Morte espiritual (BOEF)
Balthasar — ORÍGENES — ESPÍRITO E FOGO – A queda e o retorno
O pecado é um desvio desta fonte de luz, vida e santidade, uma queda no não-ser essencial e assim, por assim dizer, fora do conhecimento de Deus. O pecado é a verdadeira morte, da qual a morte corporal é apenas uma imagem (85-90). 85 Uma pessoa justa conta tanto quanto o mundo inteiro; mas os injustos, mesmo que sejam muitos, são considerados sem valor e como se não contassem para nada diante de Deus.
86 O Apóstolo parece não contar as coisas que “não são” entre aquelas coisas que não têm existência alguma, mas sim entre as coisas que são más, considerando o não-ser como o mal. Pois está escrito: “Deus chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4:17). . . . Portanto, o bem é o mesmo que aquele que “é” (cf. Êx 3:14).
87 “Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (Sl 1:6). Nada de mal é reconhecido por Deus, mas apenas o caminho dos justos. Pois “o Senhor conhece aqueles que são seus” (2 Tm 2:20). O “caminho dos justos” é aquele que disse “Eu sou o caminho” (Jo 14:6). . . . Ele não tem conhecimento ou cognição do mal, não que haja algo que ele não possa compreender ou entender (pois é blasfemo pensar isso de Deus), mas que é indigno de seu conhecimento.
88 Dizemos, portanto, com confiança que, de acordo com a escritura, Deus não conhece todas as coisas. Deus não conhece o pecado e Deus não conhece os pecadores; ele não conhece aqueles que lhe são estranhos. . . . Ouça o Salvador enquanto ele diz: “Apartem-se de mim, todos vocês que praticam o mal; eu nunca os conheci” (Mt 7:23). E Paulo também, que diz: “Se alguém pensa que é um profeta, ou espiritual, deve reconhecer que o que eu lhes estou escrevendo é um mandamento do Senhor. Se alguém não reconhece isso, ele não é reconhecido” (1 Cor 14:37-38).
89 Morta é a alma que pecou; e a serpente é provada ter mentido ao dizer “Vocês não morrerão a morte” (Gn 3:4).
90 “O poder da morte” que se entende que o diabo tem (Hb 2:14) não se refere àquela morte intermediária ou indiferente pela qual morrem aqueles compostos de corpo e alma, quando a alma deixa o corpo, mas àquela morte que é oposta e inimiga daquele que diz: “Eu sou a vida” (Jo 11:25; 14:6).
