Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius e a Contra-reforma
LKCE
Johann Scheffler era um homem fraco, buscando proteção, cedendo facilmente à influência de seu entorno. Ele deve aos jesuítas sua formação católica. Não conhecemos, é verdade, nenhum detalhe de sua jornada para a fé, mas os fatos citados permitem estimar que a conjunção da técnica jesuíta de conversão e do caráter do poeta explica bem tanto seu batismo quanto a publicação, com a aprovação da Igreja, do “Peregrino Querubínico”. A obra de escritor de Silesius nos obriga a supor que o método dos Padres de Breslávia foi eficaz: ele se desviou progressivamente da mística não confessional, para se tornar um católico cada vez mais fervoroso. O sentido da conversão de Silesius, portanto, não pode ser compreendido referindo-se ao caráter de sua religiosidade. É preciso supor que a cerimônia de sua conversão foi apenas o começo de um caminho ao longo do qual se operou progressivamente, subsequentemente, sua integração completa ao estilo de pensamento católico. A decadência de Silesius-poeta certamente não foi um preço muito alto a pagar pelos benefícios da salvação; aliás, é difícil avaliar em que medida e em que sentido essa decadência foi função de sua mudança confessional. A biografia de Silesius não é, como diz Ritschl, uma prova a favor da natureza católica da mística como tal; ela fornece apenas um testemunho elogioso — e, aliás, temos inúmeros — da arte, desenvolvida pela Contrarreforma, e sobretudo pela Contrarreforma jesuíta, de colocar todas as aspirações humanas “naturais” a serviço do louvor a Deus.
