Alexandre Koyré — A Filosofia de Jacob Boehme (KPJB) Livro II — Primeiro esboço da doutrina: A Aurora Nascente

• Ao retraçar a história de sua evolução espiritual Boehme ele mesmo, reparte seus escritos em três grupos distintos

O primeiro era composto somente da obra Aurora

• O segundo abarcava os três grandes livros, que seriam “bem mais profundos” e “melhor escritos” segundo ele próprio afirmava; e “que contém aproximadamente tudo que um homem deve saber”

De Tribus Principiis

• De Triplici Vita

• Psychologia Vera

• O terceiro grupo, compreendia suas obras mais profundas

De Incarnatione Verbi

• De Signatura Rerum

• Sex Puncta Theosophica

• De fato é impossível ler páginas da Aurora e dos Sex Puncta Theosophica ou do Mysterium Magnum sem se chocar com a diferença de tom, de maneira, de estilo destes escritos

• A obra Aurora, segundo Boehme foi concebida em um espírito quase mágico

O livro inteiro e seus primeiros capítulos em espacial são ainda “simples e palpáveis”

• A imaginação, segundo Boehme, ainda tem um papel importante

• O simbolismo das qualidades sensíveis e dos processos da natureza substituem a análise intelectual

• A intuição que lhe moveu, segundo Boehme, era “caótica”

Boehme diz ainda ser incapaz, àquele tempo, de se desembaraçar deste “caos”

• A intuição é instantânea mas o entendimento não a consegue apreender este conteúdo tão rico da visão

• A exposição então é ainda mais difícil

• Na Aurora encontram-se os germes da do cosmo doutrinal do teósofo

A evolução de seu pensamento é uma complicação e um enriquecimento crescentes

• Seu aparato metafísico torna-se mais abundante, mais variado, mais claro

• As peças de sua construção se tornam mais firmes

• Os diferentes estágios de sua concepção do mundo, mais exatamente delimitadas

• Entretanto, o quadro geral de seu pensamento, de sua imagem do mundo, permanece quase constante, assim como sua ideia de Deus

• Como protestante cristão seu deus era um Deus-Trindade, Deus-Criador e Deus-Salvador

Um espírito inspirador

• Um Deus de amor, de conhecimento e de luz, mas também de cólera e de fúria

• Domina seu pensamento, o duplo problema tradicional do mal e das relações entre Deus e o mundo

Próprio a Boehme, uma tripla intuição metafísica

Intuição da liberdade se encarnando no ser

• Espírito se exprimindo pelo corpo

• A dupla necessidade — para o ser e o pensamento — de uma luta e de uma oposição dos contrários cuja síntese constitui a vida

• Esta triple intuição lhe dá:

Um Deus vivo, cuja alma é um eflúvio, uma centelha

• Um Deus Espírito, que se encarna diretamente na alma

• Um mundo vivente onde Deus se exprime e em certo sentido se encarna também