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Da origem da vida; da eterna geração da Essência divina. (JBTV)

JBTV

(1) Se quisermos considerar o começo da nossa vida, e compará-lo com a vida eterna que é prometida, não podemos dizer nem encontrar que nesta vida exterior estamos em nossa morada, porque vemos o começo e o fim desta vida exterior, e com isso a completa dissolução e corrupção do nosso corpo. Além disso, não sabemos nem vemos qualquer retorno a esta vida, nem temos qualquer promessa do supremo e eterno bem.

(2) Sendo assim, já que há em nós uma vida que é eterna e imperecível, com a qual nos portamos para o supremo bem; e além disso, uma vida deste mundo, que é perecível e finita, e uma vida na qual se encontra a fonte e a original da vida, (e) onde está o maior perigo da perdição eterna, é essencial que consideremos o começo da vida de onde todas essas coisas procedem e tiram sua origem.

(3) E quando consideramos a vida e o que ela é, vemos que é um fogo ardente que consome, e quando não tem mais nada para consumir, apaga-se como se vê em todos os fogos. Porque a vida tira sua nutrição do corpo, e o corpo a tira dos alimentos; pois se o corpo não tem mais alimentos, é consumido pelo fogo da vida, de modo que se fecha e seca, como faz uma flor dos campos que não tem água.

(4) Mas já que há além disso no homem uma vida eterna e imperecível, ou seja, a alma que também é um fogo, e deve ter sua nutrição assim como a vida mortal elementar; devemos também considerar qual é sua fonte e seu alimento, o que é que lhe dá sua nutrição, de modo que nunca possa se apagar.

(5) E em terceiro lugar, encontramos que na vida da nossa alma ainda há um apetite maior por uma vida mais elevada e melhor; a saber, pelo supremo bem, que é chamado de vida divina, visto que a alma não se contenta com sua própria nutrição, mas deseja com grande atração e grande ardor, este bem supremo e perfeito, não apenas para deleites, mas como se compelida pela necessidade de se nutrir.

(6) E então percebemos em uma grande ciência, e em um verdadeiro conhecimento que cada vida deseja para alimento sua mãe, de onde a vida nasceu. É assim que a madeira é a mãe do fogo, a qual o fogo deseja, e se é separado de sua mãe apaga-se. Assim, a terra é a mãe das árvores e das plantas, e elas a desejam; assim a água com os outros elementos é a mãe da terra, e sem isso ela ficaria na morte, e não cresceria nela nem metais, nem árvores, nem plantas, nem ervas.

(7) Vemos particularmente que a vida elementar consiste em um borbulhamento, que é uma ebulição, e que quando não borbulha mais se apaga. Sabemos também que a constelação acende os elementos, que as estrelas são o fogo dos elementos, que o sol inflama as estrelas, de modo que há um trabalho e um borbulhamento um no outro; mas a vida elementar tem fim e é perecível, ao passo que a vida da alma é eterna.

(8) Se, portanto, é eterna, deve também provir do Eterno, como o querido Moisés escreveu com razão. Deus soprou no homem um hálito vivo, e o homem tornou-se uma alma viva.

(9) Mas não podemos dizer, sobre o fato de o homem consistir em uma tríplice vida, que cada vida existe separadamente com uma forma particular; mas encontramos que estas vidas estão umas nas outras, e no entanto que cada uma tem sua operação em seu regime, ou seja, em sua mãe. Pois como Deus Pai é tudo, visto que tudo sai dele, que está presente em todo lugar, e é o complemento de toda coisa, e que a coisa não o compreende, que assim a coisa não é Deus, nem seu espírito, nem sua verdadeira essência divina, de modo que não se pode dizer de nenhuma coisa apreensível: isso é Deus, ou bem Deus está aqui mais presente do que em outro lugar; enquanto, no entanto, ele está realmente presente, ele contém as coisas e as coisas não o contêm; pois ele não reside nas coisas, mas em si mesmo em outro princípio.

(10) Da mesma forma é a alma do homem soprada por Deus; ela reside no corpo, é cercada pelas estrelas e pelo espírito elementar, não apenas como uma vestimenta cobre o corpo, mas é impregnada pelas estrelas e pelo espírito elementar, como a peste ou outra doença infecta o espírito elementar, de modo que envenena seu corpo, o faz declinar e perecer. Então a fonte das estrelas se separa também da alma, e se consome a si mesma, já que a mãe elementar se quebra. Então o espírito das estrelas não tem mais nenhuma nutrição, e é por isso que se consome a si mesmo; mas a alma reside na nudez, pois vive de outra nutrição.

(11) Assim, concebemos desta maneira. Embora a alma seja aprisionada pelas estrelas e pelo espírito elementar, de modo que o trabalho deles age na alma, no entanto a alma tem outra nutrição e vive em outro princípio, e também é de outra essência; pois suas essências não provêm da constelação, mas tiram sua origem e sua reunião corporal do vínculo eterno, da natureza eterna, que é de Deus o pai, antes da luz de seu amor, onde ele entra em si mesmo e faz ele mesmo o segundo princípio em seu amor, de onde ele engendra sempre, e de eternidade em eternidade, sua palavra eterna e seu coração. Pois ali, o santo nome de Deus se produz incessantemente, e contém sua natureza divina em si mesmo como um espírito no segundo princípio, e não reside em nada, mas apenas e puramente em si mesmo.

(12) Pois embora o vínculo da natureza eterna esteja nele, no entanto o divino espírito não está sujeito a este vínculo, já que é o espírito que inflama este vínculo da natureza, para que ela seja iluminada e movida pelo poder da luz no amor e na vida da palavra do coração de Deus, de modo que seja uma santa alegria e um paraíso do espírito, que é chamado Deus.

(13) Da mesma forma também a alma humana é à parte do vínculo da origem eterna, mesmo residindo nela eternamente, e ela deseja em si mesma penetrar até Deus no segundo princípio, e se saciar do poder de Deus.

(14) Mas já que com todo seu ser, com suas próprias essências, ela não pode mais entrar na luz e no poder de Deus, do que a natureza eterna pode penetrar na luz de Deus, de modo a apoderar-se da luz em propriedade e em poder próprio; mas que a luz brilha fora do amor em seu próprio princípio, na natureza eterna, de modo que assim a luz reside um mestre da natureza eterna, já que a natureza eterna não pode a apoderar, mas se regozija na luz e produz para fora suas maravilhas no poder e na inteligência da luz, onde então elas são postas em manifestação.

(15) Da mesma forma também a alma do homem não pode, com suas essências, penetrar na luz de Deus para a dominar; mas deve em si mesma, como em um segundo princípio, penetrar em Deus em seu amor. Pois deve-se aqui entender um segundo novo nascimento na alma, visto que ela não deve apenas sair fora da vida astral e elementar, mas também fora da fonte de sua própria vida, e buscar sua vontade no amor de Deus se quiser estar lá; e esta vontade buscada é recebida de Deus, e Deus reside nesta vontade. Assim a luz e a vida divina vêm para a alma, e ela é filha de Deus; pois reside em sua fonte e em sua vida, como Deus mesmo reside na fonte da natureza eterna.

(16) Aqui agora concebemos que fora da luz de Deus, (ou) do segundo princípio, há na natureza eterna uma fonte angustiante. Pois o vínculo da vida existe no fogo; mas se este mesmo fogo é impregnado e envolvido pelo santo amor divino, a vida em si mesma se porta em outro princípio, pois outro princípio lhe é aberto no qual ela vive, e o viver está em Deus, da mesma forma que Deus reside em si mesmo, e é no entanto verdadeiramente tudo, tudo provém de sua natureza. Mas não se deve entender que tudo venha da natureza eterna (apenas as almas e os espíritos angélicos); mas de sua vontade criada que tem um começo, ou seja, do externo; é o que faz com que todos os seres deste mundo sejam perecíveis.

(17) E encontramos aqui dentro da nossa alma, a grande e terrível queda de nossos primeiros pais, o que faz com que ela tenha entrado no espírito deste mundo em uma morada estranha, e tenha abandonado a luz divina na qual era um anjo e um filho de Deus; é por isso que deve passar novamente em um novo nascimento para a vida de Deus.

(18) Mas como isso não era possível para a alma, a vida divina veio do amor e da graça para nós na carne, e tomou de novo em si nossa alma humana na vida divina e no poder da luz, para que possamos, em um novo nascimento, até Deus nesta mesma vida (divina).

(19) Pois da mesma forma que com a alma de Adão, passamos todos fora da vida divina, e que todos geramos e herdamos o mau suco da alma de nossos pais como de uma fonte; da mesma forma a vida de Deus em Cristo nos gerou de novo, de modo que na vida de Cristo podemos de novo entrar na vida de Deus.

(20) Assim agora acontece que nossa alma está no vínculo do original eterno, infectada pelo espírito deste mundo, e aprisionada pela cólera do original na vida do fogo eterno ou da natureza eterna. É por isso que todos nós devemos, cada um por sua própria conta, nos introduzir com nossa alma na vida de Cristo para Deus, no novo nascimento, na vida e no espírito de Deus. E aqui não há nada a retirar da hipocrisia da santidade exterior, nem das próprias obras meritórias; pois a pobre alma não pode ser aliviada, a menos que em si mesma ou em uma vontade recém-criada, ela entre por uma firme resolução na vida de Cristo. Lá ela é recebida por Deus e seus filhos no segundo princípio com grandes honras, é dado a ela o nobre e querido tesouro, ou a luz da vida eterna que ilumina a fonte do fogo da alma no primeiro princípio, onde ela existe eternamente com suas essências substanciais; sua angústia se transforma em amor, e sua elevação e seu inflamamento, que são a verdadeira propriedade do fogo, torna-se uma humilde e amável alegria em doces deleites.

(21) E assim a alma é a alegria na vida divina; o que poderia comparar a uma luz acesa, quando o pavio da vela queima e espalha um doce brilho; neste brilho não há nenhum borbulhamento, mas uma clara alegria, e no entanto o pavio inflamado continua a queimar. Todavia deve-se conceber isto como não havendo nenhuma dor no pavio ardente, mas uma causa do brilho da vida, já que não se pode comparar nenhum fogo ao fogo divino; pois a natureza divina de onde se inflama o fogo da vida divina é impregnada do amor de Deus, de modo que a luz divina faz em si um segundo princípio, no qual nenhuma natureza é perceptível, pois é o fim da natureza.

(22) Por isso a alma em suas próprias essências não pode apoderar-se da luz de Deus para se apossar dela, pois a alma é um fogo na natureza eterna, e não atinge o fim da natureza. Pois reside na natureza como uma criatura produzida da natureza eterna; e lá no entanto não há nenhuma compreensibilidade, mas um espírito em uma forma septenária; embora no original não haja sete formas conhecidas, mas apenas quatro, as quais sustentam o vínculo eterno, e são a fonte em angústia em que consiste o que é eterno. E daí são geradas todas as outras formas, em que consiste Deus e o reino dos céus; e nas quatro formas está a angústia e a dor se elas estão sozinhas e nuas, e lá entendemos o fogo infernal e a cólera eterna de Deus.

(23) E embora não conheçamos o original da essência de Deus, já que ela não tem; no entanto conhecemos a geração eterna que nunca teve começo, ela ainda é hoje o que foi desde a eternidade; por isso podemos bem compreender o que vemos hoje, e que reconhecemos na luz de Deus. E ninguém deve nos julgar ignorantes, porque Deus nos dá a conhecer sua própria essência, o que não podemos nem devemos negar, sem expor nossa salvação eterna e sob pena de perder a luz divina; pois é impossível para todo homem a possuir, a menos que Deus, por sua graça, lha dê em seu amor; e se é dada, então a alma reside no conhecimento das maravilhas de Deus; ela não fala de coisas estranhas e distantes dela, mas das coisas nas quais reside, e de si mesma; pois vê na luz de Deus, de modo que pode se conhecer a si mesma.

(24) Para que a coisa seja assim, pensem que no original as essências da alma estão no primeiro princípio, e que a luz divina brilha em si mesma e forma o segundo princípio; assim de lá eles são dois; e a alma pela alta conhecimento da luz do segundo princípio, vê o que brilha em seu país natal no qual ela vive? E tu, mundo insensato, quererias proibi-lo! Tu que, mergulhado no terceiro princípio, no espírito das estrelas e dos elementos, ainda és cego para Deus e amarrado na cólera eterna e na fonte do original!

(25) Já que isso é assim, queremos colocar a base do vínculo eterno, como um espelho para aquele que deseja ver; embora seja certo que ele não possa aprender de nós, a menos que caminhe ele mesmo no renascimento, na vida de Jesus Cristo, para que a luz divina ela mesma brilhe nele, sem o que seremos para ele apenas um historiador e ele não nos entenderá.

(26) Mas se falamos do borbulhamento do fogo e de seu inflamamento (o que entendemos do fogo da vida), sabemos muito certamente, que antes do inflamamento do fogo e no original, ele consiste apenas em duas formas, e tem apenas uma única mãe que é o adstringente e atrai, e no entanto esta mãe não é nada em si a não ser uma vontade do Pai eterno na natureza eterna, a qual mãe ele colocou em si mesmo para se manifestar e mostrar suas maravilhas.

(27) Ora, esta vontade é eterna, e não é movida por nada a não ser por si mesma; e se isso não fosse assim, tudo seria apenas um nada sem luz nem trevas: assim, portanto, se há algo, deve ser a vontade eterna que é atrativa e desejosa, a saber, particularmente das maravilhas de sua criação. Pois, já que há um desejo, este desejo atrai em si, e o que é atraído no desejo, torna a vontade plena, de modo que o desejo é pleno; pois a vontade é vazia como um nada, e o que é atraído na vontade, torna a vontade substancial e é sua treva; então o desejo eterno está na treva.

(28) Se agora a vontade atrai a si no desejo, esta atração (ou atract), é um aguilhão de movimento; pois a vontade é fina como um nada e tranquila como um nada. Se, portanto, a vontade é um desejo eterno, ela atrai em si eternamente, e lá no entanto não há nada a atrair, mas ela atrai a si mesma e se engravida a si mesma, de modo que de nada vem uma treva, e o atract faz o aguilhão da primeira essência, de modo que há um movimento e um princípio de mobilidade.

(29) Mas então a vontade não pode suportar ao mesmo tempo o aguilhão e o engrossamento, pois ela gostaria de ser livre e não pode, pois é desejosa; e como não pode ser livre, ela entra em si com o desejo, e concebe (compacta) em si uma outra vontade de sair das trevas em si mesma, e esta segunda vontade conhecida é a alma eterna; ela entra em si como um pronto relâmpago, e dissipa as trevas: ela sai em si mesma e reside em si mesma e forma assim um outro princípio de um outro borbulhamento (ou qualidade), pois o aguilhão do movimento reside na treva.

(30) Agora devemos falar das formas na natureza adstringente tenebrosa; pois é desta propriedade e por este caminho que se originaliza a natureza, já que concebemos que a treva tem uma ternura para com a luz que está eternamente diante dela, embora em um outro princípio.

(31) Pois as duas formas, a saber, o adstringente e o amargo agudo, são o original de todos os seres, e a vontade eterna é a mãe na qual se engendram; e devemos entender que o adstringente, pela compactação da vontade, atrai sempre a si, e que o atract é o aguilhão do movimento, o que o adstringente não pode suportar. Pois o adstringente deseja o forte adstringente-aprisionamento na morte, e o amargo agudo é o abridor, e isso no entanto não seria nada em si sem sua vontade.

(32) Quando, portanto, o adstringente atrai tão forte que não possa suportar o aguilhão, ou o próprio atract do adstringente, mas que se move violentamente, e que o adstringente também não pode suportar o movimento, então ele deseja a tranquila morte; tal é a cadeia e o vínculo que se produz incessantemente a si mesmo e que não tem nenhum produtor.

(33) Ora, isto vai rapidamente de um para o outro como um pronto pensamento; o aguilhão gostaria de sair fora do adstringente, mas não pode também, pois o adstringente o engendra e o retém; e como não pode se superar a si mesmo, é giratório como uma roda, e o adstringente atraído se abre, e faz um contínuo borbulhamento e mistura no qual consiste a ruptura e a dor, embora não haja lá nenhuma sensibilidade, mas apenas as formas da natureza. E entendemos aqui a sensibilidade, e no entanto não há, pois não há nenhuma matéria; mas apenas a originalidade do espírito ou da natureza eterna na vontade eterna, pois o desejo adstringente atrai e opera em linha reta e a amargura se abre em roda giratória, de modo que assim resulta a multiplicidade das essências, e isso é como uma espécie de franquia, ou, assim como poderia expressar por comparação, um borbulhamento da mobilidade eterna, uma causa das essências.

(34) A vontade eterna deve provar isso em si; por isso ela concebe uma outra vontade de fugir fora desta roda, e no entanto não pode, pois é lá sua própria essência e como não pode, e que no entanto não pode também abandonar seu eterno desejo e sua atração, ela retém e atrai no entanto a si, de modo que as essências são continuamente geradas, e no entanto fora o desejo elas são um nada; e assim toda a forma consiste em som, e se nomeia mar. E como a vontade não pode ser livre, ela cai em angústia (para falar segundo a inteligência humana, para que o leitor possa apreender o sentido e a profundidade), pois a vontade é a concepção, e o que é conhecido na vontade é sua treva, e o desejo é a essência, e a vontade oposta é a roda da multiplicidade das essências, de modo que não se pode determinar de forma alguma o número, mas a multiplicidade é dependente da mobilidade.

(35) Estas duas formas são as eternas essências, e o vínculo eterno que se opera a si mesmo e não saberia fazer de outra forma; pois a grande extensão sem fim deseja um aperto e uma compactação na qual possa se manifestar: ora, no espaço e no repouso não haveria nenhuma manifestação, por isso é preciso que haja um atract e um encerramento na qual a manifestação brilhe.

(36) Também deve haver uma contra-vontade, pois uma vontade límpida e tranquila é como um nada e não engendra nada; mas se uma vontade deve engendrar, ela deve estar em algo onde possa formar e engendrar nesta coisa. Pois nada é nada, se não é um eterno repouso sem movimento; lá não há nem treva, nem luz, nem vida, nem morte.

(37) Mas se vemos claramente que há luz e treva, e além disso uma eterna mobilidade e formação, que não apenas está no lugar deste mundo tão longe quanto nossos sentidos podem se estender, mas sem fim e sem número lá onde o mundo angélico brilha claramente, e não no encerramento das trevas, então devemos elevar nossos pensamentos para o mundo angélico, o qual no entanto não está fora deste lugar; mas em um outro borbulhamento e na eterna luz, e no entanto não poderia lá haver nenhuma luz, se não houvesse uma geradora (uma matriz).

(38) Se, portanto, ela deve brilhar fora da geradora, ela deve sair fora da geradora, pois a geradora é uma treva; e lá no entanto não haveria nada também, se não houvesse lá a palavra eterna que opera a vontade eterna, e é nesta operação o nascimento da essência eterna. É daí que São João diz: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava no princípio com Deus; e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito foi feito.

(39) Aqui, minha querida alma, considera de onde vêm a luz e as trevas, assim como a alegria e o sofrimento, o amor e o ódio, da mesma forma que o reino do céu e do inferno, o bem e o mal, a vida e o aprisionamento da morte.

(40) Tu dizes: Deus criou estas coisas! Sim, de fato. Por que no entanto és cego e não reconheces isso, se és a semelhança de Deus? Por que falas de Deus mais do que sabes, e do que não te foi manifestado? Por que fazes leis das vontades de Deus, não as sabendo de forma alguma, já que não as conheces? Ou por que aprisionas a vida na morte, se podes realmente viver e conhecer Deus que reside em ti? Pois ouviste também de São João, que toda coisa foi feita pelo Verbo.

(41) Mas se Deus é a palavra que tudo fez, deve estar em toda coisa, pois um espírito não é uma essência feita, mas uma essência engendrada em si mesma, que tem em si mesma o centro da geração, sem o que ela seria perecível.

(42) Desde então o centro deve residir no eterno operante, sem o que seria passageiro, e lá não há nada de toda eternidade, a não ser apenas a palavra, e a palavra foi Deus. Assim ele deve ser eternamente seu próprio operante, e deve se pronunciar a si mesmo como uma palavra de fé, como de seu próprio operante: pois lá onde há uma palavra, há também um falante que a pronuncia. Já que é seu pai que a pronuncia, e que a palavra é seu filho que é pronunciado do centro do pai, e que o pai se nomeia em seu centro um fogo devorador, ao passo que o filho ou a palavra é nomeado uma luz do amor, humildade, doçura, pureza, santidade, e que o pai da palavra é assim chamado e conhecido em toda a Escritura. É para nós considerarmos o borbulhamento do fogo no centro do pai, já que o pai e a palavra são uma única coisa, apenas sob duas formas, e que a cólera assim como o abismo do inferno reside no centro do pai; pois São João diz: De e por ele todas as coisas foram feitas, e sem ele nada é feito.

(43) Pois quando a palavra quis criar, e o pai pela palavra, não havia então nenhuma matéria da qual pudesse operar. Pois tudo era um nada, nem bom, nem mau, nem luminoso, nem tenebroso; mas o centro estava lá, e era a vontade eterna, e o pai é o centro, e a vontade é seu coração; seu filho, sua palavra. É lá apenas o eterno Ser, e o vínculo que se operava a si mesmo; e lá no entanto não se pode apreender assim a divindade, já que o ser dá uma diferença e brilha em dois princípios; por isso queremos expor a base tal como nos é certamente conhecida.

(44) E o objeto e o objetivo do nosso escrito é, que vejam quão cegos estão e quão sem luz agem, quando fazem tantas dissertações sobre os escritos dos santos, a respeito do ser e da vontade de Deus, e que no entanto não o conhecem.

(45) Perseguem-se, injuriam-se, ultrajam-se uns aos outros; fazem guerras e insurreições, devastam países e nações em relação ao verdadeiro conhecimento de Deus e de sua vontade; e no entanto relativamente a Deus, estão tão cegos quanto pedras. Não se conhecem a si mesmos, embora sejam tão furiosos e combatam a respeito de Deus, que é o criador, o conservador e o sustentador de todas as coisas, que em tudo é o centro. Combatem a respeito de sua luz, que, no entanto nunca brilha na cólera e na maldade, mas que sai de seu centro no doce amor e na humildade. Assim são insensatos e furiosos, e pensam que o têm assim na língua nos combates da maldade; não o têm, mas apenas a história dos santos, que tiveram a luz brilhante de seu próprio centro; é por isso que falaram do Espírito santo, que tiveram a luz brilhante de seu próprio centro; é por isso que falaram do Espírito santo que sai da luz. Mas pegam suas palavras e o centro do seu coração está fechado, ele caminha e corre nas quatro formas da maldade.

(46) Quero, portanto, mostrar a base dos dois eternos princípios saindo de um centro, para que possam ver como correm no reino do demônio, para que talvez se voltem, que abandonem o seu orgulho, que entrem em si mesmos, e que assim obtenham o supremo e eterno bem.

(47) Quero mostrar o que somos no corpo e na alma, o que é Deus, o céu e o inferno; não tomem isto por bagatelas, pois isso se confirma (e se prova) em todas as coisas, e não há nada de muito pequeno onde isto se manifeste; apenas não se ceguem em suas trevas com o seu lamentável orgulho. Busquem a base da natureza, experimentem todas as coisas e não caminhem como insensatos de acordo com as letras nuas da história, e não façam assim leis cegas de acordo com a sua obscuridade, com as quais se perseguem uns aos outros; nisso são mais cegos que os pagãos.

(48) Busquem o coração e o sentido das Escrituras, de modo que nasça em si e sintam abrir em si o centro do amor divino; poderão então reconhecer Deus e falar dele com justeza; pois historicamente ninguém pode se nomear mestre e sábio no ser divino, mas pelo Espírito santo que brilha em um segundo princípio no centro da vida do homem, e reluz para aquele que busca seriamente e com retidão. Como Cristo nos recomenda bater e buscar seu pai, ou seja, no centro da vida com uma humildade franca, sincera e cheia de desejos, é por aí que encontraremos.

(49) Pois ninguém pode reconhecer Deus como seu mestre, buscá-lo e encontrá-lo sem o Espírito Santo que sai de um coração humilde e que busca, e ilumina a alma para que ela ilumine os sentidos, e que o desejo se volte para Deus. Apenas este encontra a querida Virgem da sabedoria de Deus que o conduz pelo caminho certo, e o leva às águas frescas da vida eterna e reanima sua alma. Assim cresce o novo corpo da alma em Cristo, do que trataremos profundamente em seguida.

(50) Lembramos ao leitor que busca e que ama Deus, de reconhecer isto como vindo de Deus, para que não se deixe roubar sua alma e seu pensamento, até buscar a pura divindade apenas acima das estrelas, como residindo sozinho em um céu de onde ele reina neste mundo por seu único espírito e seu poder, da mesma forma que o sol reside em uma alta profundidade, e opera por seus raios em todo lugar e em todo o mundo. Não.

(51) A pura divindade está em toda parte, inteiramente presente em todos os lugares e em todas as regiões: em toda parte é o nascimento do triângulo em um único ser, e o mundo angélico atinge a todas as regiões onde se estende seu pensamento, da mesma forma que na terra, as pedras e as rochas. Assim o inferno e o reino da cólera de Deus também estão em toda parte.

(52) Pois o reino fogoso, na cólera das trevas, está no centro, e conserva seu borbulhamento e seu regime nas trevas, e a divindade sai em si mesma no centro, e lhe faz uma alegria em si mesma que é impenetrável e incompreensível às trevas, pois ela abre um outro princípio.

(53) Pois a palavra eterna é a vontade eterna, e uma causa da natureza eterna; e a natureza eterna é o eterno Pai, no qual todas as coisas são criadas pela palavra (entendam na natureza eterna); e se a vontade eterna não buscasse em si uma segunda vontade de sair em si mesma (como uma luz brilhante queima fora de uma vela, e não se afasta da vela) o pai estaria sozinho, e uma profunda treva, e também este mundo, ou o terceiro princípio, não teria podido ser criado.

(54) Mas se o Pai contém em si em sua essência a natureza eterna, e é a vontade eterna ela mesma, e engendra de si uma segunda vontade que, na primeira vontade eterna que é o Pai, abre o princípio da luz no qual o Pai com a eterna essência se torna amável, alegre, claro, pacífico, em sua eterna vontade original, então o Pai não está no borbulhamento das trevas; pois a vontade recompactada que sai do centro e dispersa as trevas, é seu coração, e reside em si mesma e ilumina o Pai; e esta vontade é a palavra do eterno Pai, que é engendrada da eterna essência, e é com justa razão uma segunda pessoa, e ela reside em si mesma nas essências do Pai; e é a luz do Pai, e esta palavra ou vontade criou todas as coisas, entendam da essência do Pai, pois é a eterna Onipotência, já que não pode ser atingida pela eterna essência; pois ela dispersa a eterna essência e reside em si mesma e brilha fora da essência; e no entanto acontece que não pode mais se afastar da essência, do que a claridade se afasta do fogo.

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