Mestre Eckhart — TERMOS E NOÇÕES Excertos de Giuseppe Faggin — Meister Eckhart e a mística medieval alemã Seja feita vossa vontade Visto que Deus é o centro absoluto de todo o pensamento e de toda a ação e que a vontade não tem valor moral senão quando se adere a ele, sumo Bem, com entrega absoluta, é natural que qualquer outra coisa e qualquer outro bem que se introduzam entre a alma e Deus serão indiferentes e não terão outro significado fora daquele que a alma lhes reconhece, em sua dramática oscilação entre a interioridade divina e a exterioridade dispersiva. Quem ama realmente a Deus não pede nada e quer unicamente que se cumpra a sua vontade: fiat voluntas tua; pedir-lhe um determinado bem seria índice de uma alma dominada ainda por desejos muito pessoais e efêmeros,e ansiosa por afirmar seu próprio eu diante de Deus e acima do próprio Deus. Portanto, quem ama a Deus é um “espírito livre”, porque está imune à ação do mundo e ajusta-se a Deus que é liberdade absoluta. Se possuímos a Deus, o possuímos em todo o lugar: na rua entre a multidão, como no templo, na solidão e na cela. Com efeito, admitindo que somente “o espírito livre” outorga valor às coisas, resulta uma grande liberdade na eleição dos meios. “Na verdade uma coisa é necessária : a boa vontade que age por simples amor e sem um por quê”; no restante, o homem é livre para escolher o caminho e os procedimentos que mais goste. “Deus não condicionou nossa salvação a uma modalidade particular: o que um bom procedimento pode obter, o podem também todos os demais.” Daí a condenação de Buda e de Cristo, pelo farisaísmo das “boas obras” e das penitências, mas também o menosprezo implícito pela superestrutura hierárquica, sacramental, litúrgica da Igreja. A religião deixa de ser uma atividade específica e distinta e transforma-se na religiosidade que envolve toda a nossa vida.