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Boehme (JBJC) – Da pura virgindade

JBJC

Nós, pobres filhos de Eva, não encontramos em nós nenhum pensamento verdadeiramente puro, casto e virginal, pois a mãe Eva, que era uma mulher, a todos nos fez macho ou fêmea: por Adão e Eva todos nos tornamos homens e mulheres, a menos que por nossa vontade desejante não entremos na virgindade celestial em que Deus nos reengendrou de Cristo em virgens. Não segundo a vida terrestre, na qual não há nem castidade nem pureza, mas segundo a vida da virgem celestial em que Cristo se tornou homem, da qual Maria foi revestida pelo sombreamento do Espírito Santo; que é sem fundo, sem limite nem fim, que está em todos os lugares diante da divindade e é um espelho e semelhança da divindade. Nesta virgem, em que habita a Santíssima Trindade, em que antes dos tempos deste mundo fomos vistos pelo espírito de Deus e reconhecidos no nome de Jesus, devemos entrar por nosso espírito de vontade. Porque nossa verdadeira imagem, na qual somos a semelhança de Deus, eclipsou-se para nós em Adão e Eva e tornou-se terrestre, o que ocorreu pelo desejo ou imaginação: assim nos foi oculta a face clara de Deus, pois perdemos a castidade celestial. Mas já que, por graça e por amor a nós, Deus nos descobriu novamente na encarnação de Cristo sua face luminosa, trata-se apenas disto, a saber, que, assim como em Adão levamos nossa imaginação à paixão terrestre e nos tornamos terrestres, ponhamos agora de novo nossa vontade desejante na virgem celestial e ali coloquemos nosso amor; então nossa imagem sai da mulher terrestre e recebe a essência e a propriedade virginais, nas quais Deus habita e onde a imagem da alma pode novamente alcançar a face de Deus. A razão exterior diz: Como pode ser que sejamos reengendrados da virgem da qual Cristo nasceu? — Ela vê unicamente Maria. — Mas nós não entendemos Maria, que é uma virgem criatural, tal como nos tornamos no regime virginal imaterial. — Seremos reengendrados, se entrarmos na encarnação de Cristo, não segundo a vida exterior, nos quatro elementos, mas segundo a interior, no elemento único onde o fogo divino engole em si os quatro elementos; e se, em sua luz, a saber, no outro princípio, no qual o homem e a mulher exteriores devem, pela morte, entrar na ressurreição de Cristo, reverdecermos (renascermos), na verdadeira virginal sabedoria divina, uma virgem no elemento único, contendo os quatro. Precisamos morrer para o homem e para a mulher e crucificar o Adão corrompido: ele deve morrer com Cristo e ser lançado na ira do Pai, que engole o homem e a mulher terrestres e dá à alma, pela encarnação de Cristo, uma imagem virginal, onde o homem e a mulher são apenas uma imagem, com o amor de si mesmo. Agora o homem coloca seu amor na mulher e a mulher no homem; mas se os dois amores são convertidos em um só, não há mais, na imagem única, nenhum desejo para a mistura, a imagem ama a si mesma. No princípio, a imagem foi, portanto, criada na virginal sabedoria divina, ou da substancialidade divina, e como a substancialidade se tornou terrestre e caiu na morte, o Verbo que se tornou homem a despertou; então a fonte terrestre permanece para a morte na ira, e o que foi despertado permanece no Verbo da vida, no regime virginal. Assim somos nesta terra um homem duplo em uma pessoa; a saber, uma imagem virginal nascida da encarnação de Cristo e uma imagem terrestre, de homem ou de mulher, encerrada na morte e na ira de Deus. A terrestre deve levar a cruz, deixar-se atormentar, perseguir e desprezar na ira, finalmente morrer; então a ira a engole no fogo divino inqualificável (essencial); mas se o Verbo da vida, que em Maria se tornou homem, se encontra na imagem terrestre, Cristo, que trouxe de Deus a palavra da vida, ressuscita, e conduz a essência do fogo inqualificável, entenda a essência humana, para fora da morte, pois ele ressuscitou da morte e vive em Deus; sua vida se tornou nossa vida, sua morte nossa morte; estamos sepultados em sua morte; mas reverdecemos em sua ressurreição, em sua vitória, em sua vida. Mas entenda bem o sentido: Adão era a imagem virginal, ele tinha o próprio amor, pois o espírito de Deus lho havia soprado. O que mais, de fato, pode soprar de si o espírito de Deus senão o que ele mesmo é? Ele é bem tudo, mas não, todavia, de toda fonte, chamado Deus: em todas há apenas um único espírito que é Deus, segundo o outro princípio, na luz, e, no entanto, não há luz sem fogo. Mas no fogo ele não é o espírito de amor ou o Espírito Santo, mas sim a fúria da natureza e uma causa do Espírito Santo, uma ira e um fogo devorador; porque no fogo, o espírito da natureza se torna livre, e o fogo essencial, no entanto, também dá a natureza, e é ele mesmo a natureza. Entendemos, no entanto, apenas um único espírito santo na luz, e embora seja um todo, entendemos, no entanto, que a matéria gerada da doçura da luz é como impotente e sombria, atraindo a si e engolindo o fogo; mas dando da fonte material, do fogo, um espírito poderoso que ali é livre da matéria e também do fogo; embora o fogo o retenha, ele não atinge, no entanto, sua fonte; como vemos que a luz permanece no fogo e não tem, no entanto, a fonte do fogo, mas uma doce fonte de amor, o que não aconteceria também se a matéria não tivesse morrido no fogo e não tivesse sido devorada por ele. Consideramos o primeiro Adão da seguinte forma: Ele havia sido imaginado da essência e substancialidade da luz; mas porque devia se tornar uma criatura e ser uma semelhança perfeita de Deus, segundo todo o seu ser, segundo todos os três princípios, ele foi apreendido (reunido) pelo Verbo fiat em todo o ser dos três princípios e formado em criatura. Os três princípios estavam, na verdade, livres nele, repousando um no outro, cada um em sua ordem; era uma inteira, perfeita semelhança de Deus, segundo e do ser de todos os seres; mas devemos reconhecer que o terceiro princípio ou a fonte deste mundo havia se tornado, pelo incêndio de Lúcifer, completamente furioso, alterado (sede) e mau, e que essa fonte teve imediatamente sede em Adão do outro princípio ou da matéria celestial, de onde nasceu em Adão a paixão. Pois a fonte do puro amor, emanando do Espírito Santo, havia proibido isso; mas quando o amor entrou na fonte terrestre, para saciar a sede desta, o puro, imaterial amor recebeu a paixão desejosa, terrestre e corrompida. Aqui se extinguiu o outro princípio, não como uma morte, não que tenha se tornado um nada; mas foi apreendido pela furiosa sede, e como Deus é luz, a pura fonte de amor se encontrou encerrada na morte, fora da luz divina: aqui a imagem foi alterada e prisioneira da fúria de Deus, o próprio amor perdeu sua potência, pois foi encerrado na terrenalidade corrompida e a amou. Desta imagem, portanto, deveria ser feita uma mulher, e as duas tinturas, a saber, a essência de fogo e a essência aquosa da matriz, divididas em um homem e uma mulher, para que o amor pudesse, no entanto, mover-se assim em duas fontes diferentes, que uma tintura amasse e desejasse a outra, e que se misturassem, para a conservação e a multiplicação da espécie. Mas a raça humana, assim estabelecida na fonte terrestre, não podia nem conhecer nem ver a Deus, pois o puro amor sem mácula estava cativo da fonte terrestre alterada (sede) e se encontrava preso na sede da fúria da natureza eterna que Lúcifer havia acendido, tendo a fúria atraído a si o amor com a terrenalidade. Ora, neste amor cativo jazia a castidade virginal da sabedoria divina, que, com o outro princípio, com a substancialidade celestial, ou melhor, o espírito de sua doce substancialidade, havia sido incorporada a Adão pela insuflação do Espírito Santo. Agora, não havia mais nenhum remédio, senão que a divindade se movesse na virgem divina, segundo o outro princípio, na virgindade encerrada na morte, e que outra imagem saísse da primeira. É-nos conhecido e bastante compreensível que a primeira imagem devia ser entregue à fúria para apaziguar sua sede, e ser destruída no fogo essencial, embora a essência não passe nem morra, por qual razão Deus fixou um dia em que a essência do velho e primeiro Adão será por ele passada através do fogo, para que seja libertada da vaidade, assim como da paixão do diabo e da ira da eterna natureza. Compreendemos, além disso, como Deus nos trouxe de volta a vida de seu santo Ser, a saber, movendo-se de seu próprio coração ou palavra e poder da vida divina, na virgindade encerrada na morte, isto é, no verdadeiro puro amor; reacendendo esse amor e introduzindo sua substancialidade celestial, com a pura virgindade, na virgindade encerrada na morte: da virgindade celestial e daquela encerrada na morte e na ira, ele gerou uma nova imagem. Compreendemos, em terceiro lugar, que essa nova imagem teve, pela morte e pela fúria do fogo, que ser introduzida novamente na substancialidade celestial, divina, no Santo Ternário; pois a paixão terrestre que o diabo havia possuído, devia permanecer no fogo da ira e foi dada ao demônio para seu alimento; ele deve ser príncipe nisso, segundo a fonte da fúria da natureza eterna; pois Satanás é o alimento da fúria, e a fúria o de Satanás. Visto, portanto, que o Verbo da vida eterna se moveu novamente em nosso frio amor e em nossa virgindade encerrada na morte, e tomou para si nossa virgindade alterada, tornando-se um homem segundo o interior e o exterior, e que ele introduziu o centro ou nosso fogo da alma em seu amor, reconhecemos seu amor e sua virgindade introduzidos em nós como nossa própria virgindade; pois seu amor e sua virgindade se casaram e se deram ao nosso frio amor, à nossa virgindade, para que Deus e o homem formem eternamente uma só pessoa. A razão diz aqui: Isso se efetuou em Maria, ou seja, em uma única pessoa, mas eu, onde permaneço? Cristo não nasceu também em mim. Ai! aqui se revela nossa grande miséria e cegueira, nós não queremos compreender. Quão cegos a paixão material nos deixou e o demônio nos seduziu por e com o abominável anticristo na Babilônia, a ponto de não querermos fazer uso de nosso entendimento! Vê, no entanto, miserável e deplorável razão, o que tu és! Nada mais que uma prostituta diante de Deus. Como te chamarei de outra forma, já que, afinal, és violadora e perjura diante de Deus à pura virgindade? Não tens a carne, a alma e o espírito de Adão, não provens dele? Não és saída da água e do fogo de Adão? Tu és bem seu filho. Faz o que quiseres, é preciso que te cales; tu nadas no mistério de Adão, seja na vida, seja na morte. O Verbo divino (a virgindade encerrada em Adão na morte) bem se tornou homem: o coração de Deus se moveu na virgindade de Adão, e da morte, através do fogo divino, a introduziu na fonte divina; Cristo se tornou Adão; não o Adão dividido, mas o Adão virginal, tal como era antes, seu sono. Ele conduziu o Adão corrompido à morte, ao fogo divino, e retirou da morte o Adão puro, virginal, pelo fogo. Tu és seu filho, na medida em que não permaneces estendido na morte como um pau podre que não pode inqualificar, que no fogo não dá nenhuma essência, mas se reduz a cinza terrosa. A razão diz ainda: Como se faz, então, já que sou membro de Cristo e filho de Deus, que eu não o sinta nem o perceba? Resposta, sim, aqui está o nó, meu querido e pequeno tronco sujo, vasculha em teu seio, o que apeteces? a paixão do diabo, a saber: a volúpia temporal, a avareza, as honras e o poder. Escuta: este é o vestimenta do diabo; despe-o e joga-o; coloca teu desejo na vida de Cristo, em seu espírito, sua carne e seu sangue; leva tua imaginação para ali, como a levaste para a paixão terrestre; então te revestirás de Cristo em teu corpo, tua carne e teu sangue; te tornarás Cristo; sua encarnação se moverá imediatamente em ti, tu renascerás em Cristo. Pois a divindade ou o Verbo que se moveu em Maria e se tornou homem, o tornou ao mesmo tempo também em todos os homens mortos desde Adão que haviam entregado e abandonado seu espírito a Deus ou ao Messias prometido. Este Verbo repousou também sobre todos aqueles que ainda deveriam nascer do Adão corrompido e se deixariam apenas despertar por ele; pois o primeiro homem compreende também o último. Adão é o tronco, todos nós somos seus ramos: Cristo se tornou nossa seiva, nossa força, nossa vida. Se, agora, um ramo seca na árvore, o que pode a seiva e a força da árvore? A força se distribuindo a todos os ramos, por que o ramo não atrai a si a seiva e a força? É culpa do homem se ele atrai para si o poder e a essência diabólicos em vez da essência divina, e se deixa levar pelo demônio ao desejo e à paixão terrestres. Pois Satanás conhece o ramo que lhe cresceu e ainda cresce em seu antigo reino. Depois, como tem sido um mentiroso e um assassino desde o princípio, ele ainda o é, e infecta os homens, porque sabe que, pelo regime exterior dos astros, eles caíram em sua atração mágica. Ele é, portanto, um envenenador constante da compleição e onde ele fareja uma faísca que lhe serve, ele a apresenta incessantemente ao homem; se este leva sua imaginação para ali, ele a infecta imediatamente. Por isso é dito: Vigiai, orai, sede sóbrios, levai uma vida temperante; porque Satanás, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar (I Pedro V: 8). Não procureis, pois, a avareza, o dinheiro, o bem, o poder e as honras, pois em Cristo não somos deste mundo. Cristo foi ao Pai, ou seja, ao Ser divino, para que, de nossos corações, de nossos sentidos e de nossa vontade, o seguíssemos; então ele estará conosco todos os dias, até o fim do mundo (Mateus XXVIII: 20); mas não na fonte deste mundo. Devemos sair da fonte deste mundo, do homem terrestre, e abandonar nossa vontade à vontade de Cristo, introduzir nossa imaginação e nosso desejo nele; então ficaremos grávidos em sua virgindade que ele animou novamente em nós e recebemos a palavra que se moveu nele, em nossa virgindade encerrada na morte: nascemos de novo em Cristo em nós mesmos. Pois, assim como a morte penetrou em todos nós por Adão, da mesma forma penetrou em todos nós, por Cristo, o Verbo da vida: o movimento da divindade na encarnação de Cristo ainda subsiste e está aberto a todos os homens; falta apenas a vontade de entrar, o homem se deixa reter pelo demônio. Cristo não pode antes deixar seu assento e fazer sua entrada em nós, quando renascemos nele, pois o Ser divino, no qual ele nasceu, encerra em todo espaço e em todo lugar o outro princípio. Onde quer que se possa dizer que Deus está presente, pode-se dizer também que ali está presente a encarnação de Cristo; pois ela se manifestou em Maria e assim se inqualifica para trás dela até Adão, e para frente dela até o último homem. Agora, a razão diz: só a fé o alcança. Sim, certamente, na verdadeira fé começa a gravidez, pois a fé é espírito e deseja a substância, e a substância está sem isso em todos os homens; não falta outra coisa, senão que ela apreenda o espírito da fé; e se ele é apreendido, o belo lírio floresce e cresce; não apenas um espírito, mas também a imagem virginal passa da morte para a vida. A vara de Arão, que é seca, reverdece da árida morte e toma corpo desta morte: da virgindade meio-morta, a bela e nova vida virginal. A vara seca de Arão significava isso; o mesmo o velho Zacarias, Abraão e sua velha Sara; os quais, segundo o mundo exterior, eram todos como meio-mortos e estéreis. Mas a promessa, na nova nascimento, devia fazê-lo, a vida devia reverdecer da morte. Não o velho Adão que era terrestre, deve ser senhor; nem Esaú, o primogênito, a quem, no entanto, a herança pertenceria se Adão tivesse subsistido; mas o outro Adão, Cristo, que reverdece do primeiro pela morte, deve permanecer Senhor. Não o homem ou a mulher deve possuir o reino de Deus, mas a virgem que é engendrada da morte do homem e da mulher, deve ser rainha dos céus. Um sexo, não dois, uma árvore, não várias. Cristo foi o tronco, porque foi a raiz do novo corpo que reverdeceu da morte; que ele tirou da morte, como um belo ramo, a virgem meio-morta. Todos nós somos os ramos e todos repousamos em um tronco que é Cristo. Assim, somos os ramos de Cristo, seus rebentos, seus filhos, e Deus é para todos nós e também o Pai de Cristo; vivemos, nos movemos e repousamos nele; mas na medida em que nascemos de novo; pois é no espírito de Cristo que renascemos. O qual, em Maria, na humanidade morta, se tornou um homem vivo, sem o toque de um homem. É ele também que, em nós mesmos, em nossa virgindade morta, se tornou um novo homem. Falta apenas uma coisa, é que joguemos o velho Adão ou a envoltura na morte, que a fonte da vida terrestre se vá de nós e que assim saiamos do domínio do diabo. E nem mesmo isso, pois o velho Adão não deve ser assim totalmente rejeitado, mas apenas a envoltura, a cobertura na qual a semente está escondida; o homem novo deve, da velha essência, reverdecer na moção divina, como um caule fora do grão, assim como Cristo nos ensina. Por isso a essência deve ser lançada na ira divina, ser perseguida, atormentada, desprezada e sucumbir sob a cruz; pois é do fogo da ira divina que o novo homem deve reverdecer; ele deve ser provado pelo fogo; havíamos caído na essência da ira, mas o amor de Deus se colocou na ira e a extinguiu no sangue da substancialidade celestial na morte de Cristo; assim a ira reteve a envoltura ou o homem corrompido, entenda a fonte terrestre, e o amor reteve o homem novo; por isso nenhum homem deve mais derramar sangue celestial, mas o terrestre, somente mortal. Cristo unicamente, concebido sem homem e mulher, podia fazê-lo; pois em sua substancialidade celestial não se encontrava sangue terrestre; ele derramou seu sangue celestial entre o terrestre, a fim de nos libertar, a nós outros pobres homens terrestres, da fúria; seu sangue celestial teve, em sua crucificação, que se misturar com o terrestre para que a turba, na terrenalidade em nós, que nos mantinha cativos, fosse afogada e a ira extinta pelo amor do sangue celestial. Ele abandonou, por nós, sua vida à morte, foi por nós ao inferno, na fonte de fogo do Pai, e do inferno, novamente em Deus, para quebrar a morte, afogar a ira e nos abrir o caminho. Quando Cristo foi pendurado na cruz e ali morreu, nós fomos pendurados com ele e nele, e morremos nele; ressuscitamos também com ele e vivemos eternamente nele, como um membro no corpo. É assim que a semente da mulher esmagou a cabeça da serpente: Cristo o fez em nós e nós nele: a essência divina e a essência humana o fizeram. Agora, resta-nos apenas segui-lo: Cristo de fato quebrou a morte e extinguiu a ira; mas se queremos nos tornar semelhantes à sua imagem, devemos segui-lo também em sua morte, carregar sua cruz sobre nós, deixar-nos perseguir, desprezar, zombar e matar. Pois a velha envoltura pertence à ira de Deus; ela deve ser varrida, porque não o velho homem, mas o novo deve viver em nós; o antigo é abandonado à ira; pois da ira floresce o novo, como a luz brilha do fogo. O velho Adão deve, assim, servir de lenha para o fogo, para que o novo reverdeça na luz do fogo, pois é preciso que ele subsista no fogo. Nada do que não pode resistir ao fogo e que não dele tira sua origem é eterno. Nossa alma nasceu do fogo divino e o corpo do fogo da luz; entenda, no entanto, sempre, quanto ao corpo, uma substancialidade passiva, que não é espírito, mas um fogo essencial; o espírito é muito mais elevado, pois sua origem é o fogo da fúria, da fonte da fúria, e sua verdadeira vida ou corpo, que ele tem em si, é a luz da doçura; isso permanece no fogo e dá ao fogo sua doce nutrição ou amor; sem o que, o fogo não subsistiria, ele quer ter que devorar. Pois Deus Pai diz: sou um Deus colérico, ciumento, furioso, um fogo devorador (Deuteronômio IV: 24); e, no entanto, também se chama um Deus misericordioso, amoroso (I João IV: 8), segundo sua luz, segundo seu coração. Por isso ele diz: sou misericordioso, porque na luz nasce a água da vida eterna que apaga o fogo e a fúria do Pai.

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