Julian de Norwich (Revelações) – Escolhidos
BMCM
Capítulo 59. Nos escolhidos, a maldade é transformada em bem-aventurança pela misericórdia e graça, pois a natureza de Deus é fazer o bem pelo mal, através de Jesus, nossa mãe em graça bondosa; e a alma mais elevada em virtude é a mais humilde, sendo esse o fundamento de onde obtemos outras virtudes. Nosso grande pai, Deus todo-poderoso, que é o Ser, conheceu-nos e amou-nos desde antes do início dos tempos. E de seu conhecimento, em seu amor maravilhosamente profundo e através do conselho eterno e previdente de toda a bendita Trindade, ele quis que a segunda pessoa se tornasse nossa mãe, nosso irmão, nosso salvador. Disso segue-se que Deus é nossa mãe tão verdadeiramente quanto Deus é nosso pai. Nosso Pai quer, nossa Mãe trabalha, nosso bom senhor o Espírito Santo confirma. E, portanto, devemos amar nosso Deus em quem temos nosso ser, agradecendo-o e louvando-o reverentemente por nossa criação, orando fervorosamente à nossa Mãe por misericórdia e piedade, e ao nosso senhor o Espírito Santo por ajuda e graça; pois toda a nossa vida está nestes três—natureza, misericórdia e graça; deles temos humildade, mansidão, paciência e piedade, e ódio ao pecado e à maldade; pois é um atributo natural das virtudes odiar o pecado e a maldade. E assim Jesus é nossa verdadeira mãe por natureza, em nossa primeira criação, e ele é nossa verdadeira mãe em graça ao assumir nossa natureza criada. Toda a bela obra e todo o doce e bondoso serviço da amada maternidade é feito próprio da segunda pessoa; pois nele esta vontade divina é mantida segura e íntegra eternamente, tanto na natureza quanto na graça, de sua própria bondade. Entendi três maneiras de ver a maternidade em Deus: a primeira é que é o fundamento de nossa criação natural, a segunda é a assunção de nossa natureza (e aí começa a maternidade da graça), a terceira é a maternidade das obras, e nisso há, pela mesma graça, um alargamento de comprimento e largura e de altura e profundidade sem fim, e tudo é seu próprio amor.
