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Espírito Santo (COP)

//Henri Crouzel – Orígenes e Plotino (COP)//

Capítulo III: Alma do Mundo

O texto do Tratado dos Princípios não encoraja a buscar alguma correspondência entre a terceira pessoa da Trindade cristã e a terceira hipóstase da Tríade platônica. Há pouca relação entre as atividades do Espírito Santo segundo Orígenes e as da Alma do Mundo segundo Plotino. O papel essencial do primeiro é conferir a santidade. Ele é a “matéria dos carismas” ou a “natureza dos dons”, sendo esses carismas e dons o que a teologia posterior chamará de “graças atuais”, ou seja, graças vinculadas a um ato ou função. Além disso, o “espírito (pneuma) que está no homem”, elemento superior da antropologia tricotômica de Orígenes e participação no Espírito Santo, é uma das múltiplas expressões origênicas da graça santificante. O Espírito Santo não é apenas o inspirador da Escritura, mas aquele que a faz compreender ao leitor e anima interiormente a Igreja. Seu papel totalmente sobrenatural tem pouco em comum com a Alma do Mundo plotiniana.

Um paralelo, no entanto, pode ser tentado em um ponto: o de sua processão. A Alma do Mundo procede diretamente da segunda hipóstase, para a qual se volta e através da qual vem do Uno-Bem. No Comentário sobre João, ao comentar Jo 1,3 (“Tudo foi feito por ele ”), Orígenes discute três soluções a respeito do Espírito Santo. Aquela à qual ele adere é a seguinte: nesse “tudo” o Espírito está incluído. O Pai, o Filho e o Espírito são três realidades subsistentes (hypostaseis, ousiai idiai). O Espírito é o mais elevado dos seres que vêm do Pai pelo Filho: ele precisa da mediação do Filho para subsistir, para ser sábio, inteligente, justo e participar de todas as denominações (epinoiai) do Filho. Mas, segundo o Tratado dos Principes, não se deve pensar que o Espírito Santo conheceria apenas por revelação do Filho, no sentido de que passaria então da ignorância ao conhecimento, ou que, não sendo inicialmente Espírito Santo, teria progredido sob a influência do Filho até se tornar Espírito Santo. Ele sempre foi Espírito Santo, e deve-se concluir, para evitar uma contradição entre essas duas afirmações, que sua processão pela mediação do Filho ocorreu desde toda a eternidade. Poder-se-ia dizer dele, portanto, o que Orígenes diz da geração do Filho: “não houve momento em que ele não existisse”. Ao contrário do que diriam um século depois os pneumatômacos, o Tratado dos Principes atribui ao Espírito Santo todas as características da divindade. A processão da Alma do Mundo a partir da Inteligência é igualmente eterna, pois, segundo Plotino, o mundo que dela procede é criado desde toda a eternidade, apesar do que Platão parece dizer no Timeu.

Pode-se questionar, no entanto, sobre a maneira como Orígenes e Plotino concebem respectivamente a inferioridade de cada uma dessas pessoas ou entidades em relação à precedente da qual procedem. Em Plotino, a inferioridade da Inteligência em relação ao Uno e da Alma em relação à Inteligência é clara. O mesmo ocorre em Orígenes? Seu “subordinacionismo” é da mesma natureza que o de Plotino? Encontram-se poucas indicações quanto às relações entre o Filho e o Espírito, exceto uma relação de origem, já que o Espírito vem do Pai pelo Filho. Mas essa dependência de origem implica necessariamente, como em Plotino, uma inferioridade? Definimos a relação do Filho com o Pai pelas palavras: igual e subordinado. Podemos estender à relação do Espírito com o Filho o que é dito da relação do Filho com o Pai? Isso não está excluído, mas Orígenes pouco o esclarece. Ele diz apenas que “o Espírito Santo está associado ao Pai e ao Filho em honra e dignidade”.

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