Jesus disse: Eu digo meus mistérios aos que são dignos de meus mistérios. O que tua direita fizer, que tua esquerda não saiba que o faz.

62. Jésus a dit : Je dis mes mystères à mystères. Ce que ta droite fera, que ta gauche ne sache pas ce qu’elle fait.

1 Jésus a dit : 2 je dis mes mystères 3 à ceux qui sont dignes de mes mystères. 4 Ce que ta main droite fera, 5 ta main gauche ne doit pas savoir 6 ce qu’elle fait.

62 (1) Jesus said, “I disclose my mysteries to those of mysteries. (2) Do not let your left hand know what your right hand is doing.”

Roberto Pla

A doutrina dos mistérios segundo o logion é a mesma que explicam os sinópticos, posto que Mateus diz: “A vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não” (Mt 13,11). Por sua parte menciona Marcos (4,11) “o Mistério do Reino de Deus”, um só e único mistério, síntese de todos os mistérios, que não se dá aos que estão fora, pois a estes tudo se apresenta como parábola.

Quem revela os mistérios do Reino é Jesus enquanto ele é o enviado de Deus, e assim o confirmou quando falava em parábolas a muitos, e no entanto, “em verdade” unicamente ao círculo restrito dos Doze por ele eleitos.

Quanto ao Cristo interno, e como tal oculto, constitui por si só o mistério dos mistérios, quer dizer, o Primeiro Mistério, de cujo esclarecimento todos os demais mistérios dependem. Este Mistério, ao qual dedicamos todas nossas “forças de debilidade”, é “Cristo em nós”, o Primeiro Mistério de Deus, no qual, segundo disse o apóstolo, “estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2,2), e que uma vez se tenha feito manifesto na consciência do homem, lhe dá a conhecer, por estar o homem então dentro e não fora do Mistério, toda a riqueza do Reino como esperança da glória (Col 2,2-3)

De tudo isso falou Paulo em muitas ocasiões pois teve, sem dúvida, a revelação do Mistério e por isto se declarou não somente servidor de Cristo, que isto o foram também outros, senão “administrador dos mistérios de Deus”.

Paulo queria anunciar o “Mistério de Cristo” (oculto), “para dá-lo a conhecer” e confessa que queria esclarecer “como se dispensa o Mistério” escondido desde o princípio dos séculos em Deus, coisa bastante difícil pois seu acesso vem da graça, aparte da sabedoria e lavado da alma.

O apóstolo explicou o Mistério como “uma sabedoria de Deus”, oculta, destinada por Deus, para glória dos homens, desde antes dos séculos, mas desconhecida pelos “príncipes deste mundo” e chegou a descrever a sentença do Gênesis de que o homem e a mulher “chegariam a ser uma só carne”, como prefiguração profética da união do Cristo e o pequeno rebanho de fiéis. A estes, aos que creem e se alimentam pela fá com a carne do Cordeiro de Deus para vida eterna, é os que diz Jesus: “a vosso Pai lhe pareceu bem dar a vós o Reino” (Lc 12,32).

O “pequeno rebanho” está formado, segundo a vertente oculta, pelas ovelhas que o Filho do homem coloca a sua direita, tal como se descreve na parábola da consumação. São estas aquelas almas que se fazem luz, posto que creem na luz da lâmpada que levam em si mesmas. Elas são a igreja psíquica “transfigurada” (v. allasso) em pneumática, o princípio feminino — denominado por Paulo, “príncipes do mundo” — que se converte em ser varão quando se juntam os dois amantes, fêmea e varão, em uma só carne.] Eles são então, ou bem descobrem que são, o Corpo de Cristo, nem fêmea nem varão, senão o Filho do homem, feito manifesto ao final depois de ter permanecido oculto desde o princípio em Deus.

Esta e não outra é a revelação do Primeiro Mistério, o Mistério de Cristo “em nós”, reservado por Deus, como o Corpo único e sagrado para os que se fazem dignos do Mistério mediante a fé e a sabedoria que da fé vem, assim é como fica “consumado o Mistério de Deus” (Ap 10,7).

Mas convém explicar também quanto a segunda proposição do logion, dependente da primeira, que os dignos de receber os mistérios são somente os da direita; os da esquerda não devem conhecê-los pois ainda não se revelou para eles o Primeiro Mistério (vide Direita Esquerda).