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Boehme (JBVAS) – Da vida além dos sentidos (50-57)

Jacob Boehme — Da vida além dos sentidos (JBVAS)

50 — Como e por quem o mundo será julgado?

— Pelo movimento divino, através da pessoa e do espírito de Cristo. Ele separará de Si, pela Palavra de Deus feita homem, o que não pertence ao Seu reino.

E Seu reino será plenamente manifestado no próprio lugar onde agora está estabelecido o nada do mundo. Pois o movimento da separação ocorrerá por toda parte simultaneamente.

51 — Onde serão lançados os demônios e os condenados, se todo este mundo será o reino de Cristo e totalmente glorificado? Serão expulsos deste lugar, ou Cristo exercerá Seu domínio fora dele?

— O inferno permanecerá neste mundo de um extremo a outro, mas estará oculto no reino dos céus como a noite se esconde no dia.

A luz brilhará eternamente nas trevas, e as trevas não a compreenderão. A luz é o reino de Cristo, e as trevas são o inferno, onde habitam demônios e ímpios.

Assim serão esmagados pelo reino de Cristo e postos como escabelo de Seus pés, em eterno opróbrio.

52 — Como todos os povos comparecerão no juízo?

— A Palavra eterna de Deus, da qual emana a vida de todas as criaturas espirituais, mover-se-á então, segundo o amor e a ira, em toda vida pertencente à eternidade. Atrairá a criatura ao juízo de Cristo.

Por este movimento da Palavra, a vida se manifestará em todas as suas obras, e cada um verá e experimentará em si mesmo sua sentença.

Pois o juízo se revela nas almas desde a morte do corpo.

O Juízo Final será apenas o retorno do corpo espiritual e a separação do mundo: o mal será apartado do bem na substância do mundo e no corpo, cada coisa em seu lugar eterno.

O juízo é a manifestação da presença oculta de Deus em toda substância e vida.

53 — Como será proferida a sentença?

— Vede as palavras de Cristo: “Dirá aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino preparado para vós desde a fundação do mundo.

Pois tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me acolhestes; nu, e me vestistes; enfermo e preso, e me visitastes.”

E eles responderão: “Quando te vimos assim e te servimos?”

E o Rei lhes dirá: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.”

E aos ímpios, à Sua esquerda, dirá: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos.

Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber…”

E estes também perguntarão: “Quando te vimos assim e não te servimos?”

E Ele responderá: “Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, a mim o não fizestes.”

E irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.“ (Mateus 25:34-46)

54 — Querido Mestre, explica-me por que Cristo diz: “O que fizestes aos pequeninos, a mim o fizestes”? Como se faz a Cristo quando se faz a eles?

— Cristo habita essencialmente na fé dos que a Ele se entregam. Dá-lhes Sua carne como alimento e Seu sangue como bebida, possuindo assim o âmago de sua fé.

Por isso um cristão é ramo em Sua videira, chamado cristão porque Cristo nele habita espiritualmente.

O que se faz a tal cristão em suas necessidades corporais, faz-se ao próprio Cristo que nele vive: pois esse cristão não é de si mesmo, mas totalmente entregue a Cristo.

Quem nega auxílio a tal cristão necessitado, rejeita o Cristo em seus membros. Quando um pobre que pertence a Cristo pede e lhe negas, é a Cristo que negas.

Tudo o que se faz contra um cristão, contra Cristo se faz. Mas quem o recebe, alimenta e veste, a Cristo o faz - e a si mesmo, se for cristão, pois em Cristo somos um só, como a árvore e seus ramos.

55 — No dia do juízo, como subsistirão os que oprimem o pobre, sugam seu suor, e só visam seu próprio poder e prazer?

— Todos esses fazem estas coisas ao próprio Cristo, perseguindo-O em Seus membros. Ajudam o diabo a aumentar seu reino, afastando os pobres de Cristo.

Agem como o diabo que se opõe ao reino do Amor. Se não se converterem de todo coração, irão para o fogo infernal a que tal vontade própria está destinada.

56 — Como subsistirão os que, no presente, disputam o reino de Cristo e por isso se perseguem e caluniam?

— Esses nunca conheceram Cristo. São como figuras do combate entre céu e inferno pelo domínio.

Sua arrogância em disputas de opinião é apenas imagem da propriedade egoica. Quem não tem fé e humildade, servindo apenas à vontade própria imaginária, serve ao reino das trevas.

Toda vontade própria será entregue às trevas no juízo. Seus debates vãos, que buscam não o Amor mas exibição em opiniões, levaram príncipes a guerras que devastaram terras.

Todos esses serão julgados. As imagens e opiniões cessarão, e os filhos de Deus caminharão no amor de Cristo. O que neste combate não busca promover o Amor, mas vantagem própria, é do diabo e será separado de Cristo.

Pois no céu todos servem a Deus em humildade.

57 — Por que Deus permite tal combate?

— A vida luta para se manifestar, tornar-se perceptível, e para que a sabedoria seja distinguida e conhecida. Serve assim à eterna alegria da vitória.

Os santos se regozijarão eternamente vendo como Cristo neles venceu as trevas e a vontade própria, libertando-os do combate. Alegrar-se-ão vendo o castigo dos ímpios.

Deus permite agora a livre vontade, para que o reino eterno - de amor e ira, luz e trevas - seja manifesto. Cada vida provoca em si mesma sua própria sentença.

O que agora é combate e tormento para os santos, transformar-se-á em grande alegria. E o que é prazer para os ímpios, tornar-se-á tormento eterno.

A alegria dos santos nascerá da morte, como a luz da vela que se consome no fogo. Assim a vida é libertada do tormento da natureza para possuir outro mundo.

Como a luz difere do fogo - dando-se enquanto o fogo se devora - assim a vida santa reverdece pela morte da vontade própria, quando só o amor de Deus governa.

O Eterno tomou em Si sensibilidade e diferenciação, reintegrando-se pela morte em um grande reino de alegria, para que haja na Unidade infinita eterno regozijo.

O tormento é fundamento e causa deste movimento.

Nisto repousa o mistério da sabedoria oculta de Deus.

Quem aqui pede, receberá; quem busca, encontrará; e a quem bate, abrir-se-á.

A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos nós.

Amém.

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