realidades celestiais e o reino dos céus foram descritos, como em imagem, pelas Escrituras que são o reino dos céus, ou o próprio Cristo, o rei dos séculos, é este reino dos céus comparado ao tesouro escondido no campo.

O cristão é o novo proprietário do campo

Chegando a este ponto do meu desenvolvimento, se buscará se o reino dos céus é comparado somente ao tesouro escondido no campo, de modo que o campo seria entendido como diferente do reino, ou se é comparado ao mesmo tempo ao campo e ao tesouro escondido no campo, de modo que o reino dos céus seria, segundo a similitude, ao mesmo tempo o campo e o tesouro escondido no campo. Sobrevém então um homem neste campo, seja as Escrituras ou o Cristo, constituído pelo que é aparente e o que é escondido, encontra lá escondido o tesouro da sabedoria, seja no Cristo, seja nas Escrituras — pois, ao percorrer o campo, ao perscrutar as Escrituras, e ao buscar entender o Cristo, encontra o tesouro que está nele —. depois de tê-lo encontrado, o esconde, não considerando sem perigo que os pensamentos secretos das Escrituras ou os “tesouros da sabedoria e do conhecimento” contidos no Cristo apareçam aos primeiros que chegam, e tendo-o escondido vai-se, se apressa para encontrar o meio de comprar o campo, ou seja as Escrituras, a fim de o fazer a sua propriedade, pois do domínio divino, recebeu “os oráculos de Deus”, que tinham sido primeiro confiados aos Judeus. E quando o discípulo do Cristo comprou o campo, estes são despojados do “reino de Deus”, que, segundo uma outra parábola, é uma vinha, e é dado a “uma nação que tira fruto dele”, àquele que, pela fé, comprou o campo, graças à venda de todos os seus bens, e ao despojamento de tudo o que possuía antes — é o mal que possuía. Chegará à mesma conclusão, se o campo que contém o tesouro escondido é o Cristo: aqueles, com efeito, que “deixaram tudo para segui-lo” », em um outro sentido, venderam os seus bens, por assim dizer, para que, ao os vender, ao se despojar e ao renunciar a eles para fazer, graças ao socorro divino, uma escolha magnífica, comprem a preço alto e segundo a estimativa do campo, este campo contendo o tesouro que se encontra escondido nele.

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