Redenção (JDO)
JDO
A doutrina da redenção é talvez a que mais gerou críticas por parte dos modernos a Orígenes. De Faye escreve a esse respeito: “Nada mais incoerente e mais contraditório que a doutrina da Redenção de nosso autor” (III, p. 210). De fato, por um lado, encontramos nele o eco da tradição anterior, a de São Paulo e dos Apologistas, para quem a redenção aparece essencialmente como vitória de Cristo sobre as potências que mantinham a humanidade cativa. Ela é um aspecto capital da tradição cristã. Aqui, Orígenes nos aparece, portanto, como um grande testemunho da fé tradicional. Por outro lado, sua visão do mundo é a de uma educação pela qual o Logos, ao mesmo tempo mestre e médico, leva progressivamente todas as liberdades a voltar para o bem. De Faye e Koch veem aqui uma corrente puramente filosófica que se oporia à precedente. Notaremos primeiro que essa concepção da Pedagogia divina não é de origem filosófica, mas bíblica e eclesiástica em Orígenes. Ela corresponde a um aspecto do dogma. A visão cristã do mundo é ao mesmo tempo uma história progressiva e um drama. Toda teologia que exclui um deles é incompleta. Que esses dois aspectos não possam coincidir totalmente, isso não tem nada de anormal: é o próprio do mistério, que as formulações que fazemos dele não possam esgotar a essência. Isso é verdade para a Eucaristia, para a Redenção, para a Trindade, para a Igreja.
É preciso, portanto, dizer aqui outra coisa: a concepção pedagógica da redenção é, em Orígenes, tradicional e bíblica. Koch, portanto, está errado em ver nela apenas uma influência da filosofia. Isso se deve a que sua mentalidade protestante o faz ver a salvação como uma justificação, um perdão extrínseco (p. 19), não como uma regeneração da liberdade. Assim, os dois aspectos podem se unir em nosso autor. Por um lado, é preciso que a morte do Cristo liberte nossa liberdade da tirania do pecado, que pesa sobre ela, como Agostinho mostrará tão fortemente mais tarde. Mas essa liberdade reconquistada deve se orientar livremente para Deus e assim todo o aspecto educativo continua verdadeiro. O erro de Orígenes não está aí. Ele está em certos aspectos de sua doutrina da pedagogia, na aplicação que ele faz dela à totalidade dos espíritos, incluindo os demônios, na teoria dos mundos sucessivos onde essa pedagogia se opera, na universalidade do perdão final que repousa sobre uma visão filosófica (que o mal não pode ser eterno), enquanto devemos permanecer no limiar do mistério. Tal é a verdadeira maneira de colocar o problema. Como esses dois aspectos nos aparecem sucessivamente, nós os estudaremos por sua vez, mostrando para cada um, como o fizemos para as outras teses, o que eles têm de tradicional e o que eles têm de sistemático.
Reservaremos à primeira parte o título de doutrina da Redenção. Nesta primeira perspectiva, a humanidade antes do Cristo aparece como asservida ao jugo de potências más. É todo esse mundo dos anjos maus do qual falamos a propósito da angelologia, em particular os anjos maus que dominam sobre as nações. A vida do Cristo aparece desde o início como um conflito com essas potências adversas (Ho. Le., XXX-XXXI; C. Cels., VI, 45). A dynamis que está nele — ele é a megale dynamis (grande força) — enfraquece as potências contrárias desde sua encarnação: “Quando Jesus nasceu, como a multidão da milícia celeste, assim como Lucas o relata e que eu o creio, louvou a Deus por estas palavras: Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas), por causa disso as potências foram enfraquecidas, sua magia sendo refutada e sua operação dissolvida. E elas foram derrotadas, não somente pelos anjos que desceram a este lugar terrestre (perigeion) por causa da natividade de Jesus, mas pela força de Jesus e a divindade que está nele. Também os magos, querendo em vão cumprir o que eles faziam antes por encantamentos e sortilégios, procuraram a causa, pressentindo que ela era grande; e vendo um sinal divino no céu, eles quiseram ver o que ele significava. Eles compreenderam que o homem que tinha sido anunciado pela estrela de Balaão tinha vindo a esta vida e compreendendo que ele era mais potente que todos os demônios que tinham o costume de lhes aparecer e de os servir, eles quiseram o adorar” (C. Cels., I, 60. Ver VIII, 39). Mas antes da ressurreição, eles exercem ainda sua potência. Assim quando Pedro diz a Jesus: “Isso não terá lugar” e que Jesus lhe responde: “Retira-te de mim, Satanás”, aquele que fazia proferir essas palavras a Pedro era um dos espíritos que ainda não tinha sido vencido no madeiro nem entregue em espetáculo com aqueles dos quais está escrito: “Despojando os principados e as potências, ele os entregou em espetáculo, triunfando deles pela cruz” (Co. Mth., XII, 40).
É a paixão e a ressurreição do Cristo que operam essa desapropriação das potências. O texto que acabamos de ler é aqui o leitmotiv, como o: In umbra ejus… (À sua sombra…) para a história. “A Cruz de Nosso-Senhor Jesus-Cristo foi dupla. O Filho de Deus foi crucificado visivelmente na cruz, mas invisivelmente, nesta cruz, é o diabo que foi fixado à cruz com seus principados e suas potências. Isso não te parecerá verdadeiro, se eu te trouxer o testemunho de Paulo: 'Ele despojou os principados e as potências e os entregou ousadamente em espetáculos, triunfando deles pela cruz'. Há, portanto, um duplo aspecto da cruz do Senhor: uma, aquela da qual o apóstolo Pedro diz que o Cristo crucificado nos deixou um exemplo, e esta segunda pela qual esta cruz foi o troféu de sua vitória sobre o diabo, pelo qual ele foi ao mesmo tempo crucificado e glorificado” (Ho. Jos., VIII, 3). E em outro lugar, Orígenes mostra a dupla ação do Cristo na cruz, despojando as potências e abrindo o Paraíso: “Do mesmo modo que àquele que o confessou, ele abriu as portas do Paraíso dizendo: 'Hoje, tu estarás comigo no Paraíso', e por isso ele dá o acesso, que ele tinha proibido outrora a Adão pecador, a todos aqueles que creem nele — quem mais, de fato, podia afastar a espada de fogo que tinha sido estabelecida para guardar a árvore da vida e as portas do Paraíso —, do mesmo modo, fora dele, ninguém mais podia despojar os principados e as potências e os príncipes deste mundo dos quais o apóstolo fala e os levar para o deserto do Inferno, a não ser aquele que disse: 'Eu venci o mundo'” (Ho. Lev., IX, 5. Ver Ho. Num., XVI, 3, XVII, 6, XVIII, 4; Co. Mth., XII, 18; Co. Jo., I, 28, VI, 55; Co. Cant., III; Bæhrens, 222).
Essa significação da Paixão, Orígenes a explica em outro lugar. Ele mostra “como o Pai entregou seu filho às potências más em seu amor por nós. Estas, por sua vez, o entregaram aos homens para que eles o matassem a fim de que a morte, sua inimiga, o tivesse em seu poder, da mesma maneira que aqueles que morrem em Adão. O diabo, de fato, tem a potência da morte, não desta morte média e indiferente, segundo a qual morrem aqueles que são compostos de uma alma e de um corpo, mas daquela que é adversária e inimiga daquele que disse: 'Eu sou a vida'. Ora, o Pai não poupou seu Filho a fim de que aqueles que o tomaram e o entregaram às mãos dos homens sejam zombados por aquele que habita nos céus e sejam ridicularizados pelo Senhor, como aqueles que determinaram sem o saber a derrubada de seu poder quando eles receberam o Filho entregue a eles pelo Pai, que ressuscitou no Terceiro Dia, destruindo a morte sua inimiga e nos tornando conformes não somente à sua morte, mas à sua ressurreição” (Co. Mth., XIII, 9).
Vemos aparecer aqui o fundo da doutrina da redenção paulina bem destacada por Orígenes. O diabo e a morte são uma mesma potência má. Ela acreditou triunfar do Cristo seu inimigo. Mas essa vitória aparente foi na realidade sua derrota. Pois o Cristo no poder da morte fez saltar a potência da morte ressuscitando dentre os mortos. O Diabo foi, portanto, enganado. É esta decepção do demônio sobre a qual os Padres puseram o acento. Criticou-se muito essa doutrina. É por falta de ter bem compreendido o sentido profundo dela. Ela não é senão o eco da palavra de São Paulo, dirigindo-se ironicamente à Morte depois que ela foi enganada: “Ó morte, onde está tua vitória?”. “A quem ele deu sua alma em resgate (lytron) por muitos? Não é a Deus. É então ao Maligno? Este, de fato, nos teve em seu poder, até que a alma de Jesus lhe tenha sido dada em resgate por nós, e que ele se tenha deixado enganar, crendo poder dominar sobre ela e não vendo que ele não podia conseguir por seus esforços a reter. É por isso que a morte depois de ter crido dominar sobre ele não domina mais, já que ele é livre entre os mortos e mais forte que a potência da morte e forte a ponto de que todos aqueles que querem o seguir entre aqueles que estão sob a potência da morte podem o seguir, a morte não tendo mais força contra eles” (Co. Mth., XVI, 8. Ver Co. Jo., VI, 53).
Resta que essa vitória do Cristo, adquirida na cruz, deverá se prolongar primeiro em cada homem onde as potências deverão ser por sua vez desapropriadas: “Cada um daqueles que são crucificados com o Cristo despoja os principados e as potências e os entrega em espetáculo, triunfando deles na cruz, ou antes, o Cristo opera isso neles” (Co. Mth., XII, 25). Mais particularmente, o martírio continua essa vitória do Cristo sobre a morte e o demônio e essa libertação dos homens: “Ele despoja com ele os Principados e as Potências e triunfa com ele tomando parte em seus sofrimentos e nas vitórias que resultam deles” (Ex. Mart., XLI). Por isso, a potência dos demônios é quebrada (Co. Jo., VI, 54). Assim aparece a utilidade, a opheleia do martírio. Os demônios se dão tão bem conta disso que eles temem o martírio e procuram retardar as perseguições (C. Cels., VIII, 44).
Podemos notar a esse propósito que a teologia da redenção se situa na linha do Orígenes, cristão do tempo dos mártires, na perspectiva, consequentemente, da comunidade cristã dos tempos primitivos com seu sentido do conflito contra as potências do mal encarnadas na idolatria. É o Orígenes cristão comum que aparece aqui. E pode-se dizer que toda uma parte de sua teologia está nesta linha. Ao mesmo tempo mártir e doutor, é preciso dizer que sua teologia participa dos dois carismas e é aí talvez o que faz seu sotaque especial. Ela não pode ser reduzida a nenhum dos dois aspectos. Os dois misturam suas águas em sua obra. Há uma experiência da vida cristã concreta que comanda todo um setor de seu pensamento. E sua teologia da redenção se liga a essa experiência.
É preciso citar aqui um texto onde todo o mistério da redenção nesta perspectiva é esplendidamente evocado: “Que é preciso dizer do Cordeiro de Deus que foi sacrificado para tirar o pecado do mundo, que, por seu próprio sangue, rasgou o ato de créance que era contra nós e o cortou pelo meio, tendo-o fixado à cruz, a fim de que não se encontre mais nem mesmo rastro dos pecados cumpridos, que, despojando os principados e as potências, os entregou em espetáculo triunfando deles pela cruz? É por isso que, afligidos no mundo, nós aprendemos a ter confiança, sabendo que a causa desta confiança é que o mundo é vencido, já que é claro que ele está submetido a seu vencedor. Também todas as nações, libertadas daqueles que dominavam antes, o servem, porque ele libertou o pobre do potente, por sua própria Paixão. Também este Salvador, porque o Caluniador é humilhado, por causa de sua própria humilhação, permanece como um sol inteligível diante da Igreja cintilante, chamada simbolicamente lua, de geração em geração. Quando ele avança, vitorioso e carregado de seus troféus, com seu corpo ressuscitado dos mortos, certas potências dizem: 'Quem é este que chega de Edom, que vem com suas roupas cobertas de sangue de Bozra?' Mas aqueles que o precedem dizem àqueles que presidem às portas celestes: Tollite portas, principes, vestras et elevamini portae aeternales et introibit rex gloriae (Levantai vossas portas, ó príncipes, e elevai-vos, ó portas eternas, e entrará o Rei da glória). Eles perguntam ainda, vendo por assim dizer sua direita ensanguentada e ele todo inteiro cheio de seus atos de bravura: 'Por que tuas roupas são vermelhas como o daquele que pisou no lagar?' Após ter subido às alturas, tendo feito o cativeiro cativo, ele desceu trazendo carismas variados, as línguas de fogo partilhadas entre os apóstolos e os santos anjos para os assistirem em toda ação e os ajudarem. Cumprindo todas estas coisas, ele cumpria a vontade do Pai que o tinha entregue para os ímpios mais do que as suas próprias. Trazendo ao mundo inteiro seus serviços, já que Deus reconcilia o mundo com ele mesmo no Cristo, ele traz seus benefícios seguindo uma economia, não recebendo logo o estrado dos pés, isto é, todos seus inimigos. O Pai diz ao Senhor: 'Senta-te à minha direita até que eu ponha teus inimigos a teus pés'. E é isso o que acontece até que o último inimigo, a morte, seja vencido” (Co. Jo., VI, 56-57).
