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Gerhard Wehr (CHJB) – A "Alquimia da Linguagem" e a Sabedoria Interior

CHJB

A linguagem natural de Böhme não se situa, portanto, no domínio de competência do filólogo, interessado na etimologia e na evolução do significado das palavras. No entanto, não se tem o direito, por isso, de considerar a teoria de Böhme como uma ingenuidade pré-científica. Certamente, é difícil lançar uma ponte entre as teorias modernas da linguagem, por um lado, e, por outro, a logosofia de Böhme, que se poderia qualificar, com Gustav René Hocke, de “alquimia da linguagem”.

Talvez seja interessante dar um exemplo, extraído de “A Aurora”: A palavra barmherzig (misericordioso), usada como atributo de Deus, contém, segundo Böhme — de acordo com sua teoria dos três princípios — a expressão das qualidades de Deus, a saber, da qualidade “doce” dentro da qualidade “acre”, “ácida” e “amarga”. Eis como ele a explica: “Quando dizes “barm”, as duas qualidades “acre” e “amarga” vêm formar muito suavemente esta palavra “barm”, é uma sílaba longa e impotente, por causa da fraqueza das qualidades que ela envolve. Por outro lado, quando dizes “Herz”, o espírito se precipita para fora, com a rapidez do relâmpago, nesta palavra “Herz”, e confere a esta palavra seu valor distintivo e seu significado. Finalmente, quando dizes “ig”, capturas o espírito no meio das outras duas qualidades, de modo que ele deve permanecer dentro e formar a palavra inteira. Assim é a força divina: as qualidades acre e amarga são o Saliter da onipotência divina; a qualidade doce é o núcleo da misericórdia, que faz com que o ser inteiro, com todas as suas forças, se chame “Deus”. O calor é o núcleo do espírito, do qual emana a luz; esta se acende no meio da qualidade doce e é capturada pelas qualidades acre e amarga em seu meio. É ali, no interior, que é gerado o Filho de Deus. E este é o coração autêntico de Deus”. É de maneira similar que Böhme procura interpretar um grande número de termos e também de nomes de pessoas. Esta interpretação sempre tende a expressar a natureza elementar e o aspecto dinâmico das coisas. Os “três princípios” estabelecem um vínculo entre o que é de Deus, do cosmos e do homem.

Böhme, a bem da verdade, percebia que sua teoria da linguagem natural não fornecia uma resposta racional às questões levantadas, mas, sim, criava novos problemas. É importante notar que, mesmo quando usava termos latinos — embora, de fato, não conhecesse a língua latina —, ele procurava penetrar, nas sílabas, o segredo dos sons. “Em verdade, meu espírito não se baseia na língua latina, mas sim na língua natural”, explicou ele um dia a um amigo.

O teósofo, ademais, advoga sua língua materna, à qual confere preferência, apesar de os eruditos de seu tempo não a considerarem nem suficientemente flexível nem suficientemente clara para substituir validamente o latim. “O essencial”, escreve ele, “é compreender bem sua língua materna; seu espírito está nela mais profundamente enraizado do que na língua hebraica ou latina, embora os sábios se exibam com seu conhecimento dessas línguas, à maneira de uma noiva pretensiosa. Isso não importa, a arte deles agora está em declínio. Parece que, em breve, muitos leigos saberão e compreenderão mais do que os doutores mais inteligentes; pois a porta do céu está se abrindo”.

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