Ruysbroeck (JRO) – A Alma e o Corpo
Extratos traduzidos de Ruysbroeck, JRO
O LIVRO DO TABERNÁCULO ESPIRITUAL
Além disso, cada tábua tem uma medida e meia de largura. Com isso, aprendemos que cada determinação livre se assemelha a isso, no sentido de que o livre arbítrio abraça a alma e o corpo como uma medida inteira e meia, para servir a Deus por meio deles. A alma é a medida inteira, pois possui uma atividade perfeita em si mesma, que consiste no amor e no conhecimento. No entanto, ela precisa da meia medida, pois se não estivesse unida ao corpo, não poderia merecer. Contudo, o corpo é apenas uma meia medida, pois nenhuma atividade corporal, sem a operação do espírito, pode alcançar Deus, nem merecer a bem-aventurança, e é por isso que a alma e o corpo constituem um único homem, para que a natureza corporal do homem, com todas as suas atividades, possa receber nobreza, liberdade e imortalidade, pela nobreza, liberdade e imortalidade da natureza espiritual, com a qual é uma única pessoa e um único homem. É assim que cada tábua, que representa a livre determinação, deve ter uma medida e meia de largura, sem a qual não se adaptaria ao tabernáculo. CAPÍTULO XV
Neste artigo, podemos comparar Cristo à preciosa safira, que é de dois tipos. A primeira tem uma cor amarela com reflexos roxos e parece misturada com pó de ouro. A segunda é azul celeste e, exposta aos raios do sol, emite uma luz ardente, mas o olhar não consegue atravessá-la. É tudo isso que vemos em Nosso Senhor, neste quinto artigo. Pois, quando sua alma santa descia aos infernos, seu corpo jazia no sepulcro, todo amarelado pela privação da alma, pelo vermelho de suas feridas sangrentas, mas também pelo pó de ouro da divindade que permanecia unida a ele. E na sua descida ao inferno, a sua alma tinha a claridade do céu azul, a fim de alegrar todos os seus amigos e enchê-los de felicidade com a sua luz. Na sua ressurreição dos mortos, a claridade torna-se tão grande e tão poderosa na alma e no corpo, sob a iluminação do sol da divindade, que emite raios luminosos e ardentes, inflamando assim o amor de quem se aproxima dele. CAPÍTULO XLV
Vejam, este duplo apetite por Deus e por todas as virtudes penetra a alma e o corpo, e é natural e sobrenatural. É representado pelos rins internos da vítima, que Deus ordena que sejam queimados inteiramente no fogo do seu amor, assim como os rins, figura dos sentidos e das potências sensíveis com as suas obras, que devem sempre aderir ao espírito e às suas obras. A gordura interna que cobre os rins é a consolação e a alegria, com o sabor abundante da doçura espiritual, que o homem sente e que o torna todo ardente de desejo. Quando, então, Cristo toca esse desejo ardente e o atiça com sua graça, o calor do amor torna-se tão grande que devora e consome tudo o que antes era amado e desejado distintamente; e o homem torna-se tão simples no amor que não sabe e não pode senão levar e sentir o amor. CAPÍTULO LXXXVIII
