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Ruysbroeck (JRO) – Centelha da Alma

Extratos traduzidos de Ruysbroeck, JRO

A terceira propriedade, chamamo-la de centelha da alma: é uma tendência íntima e natural da alma para a sua fonte; e é aí que recebemos o Espírito Santo, o Amor de Deus. Por essa tendência íntima, somos semelhantes ao Espírito Santo; mas no ato de receber tornamo-nos um espírito e um amor com Deus. O ESPELHO DA SALVAÇÃO ETERNA. CAPÍTULO VIII

A razão iluminada agora gostaria de saber o que a impede de permanecer nessa unidade tão doce e de onde vem o toque que sente e o que é essa moção divina. Então, ela olha com grande atenção e descobre no mais profundo da memória como o jorro de uma fonte viva que brotaria de um centro vivo e fecundo. Esse centro vivo é a unidade de Deus, a propriedade das pessoas e a origem da alma; pois a unidade possui a fecundidade, ela é a origem e o fim de toda criatura. O jorro que sai dessa fonte, o toque divino é tão maravilhoso e tão doce à inteligência, tão amável e tão singularmente desejável à vontade, que a alma cai em uma impaciência e uma loucura de amor, e sente sua paixão crescer. Novamente, ela começa a buscar o que pode impedi-la de encontrar seu repouso em Deus ou em si mesma. Ela perscruta de cima a baixo seu reino: e sua razão age com extrema rapidez. Ela olha para o topo onde fez seu retorno à própria essência de sua memória, onde as três potências superiores têm sua fonte, de onde tiram sua origem e retornam de si mesmas para a unidade. É nesse mesmo topo da alma que o toque misterioso se faz sentir, essa corrente que jorra da fonte divina: e esse toque abala a centelha da alma, é a fonte que traz consigo todos os dons divinos, segundo a dignidade e a virtude de cada um. No entanto, nesse grau da contemplação, o toque divino é conhecido apenas por um sentimento de impaciência amorosa, sentida na centelha da alma. Aqueles que estão na vida ativa não podem experimentá-lo de uma maneira tão elevada; e, no entanto, toda a sua boa vontade, todo o seu amor e todas as suas virtudes recebem a vida e a conservam nessa centelha. Se não podem conhecer o toque divino no mesmo grau que os contemplativos, é porque ainda não estão suficientemente elevados no reino da alma e na vida afetiva; pois esse toque divino é Deus aderindo à alma, em seu mais alto ápice. Enquanto a alma compreende e sente esse toque, é algo criado, mas enquanto este lhe escapa, trata-se do próprio Deus, e então vem a impaciência de amor. Nesse estado elevado, a alma permanece sempre ligada à unidade em sua memória; ela se espalha para o exterior pela atividade de suas potências, mas o fundo mesmo dessas potências permanece ligado à unidade. No entanto, ela gostaria de seguir, através da unidade, o fluxo doce como o mel que dela brota, a fim de chegar até a fonte viva de onde ele escapa; mas quanto mais ela se inclina para esse lado com ardor de desejo, mais sente a impaciência e o arrebatamento de amor. O desejo da criatura não pode atingir a Deus, pois com uma luz e um amor criados, sua operação é limitada; nesse grau, portanto, a alma permanece sempre no ardor de amor, e é para ela uma verdadeira nobreza, assim como uma alta semelhança com a Santíssima Trindade. O LIVRO DO REINO DOS AMANTES DE DEUS CAPÍTULO XXV

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