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O outro princípio do freudismo ao qual aludimos, o antagonismo entre a libido e o instinto de morte, nos parece difícil de conciliar com a “anatomia” do Eros. Certamente — concordamos sem entusiasmo — negar o instinto de morte ou um fenômeno análogo resultaria em deixar muitos fenômenos da cultura humana sem explicação. No entanto, na estrutura que examinamos, Eros e o desejo de autoaniquilação manifestam-se como o mesmo fenômeno, e não como duas tendências opostas que se limitam mutuamente. Nesse sentido, o esquema de Freud não parece aplicável ao caso que examinamos.

O fato de viver a separação ontológica como uma infelicidade tem uma coloração afetiva diferente na versão dualista e na versão monista da mística. Na primeira, manifesta-se como medo da existência monádica ou, simplesmente, como medo de si mesmo; na segunda, como adoração da divindade e desejo de se entregar a ela. No entanto, esse medo que leva ao suicídio, assim como esse amor que leva ao suicídio, são manifestações mutáveis ou particularizações afetivas de uma certa tendência originária para a qual não temos um nome.

A regressão, no sentido de Jung, e, portanto, essa nostalgia que nos comanda a voltar, através de nossos sonhos, ao estado embrionário, sem dúvida não capta a dualidade inerente ao fenômeno do Eros místico. Essa é uma designação que se refere apenas ao lado “medo” do fenômeno, abstraindo, por outro lado, de sua expansão erótica; abstrai, mais geralmente, da ligação entre o desejo de amor e a morte, e, portanto, deixa sem explicação o fato fundamental para o fenômeno que examinamos: a energia do amor dirigida ao suicídio. Como o movimento ascendente da libido primordial atinge, no limite da intensidade suprema, o ponto em que se transforma inelutavelmente em autodestruição e onde, tornando-se consciente de sua própria crueldade secreta, se santifica e se enobrece na doutrina da “morte feliz”?