jan_van_ruysbroeck:ruysbroeck-jro-alma-atrativa

Ruysbroeck (JRO) – Alma atrativa

Extratos traduzidos de Ruysbroeck, JRO

O amor de Deus, por outro lado, é de uma liberalidade sem limites; ele apresenta e mostra à alma tudo o que é, querendo dá-lo livremente. Por sua vez, a alma amante torna-se singularmente devoradora e ávida, e, abrindo-se totalmente, deseja ter tudo o que lhe é mostrado. Mas é criatura e não pode nem compreender nem abraçar a totalidade de Deus. E é por isso que deve tender, aspirar com todas as suas forças e permanecer sempre alterada e faminta. Quanto mais tende e se lança com ardor, mais vê que a riqueza de Deus lhe escapa; e isso se chama correr para o que sempre foge. O ESPELHO DA SALVAÇÃO ETERNA. CAPÍTULO XXIII

Vejam, há assim três portas celestiais abertas por Deus à alma amante e que dão acesso aos seus tesouros. E a alma abre todas as suas potências para dar a Deus tudo o que ela é e para receber tudo o que Ele mesmo é; mas isso ultrapassa seu poder. Pois quanto mais ela dá e recebe, mais deseja dar e receber; ela não pode nem se dar inteiramente a Deus, nem recebê-lo plenamente; pois tudo o que recebe, comparado ao que lhe falta, parece-lhe pouco e como nada. O LIVRO DAS SETE CERCAS CAPÍTULO XIX

A alma amante compreende bem, no entanto, que a honra e a reverência para com Deus constituem a virtude mais nobre, ao mesmo tempo que o caminho mais curto para ir a Ele. Por isso, ela prefere a todas as boas obras e a todas as virtudes um exercício constante e sem fim de honra e reverência para com a majestade divina. Essa é uma vida celestial que agrada a Deus; e essa exigência de sua parte, bem como a resposta dada pela alma viva, eleva todas as potências, o coração, o sentimento e tudo o que vive no homem; ao mesmo tempo que se exaltam todas as forças vitais, as veias se incham e o sangue ferve sob esse desejo veemente de procurar a glória de Deus. OS SETE GRAUS DA ESCADA DO AMOR ESPIRITUAL CAPÍTULO V

Assim, a sublime altura reduziu-se ao rebaixamento; o Filho de Deus humilhou-se e revestiu a forma de escravo, a fim de nos elevar até a forma de Deus. Ele humilhou-se e colocou-se abaixo de todos os homens; desprezou-se a si mesmo e quis servir-nos até a morte. Por isso, se quiserem assemelhar-se a ele e segui-lo onde se canta o cântico da humildade sincera, devem renegar-se e desprezar-se a si mesmos, amar e desejar o desprezo, o desdém e o esquecimento de todos os outros homens; pois a humildade permanece insensível ao que lisonjeia ou ao que é penoso, à honra ou à vergonha e a tudo o que não é ela. É o dom mais elevado e a joia mais bela que Deus pode dar à alma amante, fora de si mesmo. Ela é a plenitude de toda graça e de todos os dons. Quem nela habita está unido a ela e encontrou a paz sem fim. OS SETE GRAUS DA ESCADA DO AMOR ESPIRITUAL CAPÍTULO XII

O Espírito de Deus é a liberalidade sem medida; é claridade e fogo que abrasa, fazendo queimar e brilhar os sete dons, no ápice da alma, como as sete lâmpadas que brilham diante do trono da soberana Majestade. Ele, o amor divino, o claro sol eterno, emite esses sete raios, todos brilhantes de claridade, que aquecem, iluminam e fecundam o reino da alma, semelhantes a sete planetas situados em seu ápice como no firmamento, a fim de regular e ordenar o reino no amor divino. A alma amante é Sansão em sua força. Sua cabeça é a vontade livre, e os dons do Espírito Santo são como as sete mechas de cabelo que a adornam. Elas a enchem de graça, de força e de sabedoria contra todo vício, e é por isso que o inimigo quer cortá-las. O LIVRO DO REINO DOS AMANTES DE DEUS CAPÍTULO VI

…que tudo queima na alma amante. O LIVRO DAS DOZE BEGUINAS CAPÍTULO XLIV

Aqui começa o segundo modo dos exercícios de amor. O Espírito de Deus diz à alma amante: “Dá-me, eu te dou.” Então a alma cai em um humilde abaixamento de si mesma abaixo de tudo o que é criado e diz: “Senhor, não a minha glória, mas a sua glória deve ser procurada.” Esse humilde abaixamento é a habitação de Deus com todos os seus dons. E ele mostra à alma amante sua grandeza eterna acima de todos os dons e de tudo o que é criado. O LIVRO DAS DOZE BEGUINAS CAPÍTULO LXXVII

Ah, que perfeita é a obediência! que nobre é a vontade! que verdadeira é a caridade! Esta, de fato, partindo de um coração puro e de uma fé sincera, sabe banir todo temor, temor servil, entende-se, e não temor filial. O que há de surpreendente? Pois o amor é forte como a morte; quanto mais ama e mais suporta. A caridade perfeita sabe suportar tudo em igualdade de alma; não teme perder o agradável, nem teme o incômodo, a menos que sua ferveça possa ser diminuída ou extinta. O que certamente nunca pode acontecer, se se persegue amando o que se sabe agradar ao amado. Antes, o amor encontra seu único alimento nisso, que a alma amante se conforme ao querer de seu amado. Mas, ao contrário, quanto mais uma criatura razoável se deixa atrair pela satisfação de seu próprio gosto, mais também se afasta miseravelmente do amor eterno. E isso porque os detratores do verdadeiro amor ainda não o aprenderam por experiência, condenam por ignorância o que não sabem saborear. Pois por apego ao seu próprio proveito afastam de si mesmos esse amor ardente e assim adquirem tanto menos perfeição, quanto menos perfeitamente se apegam ao bem eterno e imutável, impregnados que estão de sua própria vontade. E essa desordem, embora lhes pareça agradável e cômoda, seria como um castigo para o verdadeiro amor. SOBRE A VIDA E OS MILAGRES DO IRMÃO JOÃO RUYSBROECK O DEVOTO E PRIMEIRO PRIOR DE GROENENDAEL CAPÍTULO XI

Essa luz é o primeiro elemento necessário para que se possa ver sobrenaturalmente, e daí nasce o segundo elemento, que vem da alma. É em um instante, o livre retorno da vontade, que então dá origem à caridade, o laço de amor entre Deus e a alma. Esses dois elementos estão tão ligados um ao outro que não podem ser completados separadamente. Quando Deus e a alma se unem na unidade de amor, há Deus que, acima do tempo, derrama sua luz, e a alma, que, em um curto momento, sob o impulso da graça, dá seu livre retorno: e ao mesmo tempo, nessa alma nasce a caridade, tanto de Deus quanto da própria alma; pois a caridade é um laço de amor entre Deus e a alma amante. O ORNAMENTO DAS NÚPCIAS ESPIRITUAIS - Livro I - A vida ativa: PRÓLOGO

Assim se criam uma aptidão e uma capacidade para receber o dom da vida interior afetiva. Quando o vaso está pronto, derrama-se nele o licor precioso, e não há vaso mais nobre do que a alma amante, nem licor mais precioso do que a graça de Deus. Eis, portanto, uma alma que dedica a Deus todos os seus atos e toda a sua vida, com intenção simples e toda reta, e que, acima de toda intenção, acima de si mesma e de todas as coisas, repousa nessa alta unidade, onde Deus e o espírito amante estão unidos sem intermediário. O ORNAMENTO DAS NÚPCIAS ESPIRITUAIS - Livro II - A VIDA INTERIOR CAPÍTULO II Jan van Ruysbroeck

/home/mccastro/public_html/cristologia/data/pages/jan_van_ruysbroeck/ruysbroeck-jro-alma-atrativa.txt · Last modified: by 127.0.0.1