Klimov (1997) – Júpiter
Klimov1997
Sobre Júpiter (Jovis), Dom Pernety escreve: “Os químicos dão esse nome ao metal que comumente chamamos de estanho; mas os alquimistas muitas vezes entendem outra coisa, como na explicação que dão da fábula de Anfitrião e Alcmena, onde Júpiter é considerado esse calor celeste e esse fogo inato que é a primeira fonte e como a causa eficiente dos metais, razão pela qual dizem que o mercúrio, que é o seu primeiro e principal agente da grande obra, é representado sob o nome de Hércules, gerado por Alcmena e Júpiter, porque Alcmena é considerada o símbolo da matéria terrestre e seca, que é como a matriz da umidade metálica sobre a qual Júpiter atua.” (Dicionário mito-hermético, p. 230.) Cf. De Signatura rerum, IV, 29 (o “metal (de Júpiter) é o estanho”). Comentário notável de Koyré sobre esta passagem do texto de Frankenberg: “Boehme não fala, é verdade, desta ocasião exterior da sua visão — da luz que brilhava na superfície de um vaso de estanho — mas não temos nenhuma razão para não acreditar na sua realidade. É demasiado evidente que Frankenberg não teria sabido inventar este traço na sua simplicidade, pois mesmo neste relato vemos-o bem em ação: o caráter jovial do estanho, eis o que lhe parece importante e digno de interesse, eis o que explica, na sua opinião, o caráter da visão; não foi Frankenberg (…) que poderia ter inventado este símbolo luminoso de um dos aspectos da doutrina de Boehme; ele não viu, como Boehme viu, na luz que, invisível em si mesma, se revelava em seu esplendor e brilho ao se opor, ao colidir com a superfície polida e opaca do estanho, o verdadeiro símbolo de Deus, da luz divina que, para se revelar e se manifestar, precisava de um “outro”, de uma resistência, de uma oposição; que, para dizer tudo, precisava do mundo para se refletir, se expressar, se opor, se separar dele.” (A filosofia de Jacob Boehme, p. 20.) Sobre o uso do adjetivo agradável, consulte as numerosas passagens da obra de Boehme dedicadas a Júpiter, nomeadamente: Aurora, XXI, 126, XXV, 107, XXVI, 14; Mysterium magnum, V, 11 sv. (“A origem da vida, Júpiter”); De Signatura rerum, IV, 21 sv., IX, 35 sv., X, 1 sv. Nesta última obra, há dois textos interessantes, sendo que o segundo ajuda a compreender melhor a “experiência existencial” relatada por Frankenberg: “O livre prazer da Eternidade é Júpiter, devido à sua amabilidade…” (IX, 9); “Júpiter é o livre prazer do nada, ele causa o desejo amoroso ardente pelo qual a liberdade tende a introduzir-se no reino da alegria…” (IX, 20).
