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Combate Espiritual – Do governo dos sentidos exteriores...

Lorenzo Scupoli — O Combate Espiritual

Versão para o inglês de Cutsinger, da versão russa desta obra feita por Teofano o Recluso

CAPÍTULO XXI — Do governo dos sentidos exteriores, e como passar deles à contemplação da Divindade

Grande vigilância e contínuo exercício são necessários para a devida ordenação e regulação dos sentidos exteriores; pois o apetite, que é, por assim dizer, o capitão de nossa natureza corrupta, nos inclina a uma busca imoderada de prazeres e deleites; e, sendo incapaz por si mesmo de alcançá-los, usa os sentidos como seus soldados e instrumentos naturais para se apoderar de objetos, cujas imagens recolhe e imprime na mente. Daí surge o prazer que, devido à relação existente entre ele e a carne, se difunde por todos os sentidos capazes de experimentá-lo, infectando tanto a alma quanto o corpo com uma contaminação comum, que corrompe o todo.

Vês o mal; agora observa o remédio.

Toma muito cuidado para não deixares que teus sentidos vagueiem livremente onde quiserem; nem os uses quando o prazer sozinho, e não a utilidade, a necessidade ou qualquer bom fim, for o motivo. E se, inadvertidamente, tiverem sido permitidos a vagar demasiado, recorda-os imediatamente; ou regula-os de tal modo que, em vez de permanecerem como antes em uma miserável escravidão a prazeres vãos, possam recolher um nobre fruto de cada objeto passageiro e trazê-lo à alma, para que, recolhida em si mesma, ela possa elevar-se com um voo mais firme em direção ao céu, à contemplação de Deus. O que pode ser feito da seguinte maneira:

Quando algum objeto se apresenta diante de um de teus sentidos exteriores, separa em tua mente da coisa material o princípio que está nela; e reflete que, por si mesma, ela não possui nada de tudo o que parece ter, mas que tudo é obra de Deus, que a enche invisivelmente com Seu Espírito, concedendo-lhe o ser, a beleza, a bondade ou qualquer virtude que lhe pertença. Então, alegra-te de que teu Senhor só é a Causa e o Princípio de tão grandes e variadas perfeições, e que todas estão eminentemente contidas n’Ele mesmo, sendo todas as excelências criadas apenas graus mínimos de Suas perfeições divinas e infinitas. Quando estiveres ocupado na contemplação de objetos grandiosos e nobres, reduz mentalmente a criatura ao seu próprio nada; fixando os olhos da tua mente no grande Criador ali presente, que lhe deu aquele ser grandioso e nobre, e deleitando-te só n’Ele, diz: “Ó Essência Divina, e acima de todas as coisas a ser desejada, como me alegro grandemente por que só Tu és o Princípio infinito de todo ser criado!”

Da mesma forma, ao veres árvores, plantas ou objetos semelhantes, entenderás que a vida que possuem não vem delas mesmas, mas do Espírito que não vês e que só a elas vivifica. Diz, portanto: “Eis aqui a verdadeira Vida, da qual, na qual e pela qual todas as coisas vivem e crescem! Ó Viva Alegria deste coração!”

Assim, ao veres animais irracionais, eleva teus pensamentos a Deus, que lhes deu sensação e movimento, dizendo: “Ó Tu, primeiro Movente de tudo o que se move, Tu mesmo és imóvel; como me alegro grandemente em Tua firmeza e estabilidade!”

E se fores atraído pela beleza da criatura, separa o que vês do Espírito que não vês, e considera que toda aquela beleza exterior é derivada unicamente do Espírito invisível que é sua fonte; e alegremente diz: “Eis aqui riachos da Fonte incriada; eis aqui gotas do Oceano infinito de todo bem. Ó, como se alegra o mais íntimo do meu coração ao pensar naquela Beleza eterna e infinita, que é a origem e o princípio de toda beleza criada!”

E ao descobrires em outros homens bondade, sabedoria, justiça ou virtudes semelhantes, faz a mesma separação mental e diz a Deus: “Ó Tesouro mais rico de todas as virtudes, como me alegro grandemente por que de Ti e através de Ti só flui toda a bondade, e que tudo, em comparação com Tuas perfeições divinas, é como nada! Graças Te dou, Senhor, por este e por todo dom que concedeste ao meu próximo; lembra-Te, Senhor, da minha pobreza e da minha grande necessidade desta mesma virtude.”

Quando estenderes a mão para fazer algo, reflete que Deus é a primeira causa dessa ação, e tu apenas Seu instrumento vivo; e, elevando teus pensamentos a Ele, diz assim: “Quão grande, ó supremo Senhor de tudo, é a minha alegria interior, por que sem Ti nada posso fazer, e que Tu és em verdade o primeiro e principal Operador de todas as coisas!”

Quando comeres ou beberes, considera que é Deus quem dá sabor ao teu alimento. Deleitando-te, portanto, só n’Ele, diz: “Alegra-te, ó minha alma, por que, assim como não há verdadeiro contentamento senão em Deus, assim só n’Ele podes em todas as coisas contentar-te.”

Quando teus sentidos forem gratificados por algum odor suave, não repouses nesse deleite, mas deixa que teus pensamentos passem ao Senhor, de quem essa doçura é derivada; e, interiormente consolado por este pensamento, diz: “Concede, ó Senhor, que, assim como me alegro porque toda doçura flui de Ti, assim também minha alma, pura e livre de todo prazer terreno, possa elevar-se às alturas como um suave odor que Te seja aceitável.”

Quando ouvires a harmonia de sons suaves, volta teu coração a Deus, dizendo: “Como me alegro, meu Senhor e Deus, em Tuas perfeições infinitas, que não só fazes uma harmonia supra-celestial em Ti mesmo, mas também unes os anjos no céu e todas as criaturas em um maravilhoso concerto harmonioso!”

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