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Henri le Saux – Cristo

Saux1991

Cristo em sua Ressurreição libertou-se de todo signo determinado; é através de qualquer aparência que desde então manifestou sua presença aos discípulos. A tradição hindu sustenta que o Guru só é verdadeira e realmente reconhecido como Guru quando o discípulo não mais o distingue de seu próprio mistério interior: “nem Guru nem discípulo”. Da mesma forma, Jesus o Sadguru — o Verdadeiro Guru — só é reconhecido pelo que realmente é quando a forma que assumia desapareceu. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 201-202.)

Cristo é a Palavra de Deus, o dabar Yahweh do Antigo Testamento. Ele não é Palavra de Deus de modo abstrato, mas sim a Palavra de Deus pronunciada no coração do homem, aquela que divide interiormente a alma do espírito e exteriormente separa o homem de seus próximos; a Palavra que transmite o chamado de Deus ao homem e o confronta com a inevitável escolha por ou contra Deus. (Interioridade e Revelação, p. 270-271.)

Jesus trouxe a salvação ao mundo, esta é a mensagem central do Evangelho e de todo o Novo Testamento. Isto foi infelizmente muitas vezes entendido a partir de uma filosofia e teologia dualista e expresso em termos míticos e principalmente em conceitos — ainda mais perigosos porque pretendem definir o que o mito se contenta em insinuar. (Interioridade e Revelação, p. 275.)

Mas é importante nunca esquecer que o objetivo do encontro com Jesus não é seu corpo mortal — “é bom para vocês que eu vá” (Jo 16,7), noli me tangere: “não me toques”, disse Jesus a Maria Madalena — mas o renascimento no Espírito além de todo loka, toda direção, todo lugar mesmo psicológico: “Vocês não sabem de onde vem nem para onde vai” (Jo 3,8). (Interioridade e Revelação, p. 287.)

Partir da grande questão colocada desde a Epístola a Diogneto: Por que o Verbo se encarnou tão tarde? Era necessário que a humanidade estivesse apta a receber o Verbo. Quando preparações desde o antropoide até Neanderthal , o homo sapiens época civilizada que não remonta a mais de seis milênios, a época do pensamento, que só floresce no milênio que precedeu a Encarnação. (31.3.52; A Subida ao Fundo do Coração, p. 45.)

O ponto crucial naturalmente é a entrada de Cristo no hinduísmo, a passagem de uma religião cósmica para uma religião histórica, Cristo, o único avatara, e ao mesmo tempo o verdadeiro Filho de Deus, Salvador dos homens. (31.3.52; A Subida ao Fundo do Coração, p. 47-48.)

Meu sadguru é Cristo Abhishikesvara. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é a porta das ovelhas. Ninguém viu o Pai, senão aquele que desceu do Seio do Pai. Ninguém “realizou” Deus como ele. Ninguém jamais pôde ter como ele o sentido da Consciência divina. Ego et Pater unum sumus . Considerados ao mesmo tempo em dvaita e advaita. Cristo é o Mestre Guru. (3.4.52; A Subida ao Fundo do Coração, p. 51.)

Cristo, meu sadguru, sentiu-se e sente em sua alma de homem misteriosamente vivente em cada uma de suas criaturas. Na consciência universal de meu sadguru perder-me a mim mesmo e sentir-me em Tudo. Ut omnes unum sint… . Deus não pode sentir as criaturas como “outras” que ele mesmo, pois ekam eva advitiyam . Deus tem consciência das criaturas em Si. Ele é verdadeiramente o Si de cada criatura e de todas. (5.4.52; A Subida ao Fundo do Coração, p. 55.)

Não são instituições monásticas mais ou menos perfeitas cristã e indianamente ao mesmo tempo que revelarão Cristo à Índia. Serão unicamente Ramana cristãos. Tudo o que os monges podem fazer é preparar esses Ramana… (13.3.58; A Subida ao Fundo do Coração, p. 88-89.)

Jesus não está para ser buscado em Belém, nem em Nazaré, nem em Cafarnaum, nem no Calvário, nem mesmo na saída do túmulo na manhã da Páscoa. Buscá-lo onde ele está realmente, Deus vivo, absconditus in sinu Patris . (6.5.54; A Subida ao Fundo do Coração, p. 122.)

A divindade de Jesus não está separada da “divindade” de cada ser da criação. Ela está no ápice, é seu cumprimento total. Só em Jesus a criação, e com ela cada um de seus elementos e eventos, atinge sua realidade divina, atinge o ser, realiza a totalidade de seu poder de significação, de manifestação, vyakti. (2.7.54; A Subida ao Fundo do Coração, p. 125.)

Cristo é essencialmente o despertar do homem para sua origem no Pai, a entrada do homem no mais profundo de si além de seu próprio fundo, de seu próprio si. (27.12.54; A Subida ao Fundo do Coração, p. 127.)

Cristo, Deus vivo não é para mim novamente Jesus de Nazaré. Cristo é o mistério de minha origem em Deus. (14.8.55; A Subida ao Fundo do Coração, p. 149.)

Jesus foi condenado pelos sacerdotes de sua religião por ter proclamado o mistério interior libertador.

O mártir mais autêntico não é aquele que, como, com e em Jesus, sofre perseguição pela justiça, pela proclamação do mistério interior superior ao conformismo legal? (12.1.56; A Subida ao Fundo do Coração, p. 177.)

Ao revelar o segredo de seu ser, Jesus revelou o segredo de cada ser. Cada um é pesado dentro de um segredo essencial, do mistério do ser. (8.11.56; A Subida ao Fundo do Coração, p. 196.)

O Espírito além da Igreja, o Pai além do Filho. Cristo além da Igreja e do Cristo histórico, é ainda mais realmente Cristo, o Deus vivo!

Além de Cristo está sempre Cristo. Desde o homem nascido de Maria. Cristo ao mistério do sat. (1.4.57; A Subida ao Fundo do Coração, p. 246.)

Cristo ressuscitado ab origine mundi . Tudo tem o ser nele. Reconhecer meu ser de ressuscitado. Mas há uma passagem a cumprir, uma Páscoa? O mistério da colaboração do homem, do ser ao ato redentor, aceitação por fé e amor. O ato daquele que se ultrapassa para atingir o que realmente é…

Reconhece-te como ressuscitado. Agnosce e aceita, ó cristão, tua dignidade. Esta aceitação é a própria Páscoa, tua Páscoa, pois comporta a renúncia absoluta a todo teu homem velho, vetus homo. (19.8.59; A Subida ao Fundo do Coração, p. 269-270.)

Jesus é o tipo por excelência dessa passagem ao Outro. Seja o Outro-Pai, seja o Outro-irmão, indissociáveis (pois é sempre sob o signo do irmão que vejo, que digo Tu ao Pai que não vejo). (19.1.64; A Subida ao Fundo do Coração, p. 323.)

A pesada pedra de meus sentidos, de meu conceito, foi removida — removida do alto, pelo Anjo! surrexit non est hic alleluia quid quaeris mulier? Viventis cum mortuis? (5.4.64; A Subida ao Fundo do Coração, p. 328.)

Cristo é muito menos real em sua história temporal do que no mistério essencial de meu ser. O que importa para minha salvação, moksha, é realizar o que sou.

Ao fixar meus olhos em Cristo, me realizo. Mas nunca esquecer que este Cristo do Tempo conduz ao Cristo do Ser. (26.10.66; A Subida ao Fundo do Coração, p. 347.)

(Quinta-feira Santa.) Cristo, o espelho no qual me descubro além de minha personalidade humana, minha origem em Deus, além de toda origem, de todo final, o fato que ego eimi , a experiência de ser em sua pureza total.

A maneira como Jesus aparecia através de homens e eventos, akhanda, asparsa, totalmente dado, totalmente livre — “emergindo”, atravessando tudo, a cabeça sempre emergindo.

Ver tudo — como Jesus — à luz da eternidade, não estes mythoi dvandvicos, svarga-patala (céu-inferno), mas do Ser, que em sua plenitude, seu purnam, irradia através de tudo. (26.3.70; A Subida ao Fundo do Coração, p. 381.)

Cristo não é aquele que não posso mais ver — pois então Cristo seria um objeto, o objeto de minha visão: e Deus, nem em seu mistério, nem em sua manifestação única, pode ser objeto de meu olhar. Deus é Aquele que — o sujeito eka-eva-advitiya. E Cristo é Deus que se olha, no mistério de sua manifestação. E eu sou este Que Olha, eka, advaita, que não vê senão a Si. (13.6.71; A Subida ao Fundo do Coração, p. 401.)

Queira ou não, estou profundamente ligado a Cristo Jesus e portanto à koinonia eclesial. É nele que o “mistério” se revelou a mim desde meu despertar para mim e para o mundo. É sob sua imagem, seu símbolo, que conheço Deus, e que conheço a mim e ao mundo dos homens. Quando de meu despertar para novas profundezas em mim (de self, de atman) aqui, este símbolo se encontrou maravilhosamente ampliado. (24.7.71; A Subida ao Fundo do Coração, p. 406.)

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