Table of Contents
Evangelho de Tomé - Logion 97
Pla
Jesus disse: O reino do Pai é semelhante a uma mulher que leva uma jarra cheia de farinha. Enquanto anda por um caminho distante, a asa da jarra quebra e a farinha se derrama atrás dela sobre o caminho. Não se dá conta e não descobre a desgraça. Quando chega a sua casa põe a jarra no solo e a encontra vazia.
Puech
97. Jésus a dit : Le Royaume du est semblable à une femme portant un vase plein de farire. Tandis qu’elle marchait chemin éloigné, l’anse du vase se brisa, la farine se répandit derrière elle sur le chemin. Elle ne s’(en) aperçut pas, ne sut pas le malheur. Quand elle arriva dans sa maison, elle posa le vase à terre : elle le trouva vide.
Suarez
I Jésus a dit : 2 le royaume du Père est semblable à une femme 3 portant une cruche pleine de farine. 4 Tandis qu’elle marchait sur un long chemin, 5 l’anse de la cruche se brisa, 6 la farine se déversa derrière elle sur le chemin. 7 Comme elle n’en sut rien, 8 elle ne put s’en affliger. 9 Rentrée dans sa maison, 10 elle posa la cruche à terre et elle la trouva vide.
Meyer
97 (1) Jesus said, “The kingdom is like a woman who was carrying a full of meal. (2) While she was walking along a distant road, the handle of the jar broke and the meal spilled behind her the road. (3) She did not know it; she had not noticed a problem. hise).] (4) When she reached her house, she put the jar down and discovered that it was empty.”
Roberto Pla
A parábola ilustra o mistério do pão da vida, o alimento que permanece para a vida eterna e que só vem do Filho do homem. A mulher, a alma, leva consigo quando vem ao mundo, uma jarra cheia de farinha, o que deve entender-se como a matéria prima, indispensável, para que toda alma que creia no Filho — o qual é sua essência, o Eu de seu eu — e vá a ele, tenha o pão que necessita para acalmar sua fome e sua sede de vida.
- Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo. (Jo 6,26-27)
Mas a alma da parábola anda “por um caminho longe”. Não se diz de onde é longe este caminho, mas não é difícil supor que está longe do Reino do Pai e nenhum caminho nessa direção é adequado para ir ao Filho e receber dele o alimento que ele dá.
A ruptura da asa da jarra, talvez seja “figura” da perda da faculdade de fazer uso da farinha, a “carne”, em parábola, do Filho. A partir de então o caminho pelo qual transita “esta mulher”, se distingue, como tantos outros caminhos humanos, pela dissipação cotidiana do tesouro de Vida depositado em cada alma ao nascer.
A desgraça que supõe o manter esta atitude inconsciente “natural”, este “não dar-se conta”, ao tempo de dar cada passo, do desperdício do caudal próprio, é o que costumam descobrir poucas almas.
Só quando se chega ao final do caminho, quando a jarra já está na mão, senão no solo, é seguro que todas as almas “consintam” em olhar a jarra. Mas então a jarra está vazia.
A parábola descreve um acontecimento habitual, conhecido, mas não menos certo e penoso por isto. No entanto, no evangelho de João se diz: Esta é a vontade de meu Pai: que todo o que veja ao Filho e creia nele, tenha vida eterna, e que eu o ressuscite no último dia.
”Ver” ao Filho é discernir o Ser interior e reconhecer que realmente é o “Filho” enviado ao homem pelo Pai, com sua Glória e poder.
Leloup
- EVANGELHO DE JESUS:
Porque meu marido não está em casa; foi fazer uma jornada ao longe; (Prov 7,19)
- aproximou-se dele uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo precioso, e lho derramou sobre a cabeça, estando ele reclinado à mesa. (Mt 26,7)
- Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte. (2Cor 4,7)
- E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; (Rom 9,22)
- O melhor paralelo deste logion se encontra no Evangelho da Verdade:
“Aqueles que Ele (o Pai) ungiu são os gnósticos, pois estes são os vasos cheios que se cuida geralmente de selar. Mas quando a ação de um se difunde, ele se esvazia, e onde ele é deficiente é o lugar por onde sua unção se escorre, se perde. Mas aquele que é sem deficiência, nenhuma selo não lhe é subtraído, nem nada é esvaziado.”
- Somos esta mulher ou este vaso cheio de farinha que pode se tornar um bom pão. Somos esta humanidade chamada à Transfiguração.
- Mas o caminho é longo. A orelha do vaso pode se quebrar… A orelha, é aquilo pelo qual entendemos a palavra. Se ela se quebra, se cessa nossa atenção, pode-se perder a farinha. Perdemos nosso tempo, nossa humanidade. Não guardamos mais em nós a palavra, a informação criadora. “Isso entra por uma orelha e sai pela outra”.
- No momento do retorno, descobrimos que perdemos nosso tempo, nossa vida, muito tarde — o vaso está vazio.
- Lembra pela referência à falta de atenção, a parábola das virgens sábias e das virgens tolas, onde se recomenda vigilância
- A gnose valentiniana, a Sophia — a Sabedoria — pode se perder no distanciamento, no “esquecimento do Ser” ou na inconsciência.
- A gnose não é um saber sobreposto, mas uma consciência mais e mais viva a cada passo do caminho, uma orelha e um corpo atentos à proximidade do Ser.
Gillabert
- Sua versão da parábola é a mesma de Roberto Pla, diferindo apenas ao dizer sobre a mulher: “Como ela não sabia (que a farinha se perdia pelo caminho), ela não pode disto se afligir.
- Como no logion anterior o reino é comparado a uma mulher. Neste a farinha se perde pelo caminho sem que a mulher se interesse, enquanto no outro o fermento age porque a mulher o trabalhou com a massa.
No caso do despojamento (da farinha), este se dá após uma longa caminhada que pode simbolizar o caminho da liberação.
- No caso do fermento este caminho se faz após um penoso trabalho antecedente (preparando a massa).
- Lembrar do Logion 8, onde o pescador avisado rejeitou todos os peixes pequenos ao fundo do mar e escolheu o grande peixe”: uma evidência como a da mulher da farinha.
- Lembrar do breve6748, onde o pastor pena em busca da ovelha única, como a mulher que prepara a massa.
- Estas diferentes parábolas mostram a diversidade dos caminhos. Se o objetivo é o mesmo, fazer dois Um, há em revanche tantas abordagens quanto buscadores.
Puech
- Oposição entre “cheio” (meh) e “vazio” (soueit), de acordo com o vocabulário de Valentim.
Uso de “cheio” no Logion 61 não é significativo
- Uso de “vazio” no Logion 28 de modo exemplar e decisivo
- Nesta parábola do Logion 97, que se pode encontrar paralelos nos fragmentos de Heracleon e no “Evangelho da Verdade”, ilustra-se a oposição entre o “cheio” e o “vazio”.
Da mulher que anda “em um caminho distante”, portadora de um “vaso cheio de farinha” cuja alça se quebrou e que ao chegar ao final de sua caminhada, ela encontrará “vazio”; é dito expressamente que ela “não se apercebeu” do que lhe acontecia, que ela “não soube, não conheceu o infortúnio”.
- Esta aventura assim descrita parece simbolizar o drama da existência humana inteiramente passada na inconsciência e se afundando mais e mais na ignorância.
- Quem vem ao mundo, está afastado do “reino”, o lugar original de seu ser, e se ao longo do caminho não é advertido e instruído pela gnosis, se afasta mais e mais.
- Ignora que no início, devido a seu nascimento carnal, uma ruptura se produziu, que ameaça a integridade daquilo que era e possuía na origem em perfeição, em plenitude; não sente, nem se sabe já lesado e diminuído, nem mesmo em seguida, quando continuamente privado e despossuído de si mesmo; escapa a ele que escapa dele mesmo e espalha-se pelo caminho o conteúdo do vaso quebrado. À maneira da despreocupada mulher da parábola, não se dá conta nem do que perdeu nem da perda que sofreu e sofre; perde a sua revelia, não se apercebe que se perde e assim vai em sua perda.
- Saberá mais tarde quando chegado ao termo de sua caminhada, de sua vida e uma vez o vaso deposto; aí então só poderá constatar sua ruína e seu “vazio”.
