Faivre (FETC) – Eckartshausen, Deus é amor
ECKARTSHAUSEN E A TEOSOFIA CRISTÃ (FETC) — DEUS
Pois Deus é amor. Eckartshausen não cessa de repeti-lo em quase todos os seus escritos. Como epígrafe de um discurso proferido em 1793, cita uma frase de Saint-Martin extraída de O Homem de desejo (SMHD): “Pelo amor, Deus pintou em nós o Caráter de sua unidade que abraça e ama todos os seres; pois o verdadeiro amor de nós mesmos é o amor de todos — o amor de todos é um amor celeste”.
Este discurso tem por título: Da primeira lei do ser na criação. Esta grande lei é o amor no braseiro do qual a Divindade criou nossa alma, que é uma dessas inúmeras centelhas destinadas a se reunir para formar um único sol. É o amor que explica a grande lei da analogia, pois é ele que constitui a cadeia das coisas e dos seres. Por isso nada está isolado na natureza. Só o erro é capaz de nos separar do amor universal. O amor é o próprio nome de Deus:
Ich ruf’ zu dir — die Liebe ist dein Name.
Deus cria por amor; Ele é Urliebe, do qual o amor ao próximo é uma consequência, uma “nuance”. Por isso os espíritos são imortais; Deus os aspira em Si como nós inspiramos o ar. Ele os vivifica. Se Deus cuida tanto de uma flor, que bênçãos não derramará sobre aqueles que O amam!. Criou tudo, como uma unidade, fora de si mesmo, para depois poder reunir-se a essa unidade; o amor é portanto essencialmente criador.
Todos os números o atestam, pois são, até o infinito, os “vestígios” da unidade que os contém a todos, assim como todas as obras de Deus são os “vestígios” de Seu amor. O amor é portanto o primeiro número; ele gera a verdade; amor e verdade se expressam na Sabedoria, e os três se expressam pela bondade; a isso pode-se ainda acrescentar a justiça. É a partir dessas noções que os “sacerdotes do santuário” estabeleceram seus “conhecimentos sefiróticos”. A palavra “amor” permite assim compreender mais de um problema aritmosófico. O Pai dá o amor, que dá a Fé, que por sua vez guia a inteligência. O amor governa a vontade. Deus é amor infinito:
Er schöpfte aus Liebe, Erlöste aus Liebe Heiligte aus Liebe.
O amor é a vida da Fé, a Fé é a luz do amor. O objeto do amor é a pureza da vontade e da vida; é preciso colocar inteiramente nossa alma purificada nas mãos de Deus para tornar-se o órgão pelo qual Ele manifesta Seu amor. Mas é preciso manter-se alerta e não tomar por amor o que é apenas uma paixão fugaz. Aenhlichtverdung: eis a grande lei dos seres. Enganar-se-ia quem buscasse fora de Deus o verdadeiro amor, e buscasse Deus fora da religião. Uma inteligência aliada ao amor é angélica; sem amor, é satânica; vê-se assim o que é um anjo, e o que é Satanás; compreende-se o que é Cristo, espírito de amor, de verdade e de liberdade. Se Eckartshausen escreve “folhas de moral”, é, declara a seus leitores, unicamente para tocar o “coração”. Por isso compõe não apenas contos, mas também poemas tendo o amor como tema principal. Entre os pagãos, e até a vinda de Cristo, a bondade de Deus estava como que desfigurada. Devemos agir como Jesus, que não temia os elementos, pois sabia-se amado por seu Pai; todos os mandamentos que este Pai nos deu destinam-se a contribuir para nossa felicidade. Enfim, Eckartshausen repete frequentemente, em Deus é o amor mais puro, que é preciso antes de tudo considerar o Pai como o amor por definição; sabe-se o sucesso alcançado por este pequeno livro, e as inúmeras edições que conheceu.
