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Julian de Norwich

Julian de Norwich (1342-1416)

Pouco se conhece sobre a vida da pessoa que escreveu estas meditações e reflexões, nem mesmo o nome da autora que, segundo as primeiras linhas dos manuscritos disponíveis, viveu na Inglaterra, no século XIV. Em 13 de maio de 1373], quando estava com trinta anos e meio, relatou ter recebido dezesseis revelações ou visões místicas. Logo depois desse acontecimento, a jovem registrou o conteúdo dessas revelações em um texto intitulado A Book of Showings (Livro de Revelações)]. Uns quinze ou vinte anos depois, escreveu uma versão ampliada das mesmas dezesseis revelações. Em alguma altura da vida, resolveu ser anacoreta e foi viver em uma cela ligada à igreja de santa Julian em Norwich, East Anglia. Seguindo o costume dos anacoretas, adotou o nome do santo padroeiro do mosteiro. Não se sabe se ela adotou o estilo de vida penitente antes ou depois de escrever a edição posterior do Book of Showings, mas os registros civis de Norwich mostram que Julian permaneceu no eremitério até sua morte, entre 1416 e 1419. (Patrícia Vinje Madison, MFCJ)

Evelyn Underhill considerou Julian “a primeira mulher de letras inglesa”. Só isso deveria bastar para tornar Julian importante na história ocidental, o que de fato não aconteceu. Estamos de posse de mais de cinquenta manuscritos de Walter Hilton, contemporâneo de Julian; dela, possuímos no máximo cinco. É o caso de se pensar que sua obra não tinha boa circulação em sua época ou na nossa. Qual é a razão disso? Arrisco-me a fazer duas suposições: primeira, porque é mulher, e segunda, porque se concentra na criação. Enquanto a pretensão de Hilton à fama é a imagem batida da subida da escada espiritual, Julian ignora essas perfumarias e cria poderes para um modo de vida não-competitivo, não-compulsivo, cheio de interesse e compaixão por todas as criaturas. Neste breve prefácio, gostaria de citar algumas das contribuições de Julian para nossas necessidades de hoje. Pode bem ser que outra razão pela qual ela tenha sido ignorada, com tanta frequência, seja que até hoje não estávamos preparados para ela. Esse, na verdade, pode ser o caso de muitos dos grandes místicos centralizados na criação, como Hildegard de Bingen e o Mestre Eckhart, com quem Julian tanto aprendeu. (Matthew Fox, MFCJ)

Na noite de 13 de maio de 1373, à beira da morte, Juliana recebeu quinze “mostrações”, ou revelações, que lhe restauraram a saúde. Essas visões compreendiam imagens gráficas da crucificação de Cristo, mas como a cruz é a prova máxima do amor divino pela humanidade, muito mais foi revelado em e através das aparições corporais dos sofrimentos de Jesus. As revelações de Juliana, como ela insiste, envolviam uma mistura de formas de discernimento místico—“Todo este abençoado ensinamento de nosso Senhor me foi mostrado em três partes, ou seja, por visão corporal e por palavras formadas em meu entendimento e por visão espiritual.” A jovem tornou-se uma anacoreta, isto é, uma eremita reclusa em uma cela anexa a uma igreja em sua Norwich natal. Lá ela escreveu um relato de suas revelações e seu significado, o Texto Curto em vinte e cinco capítulos. Mas a anacoreta continuou ponderando as mostrações que Deus lhe havia dado, extraindo contemplativamente mais riquezas do mistério do amor. Por volta de 1393, ela terminou o Texto Longo das revelações em oitenta e seis capítulos. O último capítulo desta versão resume a essência de seu ensinamento—‘E desde o tempo em que foi revelado, desejei muitas vezes saber qual era o significado de nosso Senhor. E quinze anos depois e mais, fui respondida em entendimento espiritual, e foi dito: ‘Que, desejam saber o significado de seu Senhor nesta coisa? Saibam bem, o amor foi o significado dele. Quem o revela? O amor. O que lhes revelou? O amor. Por que o revela? Por amor.’” A mensagem mística de Juliana está enraizada na teologia paulina do pecado, da graça e da redenção em Jesus, especialmente na noção da solidariedade da humanidade em Cristo. Mas ela vai além da perspectiva tipicamente paulina de muitas maneiras, principalmente em seu ensinamento sobre a maternidade de Jesus, tanto em seu papel como a segunda pessoa da Trindade quanto em sua ação salvífica que traz os humanos a um novo nascimento na cruz. Juliana não inventou a noção da maternidade de Jesus, mas a desenvolveu com uma sofisticação além de tudo o que se conhecia anteriormente. (Bernard McGinn, BMCM)

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