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Evangelho de Tomé - Logion 101

Pla

Jesus disse: O que não odeie a seu pai e a sua mãe como eu, não poderá ser meu discípulo; e o que não ame a seu pai e a sua mãe como eu, não poderá ser meu discípulo. Pois minha mãe me engendrou, mas minha mãe verdadeira me deu a vida.

Puech

101. : Celui qui ne haïra pas son et sa mère comme moi ne pourra pas devenir mon disciple. Et celui qui n’aimera sa mère comme moi ne pourra pas devenir . Car ma mère mais, véritable, elle m’a donné la Vie.

Suarez

1 Celui qui ne récuse son père et sa mère 2 comme moi 3 ne pourra devenir mon disciple, 4 et celui qui n’aime son Père et sa Mère 5 comme moi 6 ne pourra devenir mon disciple. 7 Car ma mère m’a engendré, 8 mais ma véritable Mère m’a donné la vie.

Meyer

101 (1) “Whoever does not hate and mother as I do cannot be a of me, (2) and whoever does love mother as I do cannot be a me. (3) For my mother ,1) but my true 2) gave me life.”

Roberto Pla

O pai e a mãe a odiar segundo Jesus são membros, os dois, da família antropológica quinária que em distintos lugares testamentários se mencionam (Logion 16). Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, eu vos digo, mas antes dissensão: pois daqui em diante estarão cinco pessoas numa casa divididas, três contra duas, e duas contra três; estarão divididos: pai contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra. (Lc 12,51-53; Discórdia) O chamado “pai” é tomado por pai sem sê-lo verdadeiramente, e faz as vezes em nossa consciência “natural”, pois aparece como o eu psicológico individual e separativo, quer dizer, como um deus criado e erigido por nossa ignorância, um deus falso que nos confina na insularidade e a que os homens adoram porque creem que é o si mesmo.

Dado que seu reino é o da mentira pois só por erro é concebida sua existência como real, Jesus o chama o “Adversário” de Deus, o Satã, e se o chama o Adversário é porque o eu psicológico se opõe e substitui em nossa mente ao Eu real e absoluto, idêntico ao ser e que Jesus tenta expressar quando diz Eu-Sou.

Quanto à “mãe” que há que odiar, é a natureza hílica, engendradora do corpo segundo a carne. Se diz que a identificação com os bens que esta “mãe” proporciona, e que não são tesouro verdadeiro que há que guardar, impede que a alma se purifique e com isso se fortaleça em seu desígnio de alcançar a justiça.

Todos esses são o motivo do ódio, quer dizer, da não identificação que Jesus predica.

A este “pai” que só existe como um fantasma criado pela imaginação, e a esta “mãe engendradora de natureza mortal e de sua quase invencível Corte do medo, se opõem, segundo se explica no logion, o Pai e a Mãe verdadeiros, os quais se não pertencem à família antropológica é porque são os progenitores do Homem, quer dizer, são o Ser e a Vida, cujos “revestimentos” são a Glória (Luz e sabedoria de Deus) e o poder (força, dynamis, Vida), que acompanham ao Filho do homem quando vem “entre nuvens” (vide Vinda).

Roberto Pla desenvolve então uma análise sobre a Unidade com o Pai mencionada por Jesus, na sua condição de Ungido, concluindo com um exame do simbolismo de certos elementos do Batismo de Jesus.

Leloup

  • Importante amar e odiar — “como Jesus” — seu pai e sua mãe, quer dizer amá-los por aquilo que são e não permanecer sob sua dependência, que nos faria esquecer nosso segundo nascimento e a mãe que nos engendrou, não para morrer, mas para conhecer a vida verdadeira.
  • Sophia — a Sabedoria ou Mãe Divina — tem seu lugar nos textos gnósticos.

Nos Atos de Tomé (C.27, C.50), o Espírito é invocado sob o nome de Mãe.

  • No maniqueísmo, ela é chamada muitas vezes a Mãe da Vida ou dos Vivos.
  • No Evangelho de Felipe é dito que Adão recebeu o sopro de sua mãe.

Gillabert

  • Variante: “Aquele que não recuse seu pai e sua mãe…”
  • Retomada do dito no Logion 55 e no Logion 99.
  • Passar de um parentesco carnal a um parentesco segundo o Espírito, e para isso transcender sua relação de dependência para com os pais.

Para me reconhecer tal qual sou em realidade, deve estar claro o mundo tal qual o psíquico o concebe.

  • O discípulo de Jesus, o verdadeiro, o escolhido: a sua escuta, aprendeu a ser seu só e único Mestre.

Seu Pai e sua Mãe lhe permitiram se descobrir tal qual é em verdade.

  • Sua Mãe verdadeira lhe deu a Vida, não para que permaneça em estado de dependência, mas para que, a seu exemplo, retorne ao Pai.

Puech

  • A tendência é particularmente clara a destacar a figura e a pessoa de Jesus de toda condição temporal ou sensível, de todo compromisso com o devir — um devir que é tanto “gênese” quanto “geração”, tanto genesis quanto gennesis.
  • O dito é inteiramente fundado sobre o contraste radical que, se confundindo com aquele da Vida e da Morte, opõe entre eles a paternidade divina, a origem celeste de Jesus e, por outro, lado, sua origem, sua paternidade humana e terrestre.

Esta última é renegada, pelo menos detestada e repudiada, posto que, conforme um lugar comum que resume um dos Extratos de Teodoto (80,1), “aquele que a mãe engendra é levado à morte e no mundo”; dito de outro modo, kosmos sendo sinônimo de thanatos como é de phthora: Quem é posto no mundo (“jogado” no mundo), “o filho da Mulher” ou “das mulheres”, é por isso mesmo prometido, necessariamente conduzido à morte, condenado a morrer.

  • A geração celeste ou espiritual é, ao contrário, vivificadora, procura a Vida, permite de aí aceder e de aí retornar, faz do Eleito aquele para quem ela é “regeneração”, anagennesis — um “Vivente”.
  • Nenhuma hesitação a respeito deste “Pai” e desta “Mãe” que Jesus tem, à exclusão de José e de Miriam - Maria, por seus pais “verdadeiros”, os únicos que são dignos de seu amor.

O Pai só pode ser Deus, o “Deus Vivo” do qual “Aquele que não foi parido da mulher” se proclama a princípio o Filho e que denomina “seu Pai”.

  • Quanto à Mãe, ela corresponde ao Espírito Santo, ao Espírito, ruah sendo feminino em semita e a assimilação frequente nos meios judaico-cristãos.

O Evangelho dos Hebreus, citado por Orígenes e por Jerônimo, onde Jesus precisa: “minha Mãe, o Espírito Santo”

  • Os pneumáticos - Espirituais (monachos), segundo Aphraates escreve: “O homem, enquanto não se casa, ama e honra Deus seu Pai e o Espírito Santo sua Mãe”.
  • No Evangelho de Felipe: a Verdade, a aletheia, assimilada à Mãe dos homens livres e impecáveis e o Conhecimento, a gnosis, a seu Pai.
  • Vide Logion 44; Logion 28
1)
This restoration is tentative. Another possibility: “For my mother, who has ” (see the note in Aland, ed., Synopsis Quattuor Evangeliorum, 543). It may even be possible, though more difficult, to restore to read saying 101:3 as follows: “For my mother , but my true gave life to me.”
2)
Perhaps the holy Spirit; cf. Gospel of the Hebrews 3; Secret Book of James 6; Gospel of Philip 55.
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