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Evangelho de Tomé - Logion 51
Pla
Jesus disse: Seus discípulos o disseram: Em que dia o repouso dos que estão mortos se produzirá, e em que dia o mundo novo virá? Ele lhes disse: O que esperais já veio, mas não o conheceis.
Puech
51. Ses disciples lui dirent : En quel jour le repos de ceux qui sont morts se produira-t-il, et en quel jour le monde nouveau viendra-t-il ? Il leur dit : Celui que vous attendez est venu, mais vous ne le connaissez pas.
Suarez
1 Ses disciples lui dirent : 2 quel jour 3 le repos de ceux qui sont morts arrivera-t-il ? 4 et quel jour 5 le monde nouveau viendra-t-il ? 6 Il leur dit : 7 ce que vous attendez est venu, 8 mais vous, vous ne le connaissez pas.
Meyer
51 (1) His disciples said to him, “When will the rest for the dead take place, and when will the new world come?” (2) He said to them, “What you look for has come, but you do not know it.”
Canônicos
Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. (Jo 5:28-29)
Comentários
Roberto Pla
Os que “estão mortos” são, segundo a linguagem evangélica, os filhos da luz que, embora imortais, ainda não alcançaram esse grau perfeito que pede o evangelho e que consiste em ser uno, fazer-se uno com os conteúdos psíquicos do outro morador da mesma casa, a alma. Àqueles que vivem no estado de não unificados, e isto ocorre à quase totalidade da geração humana, os descreve Jesus como semelhantes a “sepulcros caiados”, isto é, parecem vivos se ao olhá-los por fora, mas por dentro estão mortos (vide Fariseus). Pensa Jesus ao dizer isto, no Filho do homem, o morador do alto, o qual é o único que tem vida própria, mas que permanece cativo, privado de qualquer expressão que não seja a de vivificar em segredo e humildade a seu “coinquilino” mortal.
Os filhos da luz são os justos, as ovelhas perdidas, e a vontade do Pai, expressa ao Filho quando o enviou é, nas palavras de Jesus: E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. (Jo 6:39) O “repouso dos que estão mortos”, dos filhos da luz, designa o período aberto e indeterminado que nasce com o primeiro sinal ou intuição da alma de que há um filho de luz que habita — morto, ignorado, desconhecido — no piso mais elevado e nada transitado da casa. Este é o princípio da presença, ou parousia do filho da luz na consciência e o anúncio de que será possível a sua vinda ou irrupção plena no último dia deste grande processo religioso, denominado no evangelho: a ressurreição dos mortos.
Há que estar muito atentos com as denominações no NT, pois a morte e a ressurreição se nomeiam em duplo sentido que nem sempre se determina de maneira incontestável (vide nekros e anastasis).
Roberto Pla avança sobre a questão do Filho do homem em sua capacidade de julgar e garantir a purificação (vide krino).
Com efeito, para os que durante sua vida não chegaram a entrar “em si mesmos” (vide filho pródigo), diz Jesus em um breve e compendiado corpo de doutrina que foi muito pouco entendido pela exegese manifesta, que no dia de uma morte o Filho do homem se manifestará em sua consciência. O que haverá de ocorrer a cada um em tal ocasião solene o contam os evangelistas com um relato que despojado de sua elevada linguagem alegórica se descobre como um juízo de ressurreição.
Segundo o explica Lucas em um claro resumo (Lc 17, 31-37), “quem estiver sobre o telhado” — no alto de si mesmo, feito uno com o morador de acima — “que não desça a recolher seus haveres da casa” — que abandone seu apego pelos conteúdos adventícios de sua alma.
“O que está no campo” — fora das limitações de sua alma, a qual considera erroneamente, o si mesmo — “que não se volte para trás — que não vá sobre seus condicionamentos e recordações de filho do mundo.
Não há que se aferrar à vida diminuta que é a vida do mundo, porque nele reside sempre uma dor de morte, senão melhor, soltar a presa, deixar-se morrer em paz e confiança, porque a vida é uma e sempre a mesma, e viver e morrer são duas formas de vida. Por isso se diz: “Quem tentar guardar a vida a perderá e quem a perder a conservará”.
O que há de ocorrer então, no juízo de ressurreição que foi confiado pelo Pai ao Filho e deste ao Filho do homem — a seu espírito, que em nós está — Jesus o explica: “Eu os digo — diz - os dois no mesmo leito”, são os dois moradores da mesma casa, o filho da luz e o filho do mundo. “Um será levado (ao Reino) e o outro será deixado”. “As duas mulheres moendo juntas”, são os conteúdos psíquicos purificados e os conteúdos impuros que convivem juntos na alma. O pilão discriminará sobre elas nesta hora. “Uma será levada e outra deixada”.
Muitos perguntam: “Onde, Senhor?” Onde será deixada? Onde serão deixados os conteúdos impuros com os que o Ser real, o filho da luz convivia, quando este já não aloja-se ali? A resposta, decidia, sucinta, tem ressonâncias de velho refrão de ascendência persa: “Onde está o corpo — junto com o corpo — ali se congregam os abutres”. Posto que o corpo e os conteúdos psicossomáticos a ele apegados são pasto corruptível para a consumação, serão cadáver para os abutres (v. Cadáver e Águias).
