Gondal (MGMC) – Ler os místicos
O Meio curto e outros relatos, de Madame Guyon (MGMC)
«Mística», o adjetivo ou o nome diz a atmosfera em claro-escuro que envolve a região do nascimento. Tornou-se de uso comum novamente após uma longa reticência. Entre os gregos, evocava o silêncio do vidente cegado pelo mistério, ao término da iniciação. Aos cristãos dos primeiros séculos, falava do sentido secreto das escrituras e da liturgia. Mais tarde, no Ocidente dos séculos XVI e XVII, tornou-se o nome que designava uma linguagem, certamente interior ao cristianismo, enraizada em suas referências e ligada aos espaços de comunicação que ele oferecia, mas que se desenvolvia a certa distância das linguagens oficiais, moral ou ritual. Falar «mystique» era falar a língua do sujeito, de sua experiência em confronto com o mistério da fé. Essa língua teve seus mestres, que tratavam dos caminhos interiores como de uma «ciência divina», teve suas escolas e seus lugares emblemáticos, suas figuras de proa, homens ou mulheres, seus modos de aprendizagem e suas obras. Carregava em si um chamado a ultrapassar fronteiras: as dos séculos e das nações, em uma Europa em nascimento. Afinou o espírito e o coração. E por ela muitos excluídos da época, analfabetos, trabalhadores, solitários ou vagabundos, cegos ou aleijados, acessaram a vida do espírito.
Mas, após um apogeu, na primeira metade do século XVII, algo nesse impulso se quebrou. A língua mística começou a enfraquecer, como se apaga toda língua, quando o mundo muda e o uso de suas palavras se torna raro. O gigantesco deslizamento mental da positividade nascente privou-a do solo de uma compreensão mútua; assim, perdeu pouco a pouco seu crédito. Suspeita por um poder monárquico todo-poderoso de estar ao lado dos contestadores da ordem, percebida como uma ameaça pelos guardiões da doutrina e da moral, sem voz diante das exigências de um espírito novo nascido da ambição científica, alvo das campanhas jansenistas, a mística perdeu, senão sua força, pelo menos seu espaço intelectual e social, e exilou-se em grupos ou lugares retirados. Hoje, esse continente perdido atrai e fascina. E alguns se arriscam a revisitá-lo.
Há, no entanto, muitas maneiras de ler os escritos místicos. O escrito se entrega e não se impõe. O leitor pode recebê-lo, acreditar tê-lo «apreendido», ou ouvir nele um canto enigmático, e seguir seu caminho. O jogo das interpretações, sabemos, é infinito. Mas também acontece que o escrito resiste aos tratamentos arbitrários ou que, ressurgindo como novo além das interpretações particulares, nos fala de algo diferente do que inicialmente queríamos ouvir.
Evocamos alguns caminhos familiares aos leitores desse tipo de obra. Pode-se primeiro buscar nos escritos místicos um documento humano de escolha. As «vidas», as «relações» e «correspondências» dos místicos estão repletas, a esse respeito, de observações refinadas. A infância, os sonhos, as ambiguidades, as crises, os sofrimentos e as dúvidas, até mesmo as doenças, se espalham em abundância. Quer se acredite nelas, quer se suspeite de alguma complacência, essas narrativas e confidências existem e muitas vezes nada devem às análises psicológicas modernas mais detalhadas. É tentador, então, submetê-las ao questionamento das ciências humanas. E não faltam ensaios brilhantes, nos quais a mística se torna, como a loucura, com mais ou menos nuances, uma patologia a ser estudada e classificada.
Pode-se também buscar nos textos místicos um documento histórico que espera encontrar seu lugar no quebra-cabeça das questões e hipóteses sobre um personagem ou um episódio, um universo mental ou social. No meio de uma frase, no detalhe de um fragmento, de uma citação ou de um rasura, afinidades se anunciam, lugares se delineiam, avenidas se traçam, sustentando ou modificando as hipóteses, desafiando as assimilações muito rápidas, permitindo descobrir a vida dos textos. Ascese indispensável à qual os textos místicos devem ter para nós alguma preciosa resistência.
Pode-se ainda abordar esses escritos desconcertantes com uma espécie de imediatez, esperando deles que transportem a um mundo outro, que mudem o olhar ou liberem acentos inéditos. Leitura poética na qual a língua mística parece sustentar um poema secundário, de amor ou de morte, leve ou trágico, às vezes muito distante do primeiro.
Pode-se finalmente, em busca de um caminho espiritual, buscar no místico um companheiro de jornada, pedir-lhe uma palavra essencial e iniciadora, arriscar-se mesmo a confiar nele para se aventurar em lugares decisivos. Aconteceu-me encontrar seres, chegados à idade do cumprimento, que haviam encontrado em tal ou qual místico, frequentado ao longo da vida, um guia e um irmão. Mas também acontecia que o haviam contornado ou mesmo ultrapassado, seja para se encontrar diante de um certo vazio, seja para se sentirem convocados por essa voz que ressoa no coração dos espirituais.
Essas diferentes maneiras de ler, que às vezes se conjugam, são todas praticáveis e legítimas. Cada uma tem sua estação e suas leis, que são também seus limites. Mas não haveria uma maneira de ler que entregaria o livro do livro, aquele que o místico mesmo lê? uma maneira de ler que apelasse à inteligência da história e dos textos, e por que não ao sonho, não para sair dele, mas para estar atento a uma gênese única e muitas vezes obscura, no próprio autor? Leitura perigosa certamente, mas que às vezes parece impor-se. Não seria isso, antes de tudo, o que os místicos esperam: que sejamos por eles convidados à atenção profunda? Seu tom é o da conversa de Nicodemos com Jesus, segundo o evangelista João, ao cair da noite. Surgidas de uma experiência ardente, muitas vezes trágica, suas páginas parecem abrigar um segredo que escapa no momento mesmo em que se dá. Como as escrituras «santas» nascidas do fogo do encontro divino por um povo, esses escritos têm o privilégio surpreendente de estarem ali à espera do espírito que os reviverá. Nas obras que foram objeto de uma reedição crítica cuidadosa ou nas edições antigas, em volumes tão intactos como se acabassem de sair da gráfica ou sob encadernações gastas e desfeitas, em fragmentos copiados, rasurados, esquecidos ou não identificados, exumados ou recolados ao acaso dos encontros de viajantes fervorosos, um tom, uma voz, palavras, ares estranhos, chamados e anúncios de além do tempo, ressoam e encontram em nós o que ainda está sem voz, sem palavras, sem cantos. A distância dos séculos torna-se então, de repente, aquela que se abre entre nós e um essencial, para além das fraturas culturais. Esses «mestres» falam de experiência e com autoridade para hoje, e parecem a alguns vir do céu, se é que essa palavra ainda pode, para nós, designar o lugar sem lugar em relação ao qual se ordenam todos os lugares do mundo e da história. Em sua companhia, abre-se um espaço onde se iluminam a desolação atual e a ausência. O fio do sentido buscado em vão, na «multiplicidade» e na «propriedade», segundo termos caros aos místicos (quantas «propriedades privadas» e «proibidas» em nosso tempo!), começa a se desenrolar, e segue, segue, de clarão em trevas, de alegria em dor e de dor em alegria, rumo ao que já está ali e no entanto sempre buscado. A vida deixa de ser um retorno lancinante de um fardo que o dia ou a noite trazem de volta, ou uma vã perseguição do vento. Mudamos de esfera, sem deixar de ter os pés no chão. Recuperamos a posição ereta, caminhando no ritmo do mundo e encontrando em um tempo outro nossa conversa. A vida humana pode voltar a ser simples e a tarefa leve. Eis-nos ao trabalho: começamos a «trabalhar sem ruído», como diz, em muitos lugares, Mme Guyon; somos convidados a essa misteriosa metamorfose de nossos dias e de nosso ser, acompanhados por esses ancestrais que se tornaram nossos contemporâneos e amigos.
